Grupos de checadores de 17 países respondem Zuckerberg em carta
Agências de fact-checking alertam que fim do programa de fact-checking pode gerar "danos reais" em países altamente vulneráveis
Em carta aberta enviada à Mark Zuckerberg, vinte organizações de checagem de informação classificam como “retrocesso” a decisão da Meta de encerrar o programa de fact-checking. O documento alerta que o fim do programa causará "danos reais em muitos lugares".
"Acreditamos que a decisão de encerrar o programa de verificação de fatos da Meta é um retrocesso para aqueles que desejam ver uma internet que prioriza informações precisas e confiáveis", afirmam os checadores.
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O documento foi publicado pelo Instituto Poynter de Estudos de Mídia, dos Estados Unidos, uma organização sem fins lucrativos que fundou a Rede Internacional de Fact-Checking (IFCN).
Assinado por organizações de 17 países, o texto defende que o “acesso à verdade alimenta a liberdade de expressão". Os checadores também destacam que alguns dos países onde o programa funciona são "altamente vulneráveis à desinformação que incita instabilidade política, interferência eleitoral, linchamentos e até genocídio".
Em um vídeo nas redes sociais na terça-feira, Mark Zuckerberg, CEO e cofundador da Meta, anunciou que iria encerrar o programa de checagem de informações indepentente para o Threads, o Instagram e o Facebook. A medida, segundo ele, começa a valer nos Estados Unidos para depois ser expandida globalmente.
Zuckerberg alegou que o programa de fact-checking converteu-se em uma “ferramenta de censura” e que os profissionais que verificam informações nas redes "se tornaram politicamente tendenciosos". A Meta começou nesta semana a notificar checadores dos EUA sobre o fim dos contratos com a empresa.
No lugar da checagem independente, a big tech irá adotar modelo similar ao usado pelo X, de Notas da Comunidade. Nesse sistema, os usuários ficam responsáveis pela classificação do conteúdo que circula nas redes.
Padrões internacionais
Na carta ao magnata da tecnologia, os checadores defendem que a ferramenta da Notas da Comunidade pode coexistir com o programa de verificação de fatos de terceiros. Também argumentam que o enfraquecimento das salvaguardas de moderação é ruim para o próprio negócio da Meta.
"Se as pessoas acreditarem que as plataformas de mídia social estão cheias de golpes e boatos, elas não passarão tempo ou farão negócios nelas", afirma o texto.
Criada em 2016, a rede de checagem contava com ao menos 80 organizações, segundo a Meta. Os checadores, responsáveis por identificar desinformação em publicações, precisavam ser auditados e seguir padrões estabelecidos pela International Fact-Checking Network (IFCN).
Na carta, as organizações ressaltam que a Meta “sempre elogiou o rigor e eficácia” do processo. Também lembram que os checadores nunca tiveram autoridade para remover conteúdo, o que era uma responsabilidade da big tech.
"Pesquisas indicaram que os rótulos de verificação reduziram a crença e o compartilhamento de informações falsas", afirma o documento. "E, em seu próprio depoimento ao Congresso, o senhor (Mark Zuckerberg) se gabou do "programa de verificação de fatos da Meta ser líder da indústria", acrescenta, em referência a audiência do empresário, em 2021, após vazamento de documentos internos da empresa.
O grupo acrescenta que está “pronto” para trabalhar novamente com a Meta e ressaltam que a verificação é essencial "para manter realidades compartilhadas e discussões baseadas em evidências, tanto nos Estados Unidos quanto globalmente".