Guedes critica BC por alertas para cenário fiscal: 'Cometeu alguns erros'
Banco Central chama atenção recorrentemente para incertezas relacionadas às contas públicas
O ministro da Economia, Paulo Guedes, criticou o Banco Central (BC), nesta segunda-feira (19), pelos constantes alertas que a instituição faz sobre o cenário das contas públicas brasileiras. Ele disse que estava preocupado com os juros negativos que foram adotados por meses pela autoridade monetária, e não com a situação fiscal do país.
O Banco Central cometeu alguns erros. Primeiro, falando o ano inteiro no ano passado de risco fiscal, do “desajuste fiscal”. Ele (BC) passou o ano falando do fiscal quando, na verdade, nós estávamos indo para um superávit fiscal. Ele não percebeu essa mudança na estrutura da economia brasileira, afirmou o ministro, em entrevista à rádio Guaíba.
Os comunicados do Banco Central, quando toma uma decisão sobre os juros, alertam recorrentemente para a incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país. Ao longo do ano passado, uma grande preocupação do BC e do seu presidente, Roberto Campos Neto, foi a chamada PEC dos Precatórios, que abriu espaço fiscal para o Auxílio Brasil em 2022.
A PEC, que adiou o pagamento de dívidas da União e mudou o teto de gastos (principal norma fiscal do país, que trava as despesas federais), fez o dólar disparar no segundo semestre, o que contribuiu para a inflação.
O governo federal fechou 2021 com um déficit de R$ 35 bilhões, o menor em sete anos. Quando estados e municípios entram na conta, houve um superávit de R$ 65 bilhões, o primeiro resultado positivo em oito anos.
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"Ele (BC) estava preocupado com o fiscal e eu estava preocupado com o juro negativo. Eu fiquei preocupado com o juro negativo, porque a inflação subiu rápido. Graças a Deus, o Roberto Campos, que é um ótimo presidente do Banco Central, percebeu e acabou se adiantando e ficando à frente da inflação", afirmou.
O Brasil passou meses com juro real negativo, entre julho de 2020 e meados de 2021, em meio às consequências da pandemia de Covid-19. Isso significa que os juros estabelecidos pelo BC, a taxa Selic, são menores do que a inflação do país.
Nesta semana, haverá uma nova reunião do BC para decidir sobre os juros e a tendência é a manutenção da Selic a 13,75%.
Guedes disse que fazia críticas à diretoria do BC, e não ao seu presidente. O BC se tornou autônomo no ano passado e Campos Neto foi indicado por Guedes para a presidência do banco durante a transição para o governo em 2018.
"Quando eu falo do Banco Central eu falo da diretoria, não do presidente. Eu tenho um extraordinário relacionamento com ele e gosto muito dele, é muito competente. A diretoria do BC estava falando do fiscal enquanto eu estava preocupado com o monetário deles", disse, afirmando que o BC errou previsões como crescimento. "Foi um erro por não perceber que nós trocamos o eixo da economia."