Logo Folha de Pernambuco

Economia

Guedes quer ajuda da ala política para ajustar Orçamento e avalia vetos

O desenho final deixou o Orçamento sem recursos suficientes para despesas obrigatórias, que são demandadas por leis ou pela Constituição

Ministro da Economia, Paulo GuedesMinistro da Economia, Paulo Guedes - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O governo discute como vai resolver o impasse no Orçamento de 2021 enquanto o TCU (Tribunal de Contas da União) se prepara para elevar o tom e cobrar da Casa Civil ou do Ministério da Economia explicações sobre os procedimentos que levaram aos problemas nos números.

O texto foi aprovado pelo Congresso na última semana com menos recursos que o necessário para despesas obrigatórias, como aposentadorias. Isso ocorreu após o Ministério da Economia deixar de considerar a inflação atualizada nas contas e após parlamentares cortarem gastos para dar espaço a emendas.

O desenho final deixou o Orçamento sem recursos suficientes para despesas obrigatórias, que são demandadas por leis ou pela Constituição. Por isso, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ficou diante de um impasse jurídico para a sanção -que, no limite, pode gerar uma acusação de crime de responsabilidade.
 


O Ministério da Economia quer ajuda da ala política do governo para analisar alterações. A estratégia deve envolver inclusive o presidente Bolsonaro e os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Isso porque as alterações deverão passar pelo crivo do Congresso, que quis aprovar um Orçamento priorizando emendas parlamentares, especialmente para obras e projetos em suas bases eleitorais.

Membros da equipe econômica disseram à reportagem que o caminho mais adequado é Bolsonaro vetar aumentos em despesas incluídos pelos parlamentares. Posteriormente, o presidente enviaria um ou mais projetos de lei para repor a previsão de despesas obrigatórias.

Apesar de a saída ainda estar em discussão no governo, integrantes dizem que a solução é a que mais faz sentido diante da situação.

Técnicos farão uma varredura no projeto aprovado para saber exatamente o que pode ser vetado. Em alguns casos, o Congresso apenas ampliou recursos para obras e emendas.

Portanto, um veto pode inviabilizar um programa inteiro. Por exemplo, uma iniciativa de desenvolvimento urbano voltado à adequação viária, em vez de um projeto específico que foi turbinado pelos parlamentares.

Caso opte por vetos nas emendas, o governo deve enfrentar resistência no Congresso. Essa verba recebe a "digital" dos parlamentares e foi negociada inclusive por interlocutores de Bolsonaro para destravar a aprovação do Orçamento de 2021, que ocorreu com quase três meses de atraso.

Essas emendas dão ganhos políticos para deputados e senadores, de olho nas eleições de 2022. Esse capital eleitoral também atrai o governo, pois, com o desenrolar das obras, a avaliação de Bolsonaro tende a ser mais positiva.
O time de Guedes deseja uma solução rápida após o Orçamento de 2021 se arrastar por quase sete meses no Congresso antes da aprovação, gerando idas e vindas no debate sobre teto de gastos e provocando oscilações no humor de investidores.

Outra saída ventilada nos últimos dias, a reformulação de um Orçamento desde o começo, do zero, foi descartada pelo líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), em entrevista à Folha.

Entre os integrantes da equipe, a situação do Orçamento é vista com ineditismo. Isso porque eventuais confusões na formulação das propostas no passado eram ajustáveis devido à folga para o cumprimento das regras fiscais.
Agora, não há como acomodar os números sobretudo devido à regra do teto de gastos (que impede o crescimento real das despesas).

A saída pelos vetos ganha força também porque o TCU está acompanhando o assunto de perto. O tribunal entrou no assunto após uma representação sobre o Orçamento feita por deputados nesta segunda.

De acordo com relatos de integrantes do TCU feitos à reportagem, o tribunal deve fazer um levantamento dos problemas que levaram ao imbróglio. Mesmo que não haja uma posição conclusiva, o tribunal deve emitir um posicionamento "suficientemente duro" sobre o tema.

O documento está vinculado a um processo de relatoria do ministro Bruno Dantas que acompanha os efeitos da pandemia no Orçamento da União.

Antes disso, o caso será objeto de análise preliminar da unidade técnica do tribunal. Conforme integrantes do TCU, a área pode avaliar que seria um crime de responsabilidade Bolsonaro sancionar o Orçamento conforme o texto saiu do Congresso.

O Ministério da Economia deixou de considerar os números corretos da inflação no Orçamento de 2021. A proposta enviada ao Congresso em setembro considerava 2,09% para o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), que baseia o reajuste de despesas como aposentadorias e pensões.

O INPC fechou 2020 em 4,52%, conforme divulgação do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 12 de janeiro de 2021, o que elevou o volume de recursos demandados. Só nos benefícios previdenciários, por exemplo, a diferença elevou as despesas em R$ 8,5 bilhões.

O governo poderia enviar uma mensagem modificativa ao Congresso para "corrigir" o percentual antes da votação do Orçamento, como já foi feito em anos anteriores, mas não o fez. Com isso, o Orçamento já nascia com uma necessidade total de R$ 17,5 bilhões em cortes de despesas para haver cumprimento do teto de gastos.

Além disso, Congresso aprovou o Orçamento após um corte de R$ 26,5 bilhões na verba para a área social (abono salarial e seguro-desemprego), para Previdência Social (que paga aposentadoria, pensões e benefícios como auxílio doença) e subsídios para agricultura familiar. O projeto seguiu para sanção presidencial.

A tesourada permitiu que o volume de emendas parlamentares subisse de cerca de R$ 22 bilhões para R$ 48,8 bilhões.
O Orçamento foi aprovado na última quinta-feira (25) com o atraso de quase três meses. A demora obrigou o governo ficar numa espécie de piloto automático desde o começo do ano, executando recursos de forma restrita até o aval dos parlamentares.

A sanção do Orçamento vai permitir, por exemplo, que o governo antecipe para abril o início do pagamento da primeira parcela do 13º salário de aposentados e pensionistas do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). Essa é uma das medidas que o governo planeja para combater os efeitos econômicos da Covid-19.

Veja também

Minha Casa Minha Vida beneficia cidades com até 50 mil pessoas
moradia

Minha Casa Minha Vida beneficia cidades com até 50 mil pessoas

"Não vamos destruir valor, vamos manter o foco em petróleo e gás", diz presidente da Petrobras

"Não vamos destruir valor, vamos manter o foco em petróleo e gás", diz presidente da Petrobras

Newsletter