Ibovespa sobe 1,20%, aos 127,6 mil pontos, com presidente do Fed
Atenções se voltam agora para a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, após o fechamento do mercado, com expectativa também para manutenção da Selic
O Ibovespa teve ganho um pouco acima do limiar de 1% nesta quarta-feira, 31, de encerramento de julho, com foco na decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), em linha com o esperado - embora com algum ajuste na comunicação, especialmente na entrevista coletiva do presidente da instituição, Jerome Powell, que reforçou a expectativa para corte nos juros do Fed em setembro.
As atenções se voltam agora para a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, após o fechamento do mercado, com expectativa também para manutenção da Selic, em 10,50% ao ano, e atenção para possíveis variações nos termos do comunicado.
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O ânimo com o Fed, contudo, chegou a ser mitigado em direção ao fechamento, após o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, ter emitido uma ordem para o país atacar Israel diretamente, em retaliação pelo assassinato, em Teerã, do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, de acordo com três autoridades iranianas informadas sobre o assunto.
De acordo com relato do The New York Times, Khamenei deu a ordem em reunião de emergência do Conselho Supremo de Segurança Nacional, na manhã desta quarta-feira, pouco depois de o Irã ter anunciado que Haniyeh tinha sido morto, disseram as três autoridades iranianas.
Em discurso, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, não citou diretamente o ocorrido nesta quarta-feira, mas enfatizou que "acertará as contas" com qualquer um que prejudique o país.
As declarações foram feitas em transmissão televisiva, e publicadas pelo jornal The Times of Israel.
Assim, o aumento da percepção de risco geopolítico, no fim da tarde, tirou parte do brilho das declarações de Powell, que haviam sido recebidas com entusiasmo pelo mercado.
No melhor momento da tarde, o índice Nasdaq, de tecnologia, mais sensível à perspectiva para os juros americanos, mostrava alta na casa de 3% - no fechamento, Nasdaq +2,64%, S&P 500 +1,58% e Dow Jones +0,24%.
Nesta quarta, o Ibovespa saiu de mínima na abertura aos 126 139,21 pontos e chegou, na máxima do dia, aos 127.852,69 pontos (+1,36%). Ao fim, mostrava alta de 1,20%, aos 127.651,81 pontos, com giro a R$ 23,2 bilhões.
Na semana, o Ibovespa vira para o positivo (+0,12%) e fecha julho com ganho de 3,02% no mês, após avanço de 1,48% em junho.
Assim, com ganhos combinados nos dois últimos meses, o índice da B3 limita a perda do ano a 4,87%.
No período da tarde, Powell afirmou que um corte de juros pode estar em análise na reunião do Fed em setembro, caso a inflação continue a recuar em linha com as projeções.
"Eu acho que um corte na taxa pode estar na mesa na reunião de setembro", disse o presidente do Fed, mencionando a expectativa por dados de inflação e de emprego mais favoráveis.
Segundo Powell, há um "senso disseminado" no comitê de política monetária do Fed, o Fomc, de que os Estados Unidos estão chegando mais perto de começar a cortar os juros.
Hoje, o BC americano decidiu manter a taxa de referência inalterada, na faixa entre 5,25% e 5,50% ao ano, pela oitava vez consecutiva.
No comunicado posterior à decisão sobre juros - divulgado, como de costume, meia hora antes da coletiva de Powell -, o Federal Reserve manteve a avaliação de que os indicadores mais recentes sobre a atividade econômica mostram expansão ainda em ritmo sólido.
Porém, "os ganhos no emprego se moderaram, e a taxa de desemprego subiu, mas permanece baixa", acrescentou o Fed no comunicado sobre a decisão de política monetária, em que observou que a inflação também se suavizou, embora permaneça um tanto elevada.
"Nos últimos meses, tem havido algum progresso adicional em relação à meta de inflação do comitê, de 2%", reconheceu também o Fed.
Dessa forma, o Fed fez alterações nos dois primeiros parágrafos do comunicado desta quarta-feira, em comparação com a nota do encontro anterior, em junho. Logo no começo, o Fed alterou a avaliação sobre os ganhos recentes de emprego nos Estados Unidos, de "permaneceram fortes" para "moderaram".
A instituição também destacou que a taxa de desemprego "subiu, mas permanece baixa".
"A expectativa com relação ao Fed hoje era mesmo a de que começasse a preparar o terreno para cortes de juros nos próximos meses, e a dúvida era sobre como isso seria sinalizado", diz o economista Rodrigo Ashikawa, da Principal Claritas, referindo-se também à entrevista do presidente do Fed, Jerome Powell.
"Fed sinalizou progresso no cenário, e que o corte de juros está mais próximo. Contudo, manteve sua dependência dos dados futuros, apesar do progresso recente. Fed evita, assim, dar sinal efetivo sobre corte de juros na reunião de setembro. Momento ainda é de expectativa no mercado americano", aponta Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi).
"Boa parte das perguntas feitas na entrevista coletiva de Jerome Powell foram no sentido de questionar o ganho de confiança mencionado no comunicado.
O que se queria saber é: se a confiança aumentou, o que falta para começarem os cortes de juros?", diz Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos. "Segundo Powell, é preciso ver mais dados positivos antes de iniciar o processo de flexibilização.
Mas, de todo modo, ele enfatizou a mensagem do comunicado, dizendo que o Fomc ganhou mais confiança de que a inflação está convergindo para 2%."
Apesar das nuances interpretativas, "a leitura do mercado é de que o corte de juros em setembro está contratado, o que ajudou as bolsas a subir mais", logo depois do anúncio, resume Thiago Pedroso, responsável pela área de renda variável da Criteria.
Na B3, desde a manhã, o Ibovespa foi puxado pelas principais ações, Vale (ON +2,34%) e Petrobras (ON +2,71%, PN +2,07%, nas respectivas máximas da sessão no fechamento), em dia de avanço de 3,55% para o Brent com as tensões no Oriente Médio.
Assim, o setor de commodities mais do que compensou o desempenho majoritariamente negativo dos papéis de grandes bancos, como BB (ON -1,48%) e Itaú (PN -1,40%).
Além de Vale, o dia foi positivo também para outros nomes do setor metálico, como Gerdau (PN +1,28%) e CSN (ON +1,19%).
Na ponta ganhadora do Ibovespa, Weg (+10,47%), TIM (+6,84%) e Localiza (+4,26%).
No lado oposto, Hypera (-2,47%), JBS (-2,43%), Rede D'Or (-2,06%) e Marfrig (-1,91%).
Considerando o nível em que estava em dezembro de 2023, bem próximo então à máxima histórica nominal, renovada no penúltimo dia do ano passado, o Ibovespa, em dólar, acumulou no primeiro semestre perda de 19,80%, aos 22.172,49 pontos no fim de junho, comparada ao nível de 27.647,67 pontos do fechamento de 2023.
Agora, neste encerramento de julho, o índice da B3, em dólar, foi a 22.572,06, um pouco acima do nível em que estava no mês anterior, e ainda muito descontado.