Impacto de medidas para conter gastos pode ficar aquém e mudança no IR preocupa, dizem economistas
Para especialistas, pacote poderá ser insuficiente para acalmar investidores e taxa de câmbio poderá continuar em alta
Nas primeiras análises após o anúncio de medidas de contenção do crescimento dos gastos pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em pronunciamento oficial em cadeia nacional na TV, economistas avaliaram que o impacto financeiro nas contas do governo poderá ficar aquém do necessário. Além disso, causou preocupação o fato de que, junto das medidas, foram anunciadas as linhas gerais da reforma do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF).
Para Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados, o pacote de contenção de gastos está aquém das expectativas e das necessidades para um ajuste estrutural de longo prazo.
Agora, fica a dúvida se o governo conseguirá a economia de R$ 70 bilhões em dois anos, estimativa anunciada pelo governo, não poderá acabar desidratada após o anúncio da isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil.
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Vale acrescentou que as demais medidas anunciadas já estavam dentro do que esperavam os analistas, e, por isso, não deve conseguir acalmar o mercado nos próximos meses e até os próximos dois anos:
— É o início de discussão que o governo coloca, mas não tem espaço político e dentro do governo para conseguir muito mais do que isso. A gente vai precisar esperar 2027, num próximo governo para tocar em medidas muito mais estruturais, muito mais profundas (em relação aos gastos públicos).
Com IR, valores maiores
Para o diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado, Marcus Pestana, uma mudança na percepção de “deterioração” das contas públicas, que se espalhou pelos agentes econômicos no mercado, precisa de medidas que tenham impacto tanto em termos de valor quanto no sentido de serem permanentes. Misturar o assunto com a reforma do IRPF poderá exigir que esses valores fossem ainda maiores.
— Para lidar com o desajuste fiscal que se aguçou do fim de 2022 para cá e com a percepção subjetiva dos agentes econômicos relevantes, o governo tem que entregar um pacote relevante bastante consistente, inclusive, adicionalmente, compensando uma possível renúncia do Imposto de Renda — disse Pestana.
Na visão de Vale, da MB Associados, a forma como o governo conduziu o desenho das medidas afetou sua credibilidade junto aos agentes econômicos. Não foi por acaso, disse ele, que a reação do mercado levou o dólar a R$ 5,91 — com chances até de bater os R$ 6 nos próximos dias, disse Vale.
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No limite, o risco que o presidente Lula corre é inviabilizar as suas chances de reeleição em 2026, completou o economista, demonstrando ainda preocupação com a forma como o pacote sairá do Congresso:
— O governo está contratando um cenário econômico ao longo de 2025, com câmbio pressionado, inflação alta e juros altos, talvez até maiores do que estamos falando. Se de fato se confirmar um pacote muito inadequado, vamos ver a taxa de juros ir para 14%. E quem vai pagar o preço disso é o próprio governo.