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Sucroenergético

Índia amplia o uso do etanol

Presidente da Datagro, Plínio Nastari aponta que a medida pode apresentar ganhos econômicos e principalmente ambientais. Setor brasileiro pode contribuir para um melhor desenvolvimento por meio de parcerias

Plantação de canaPlantação de cana - Foto: Pixabay
A Índia deu um passo importante para a comercialização do etanol no país. O Ministro de Petróleo, Gás Natural e Aço indiano comunicou no último mês a autorização para as empresas do ramo distribuírem e comercializarem o produto no país. A notícia foi vista de forma positiva não só para os indianos, mas também para o mercado brasileiro, já que a decisão foi vista como uma oportunidade para o Brasil oferecer, por exemplo, o conhecimento do setor nacional na produção, distribuição e consumo do etanol, além da tecnologia “Total Flex” disponível nos carros brasileiros.
 
A decisão foi vista como positiva para especialistas do setor, como o presidente da consultoria Datagro, Plínio Nastari. Segundo ele, a Índia gera excedentes de produção que são exportados com subsídios do governo, afetando assim o mercado internacional. A exportação de açúcar com subsídios influencia na formação de preços da commodity, estabelecido num valor menor e prejudicando o mercado todo o mercado mundial.
 
“Os preços são regulados pelo governo para açúcar, álcool, cana, uma situação semelhante ao que o Brasil tinha até 1989, sob a égide do Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA). A Índia tem um contingente de 53 milhões de produtores de cana. Como é uma cultura agrícola de grande alcance social, econômico e político, o preço regulado visa estimular a produção e oferecer uma renda para o produtor. Esse preço, via de regra, faz com que a Índia produza mais cana do que o necessário para abastecer seu mercado interno, gerando excedentes”, disse.
 
Nastari conta que o subsídio permite a comercialização por um preço menor, e que na safra 2020/2021 o país aprovou novamente uma cota de exportação subsidiada de 6 milhões de toneladas de açúcar. “Como geram excedente, o governo oferece um subsídio para exportação por três anos consecutivos, que nessa safra foi de 6 milhões de toneladas de açúcar. O subsídio permite que o preço de paridade de exportação caia de 19,71 para 15,65 centavos de dólar por libra peso na condição FOB, segundo cálculos da DATAGRO”, contou.
Presidente da Datagro, Plínio Nastari Presidente da Adagro, Plínio Nastari

Com a medida adotada de uso do etanol, Nastari afirma que a Índia pode utilizar o excedente de açúcar para transformá-lo em etanol, tendo assim mais vantagens, com impactos positivos na redução da dependência energética, impacto no meio ambiente, e solução para o excedente de produção de açúcar. 
 
“A índia é dependente de consumo e importação de petróleo, 85% da demanda de petróleo e derivados é importada, com dispêndio de cerca de 110 bilhões de dólares ao ano com importação de petróleo e derivados. Além disso, dentre as 50 cidades mais poluídas do mundo, 25 estão na Índia, avaliada pela concentração de material particulado fino. A grande oportunidade na Índia é usar o excedente de cana para transformá-lo em etanol e substituir a dependência pelo derivado de petróleo, melhorar o ar e a saúde das pessoas, gastando menos recursos”, acrescentou Nastari.
 
O presidente da Datagro, afirma que o Brasil pode contribuir com a troca de conhecimento maior para que o etanol seja mais utilizado no país. “Em janeiro a Índia decidiu antecipar a adoção dos 20% de etanol na gasolina de 2030 para 2025 e já houve o anúncio da distribuição de álcool puro nas bombas. Ainda não tem impacto, mas haverá no médio e longo prazos, abrindo a possibilidade de ser formada uma frota flex, assim como no Brasil. Pode também haver uma transferência de tecnologia e serviços, tanto para o etanol, como para fabricação de automóveis capazes de usar etanol de forma eficiente”, destacou Plínio Nastari.
 
Venda do etanol indiano pode abrir mercados para o Brasil
Do total de mais de 2 bilhões de litros de etanol que o Brasil exporta, apenas 70 milhões vão para a Índia, segundo a Secretaria de Comércio Exterior. Para o Presidente-executivo da Associação de Produtores de Açúcar, Etanol e Bioenergia (NovaBio), Renato Cunha, uma parceria com a Índia deverá estimular o comércio de energias agroambientais.
 
“A Índia pode ela mesma fabricar e se inserir no mercado e a gente fazer transferências tecnológicas e industriais, como uma troca de conhecimentos. Existe uma possibilidade de parceria em exportações de etanol até que amadureçam o uso do etanol lá, e que amadureçam seu mercado, estabelecendo-se uma ampliação das parcerias que já existem de forma tímida nas atuais exportações. É um país com grande mercado consumidor, precisa das energias limpas, já que depende muito de petróleo e derivados. A medida recém adotada pelo governo indiano de acelerar o cronograma de uso do etanol pelo país vai fomentar o aumento do uso final de um combustível veicular tão nobre, exatamente por promover ganhos ambientais”, declarou Cunha.
Renato Cunha, presidente da NovaBio e do Sindaçúcar PernambucoPresidente da NovaBio, Renato Cunha

“A Índia é um país que produz e consome muito açúcar. Sua cultura alimentar envolve o açúcar e é o segundo maior produtor, com geração de excedentes e fica mandando para destinos que o Brasil também envia. Pelo fato de só fazer açúcar, satura o mercado internacional. Essa atitude é favorável para melhor regulação do mercado, de um equilíbrio no mercado internacional do açúcar, já que as necessidades de exportação com subsídios pela Índia tenderão a uma grande diminuição”, finalizou o presidente da NovaBio.

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