Inflação: BC eleva possibilidade de estouro do teto da meta em 2023
Autoridade monetária aumentou de 46% pra 57% a probabilidade da alta de preços superar o limite de 4,75%, no que poderá ser o terceiro ano seguido fora da meta
O Banco Central (BC) projetou risco de estouro da meta da inflação de 2023 em 57%, de acordo com dados do relatório de inflação divulgado nesta quinta-feira. Essa é a segunda revisão consecutiva para cima – a projeção anterior era de 46% da alta de preços superar o limite da meta. Se esse cenário se concretizar, será o terceiro ano consecutivo de estouro da meta.
A pressão nos preços no curto prazo, sobretudo dos alimentos, e os impactos tributários no custo de combustíveis e energia foram determinantes para a nova previsão.
A meta de inflação para 2023 é de 3,25%, com variação de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. A projeção de inflação do BC para o próximo ano é de 5%.
A meta já havia sido estourada em 2021, quando o limite superior era de 5% e o IPCA terminou o ano em 10,06%. Para 2022, a meta é 3,5% com teto de 5%, e a última projeção do boletim Focus foi de 5,79%.
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Em 2021, o presidente do BC teve de escrever uma carta para justificar o resultado inflacionário fora do intervalo estimado – o resultado foi de 10,06% enquanto a meta era de 3,75%.
Para 2022, o BC reconhece que não há chance de reduzir a inflação – a projeção da autoridade monetária é de que o ano encerre com inflação de 6%, enquanto a meta de inflação era de 3,5%, com intervalo de 1,5 p.p. para cima ou para baixo. Com isso, Roberto Campos Neto terá de escrever outra carta, já em janeiro, para explicar o resultado.
A autoridade monetária aumentou as projeções de inflação para 2022, 2023 e 2024 – apenas a expectativa para 2025 se manteve ancorada no mesmo patamar do último relatório, divulgado em setembro.
Segundo o BC, as principais razões para as revisões estão relacionadas aos “efeitos diretos, de redução e de aumento da inflação das medidas tributárias sobre combustíveis, energia elétrica e telecomunicações”. O preço dos alimentos, no cenário de curto prazo, também exerceu pressão.
“Não se concretizou parte da redução esperada nas tarifas de energia elétrica residencial, decorrente da retirada de itens da base de cálculo do seu ICMS”, diz o documento, que acrescenta: “houve alta substancial nos preços de alimentos in natura, associada a chuvas mais fortes e mais cedo do que o esperado”.
O cenário do BC considera a reversão do corte de impostos federais sobre os combustíveis, cuja vigência acaba no final deste ano e considera uma mudança mais ampla na base de cálculo do ICMS sobre combustíveis, energia elétrica e telecomunicações.
“O impacto ao consumidor projetado está concentrado em janeiro, mitigando parcialmente a reversão de impostos federais e a alteração na base de cálculo do ICMS sobre combustíveis. Além do impacto tributário sobre combustíveis, a inflação mais elevada prevista para o trimestre encerrado em fevereiro também reflete o padrão sazonal, que tipicamente implica altas mais fortes de alimentos in natura e reajustes de mensalidades escolares e de tarifas de transporte público”, diz o BC.
No longo prazo, também influenciam uma estimativa de hiato de produto mais fechado, a redução do preço das commodities, especialmente petróleo, e as incertezas em relação à economia.