Inflação desacelera para 0,47% em maio e fica em 11,73% em 12 meses
No ano, indicador acumula alta de 4,78% e já superou meta de 3,5% estabelecida pelo governo
A inflação avançou 0,47% em maio, segundo dados do IPCA divulgados pelo IBGE nesta quinta-feira (9). O resultado indica uma desaceleração do indicador em relação ao mês de abril, quando o IPCA registrou alta de 1,06%. Ainda assim, os preços seguem pressionados ao consumidor: em 12 meses, o índice ficou em 11,73%.
O resultado veio ligeiramente abaixo do esperado. Analistas econômicos esperavam alta de 0,60% no mês e 11,84% em 12 meses.
O grupo Habitação foi o único a apresentar queda na passagem de abril para maio, com recuo de 1,70%. O segmento contribuiu para a desaceleração do indicador por conta da queda de 7,95% da energia elétrica residencial, em função do fim da cobrança da bandeira de escassez hídrica, que acrescentava R$ 14,20 no preço final das contas de luz a cada 100 kWh (quilowatts-hora) consumidos.
Com a vigência da bandeira verde a partir do dia 16 de abril, em que não há cobrança adicional na conta de luz, a energia elétrica residencial teve um impacto de -0,36 ponto percentual sobre o índice.
Leia também
• Pequenos negócios geraram 76% das vagas de emprego em 2022
• Inflação medida pelo IGP-DI fica em 0,69% em maio, diz FGV
• OCDE: guerra afetará o crescimento mundial e provocará disparada da inflação
Produtos farmacêuticos e passagens aéreas puxam alta
A alta registrada em maio foi puxada pelo grupo Transportes (1,34%) em função dos preços das passagens aéreas, que subiram 18,33% em maio e já haviam subido 9,48% em abril. O grupo de Saúde e cuidados pessoais avançou 1,01%, puxado pela alta dos produtos farmacêuticos que subiram 2,51% por conta do reajuste de até 10,89% autorizado em abril.
"A alta deve-se a dois fatores: elevação dos custos devido ao aumento nos preços dos combustíveis e pressão de demanda, com o aumento do consumo, após um período de demanda reprimida por serviços, especialmente aqueles prestados às famílias. Isso impacta, também, alimentação fora do domicílio e itens de cuidados pessoais", explica o gerente do IPCA, Pedro Kislanov.
O grupo Vestuário registrou alta de 2,11%, puxado pelo aumento dos preços de roupas masculinas, femininas e infantis, além de calçados.
"Todos esses itens subiram acima de 2% em maio. Temos observado uma alta nos preços de Vestuário desde o ano passado. Teve uma alta no custo de insumos como o algodão, mas também uma inflação de custos por conta dos preços de combustíveis e energia elétrica", sinaliza Kislanov.
Preços dos alimentos sobem, mas em menor intensidade
O grupo de Alimentos e bebidas desacelerou de 2,06% em abril para 0,48% em maio. Kislanov explica que produtos que vinham subindo bastante tiveram quedas expressivas em maio, a exemplo do tomate (-23,72%), da cenoura (-24,07%) e da batata-inglesa (-3,94%).
"Agora começamos o período de outono-inverno que é mais seco e permite aumentar a oferta de alimentos e reduzir os preços. Outro fator é que os preços de alguns alimentos, como a cenoura (116,37% em 12 meses), subiram muito, o que faz com que a base de comparação seja muito alta. Já o preço do leite continua subindo, devido ao período de entressafra, com pastagens mais secas, e à inflação de custos com a elevação dos preços de commodities como milho e soja, usadas na ração animal", esclarece o gerente do IPCA.
Depois de altas expressivas em abril por conta dos reajustes nas refinarias em março, os preços dos combustíveis registraram desaceleração em maio. A perda de intensidade ocorreu devido especialmente à gasolina, que passou de 2,48% em abril para 0,92% em maio.
"Houve, inclusive, queda no preço do etanol (-0,43%), após uma alta de 8,44% em abril. Apesar da desaceleração dos combustíveis em geral, o óleo diesel teve uma alta de mais de 3%. Só que o produto tem um peso pequeno no IPCA, impactando mais transportes pesados como caminhões e ônibus", destaca Kislanov.
Perspectivas
Economistas projetam que a inflação encerrará o ano de 2022 perto de 9%, de acordo com a última divulgação do relatório Focus, documento publicado na última segunda-feira pelo Banco Central (BC). Caso seja confirmado, 2022 será o segundo ano seguido em que o Banco Central não consegue cumprir a meta de inflação. O BC já havia admitido em março alta probabilidade de descumprimento da meta.
A meta de inflação deste ano é de 3,5% com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual (p.p). Em março. Para 2023, a mediana das expectativas aponta para IPCA em 4,39%. A meta para o próximo ano é de 3,25%, com piso de 1,75% e teto de 4,75%.