Inflação dos alimentos no ano é a maior desde o Real
Em 12 meses, a carne bovina subiu 38%, a suína ficou 48% mais cara, e a de frango teve reajuste de 27%
O consumidor sofre uma pressão nos alimentos até então não registrada nas décadas recentes. A inflação acumulada neste ano e nos últimos 12 meses está com as maiores evoluções desde a implantação do Real, em 1994.
A pressão é tão forte que supera a das crises de 2003 e de 2008, até então os maiores picos de alta neste segmento.
A Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) divulgou nesta quarta (4) alta de 2,51% nos alimentos em outubro, o que elevou o acumulado do ano para 11,26% e o dos últimos 12 meses para 16,41%.
A inflação média do mês passado foi de 1,19%, e a acumulada no ano, de 3,72%, segundo a Fipe, que coleta preços no varejo da cidade de São Paulo.
O pico deste ano, embora tenha praticamente os mesmos itens de pressão da inflação das crises anteriores, difere nos motivos. Nas anteriores, a pressão era mundial. Na atual, é interna.
Embora o país continue produzindo safras recordes todos os anos, o excesso de exportação, devido ao câmbio favorável, reduz a oferta interna e pressiona os preços.
Em 2008, a crise mundial dos alimentos foi provocada por secas, oferta menor e aumento de custos na produção. Renda menor e queda no consumo levaram um número maior da população mundial para a linha da pobreza.
Em 2003, também por quebra de safra e abastecimento mundial precário, os preços subiram. Na lista das altas no Brasil, naquele ano, arroz e óleo de soja, provocadas pela elevação do dólar.
A história se repete neste ano, mas com intensidade ainda maior. Nos últimos 12 meses, os consumidores paulistanos pagaram 63% mais pelo arroz, 96% mais pelo óleo de soja e 46% mais pelo feijão.
O reajuste de preços neste ano se estende para praticamente todos os setores da alimentação, muitos deles com a oferta interna reduzida devido às exportações. Outros tiveram a produção afetada pela pandemia.
A soja, o carro-chefe da agricultura brasileira, já soma exportações recordes de 82 milhões de toneladas neste ano. Com isso, a escassez interna da oleaginosa elevou os preços inclusive dos óleos vegetais concorrentes. Os de milho e de girassol tiveram reajustes de 30% e 28%, respectivamente, nos últimos 12 meses.
O recorde de exportação de proteína animal também traz consequências para o bolso do consumidor. Em 12 meses, a carne bovina subiu 38%, a suína ficou 48% mais cara, e a de frango teve reajuste de 27%.
Leia também
• Cesta básica no Recife tem alta de 5,05%
• Alta nos preços impõe troca de carne por ovo e pedido por cesta básica nas redes sociais
• Ministério da Justiça notifica supermercados para explicarem alta de itens da cesta básica
As principais elevações de preços ocorrem nos itens mais populares, consumidos pela população de renda menor. No caso da carne bovina, vem de acém, músculo, paleta e fígado. Todos tiveram altas superiores a 45% nos últimos 12 meses.
O açúcar, embora em ritmo menor, também sofre o efeito das exportações. O produto ficou 13% mais caro nos últimos 12 meses na cidade.
O mercado de leite tem um desequilíbrio entre oferta e demanda. Com isso, os preços no campo são recordes neste ano e registram aumento real de 57%, segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).
O aumento dos produtos no campo provoca aceleração também nos industrializados. Os derivados de carnes e de leite tiveram reajustes de até 46% de novembro de 2019 a outubro de 2020.
Frutas e legumes também puxam a lista dos maiores gastos dos consumidores. As altas foram de 13% e 17% neste ano, bem acima da inflação média de 3,7%. Efeitos da pandemia na produção e da alta do dólar, que resulta em aumento de custos, sustentam a alta.