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Economia

Inflação para os mais ricos deve subir com retomada de serviços

É que esse segmento da economia tem um peso maior na cesta de consumo das famílias que recebem mais dinheiro

Supermercado Supermercado  - Foto: Pixabay

A inflação deve ganhar força, até o final do ano, entre os brasileiros mais ricos, dizem analistas. Ao longo da pandemia, a parcela da população com renda mais alta sentiu um avanço menor dos preços, mas o cenário tende a apresentar alterações a partir da retomada do setor de serviços.

É que esse segmento da economia tem um peso maior na cesta de consumo das famílias que recebem mais dinheiro.

Durante a crise sanitária, a prestação de serviços diversos, incluindo operações de bares, restaurantes e hotéis, foi duramente abalada pelas restrições para frear a Covid-19.


Agora, no embalo da vacinação e da maior circulação de consumidores, o segmento enxerga um horizonte melhor para os negócios nos próximos meses.

Com a demanda mais aquecida, a perspectiva é de preços mais altos até dezembro, trazendo reflexos para as famílias com renda elevada.

Dados levantados pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) ajudam a entender esse quadro.
Segundo o instituto, os chamados serviços livres (atividades diversas ofertadas no mercado) respondem por 50,1% dos gastos no orçamento das famílias com renda considerada muito alta no país -aquelas cujo rendimento mensal domiciliar é maior do que R$ 17.764,49.

Trata-se do maior percentual entre as seis faixas de renda pesquisadas pelo Ipea. Na cesta de consumo das famílias com rendimento muito baixo (menor de R$ 1.808,79), o peso dos serviços livres é de 25,8%.

Como o orçamento dessa camada é bem mais restrito, o dinheiro é direcionado especialmente a despesas básicas para a sobrevivência -alimentação em casa, energia elétrica, gás de cozinha, transporte público e aluguel.

Em outras palavras, a renda dos mais pobres não permite o consumo de muitos serviços, situação oposta à dos mais ricos.

Na pandemia, as famílias com rendimento muito baixo amargaram a principal alta nos preços, segundo o Ipea. No acumulado de 12 meses até agosto, a inflação foi de 10,63% para a cesta consumida pelos brasileiros mais pobres.

Enquanto isso, a variação entre as famílias com renda muito alta atingiu 8,04%. Foi a menor entre as seis faixas de rendimento analisadas.

Maria Andreia Parente Lameiras, técnica de planejamento e pesquisa do Ipea, diz que a distância entre a inflação desses dois grupos deve ser encurtada até dezembro.

É que, além da possível aceleração para os mais ricos, o acumulado dos mais pobres tende a perder um pouco de gás, especialmente por um efeito estatístico.

Na reta final do ano passado, lembra a pesquisadora, houve um repique nos preços de alimentos, o que atingiu em cheio quem ganhava menos. Nos últimos meses de 2021, espera-se que esses produtos sigam em alta, mas em um patamar um pouco mais baixo.

"A curva da inflação acumulada para os mais pobres deve baixar um pouco, mas ainda em um patamar muito elevado", aponta Maria Andreia. "Para os mais ricos, a curva tende a acelerar", completa.

Segundo ela, os serviços livres acumulam inflação de 2% em 12 meses até agosto. Até dezembro, a projeção é de aceleração para perto de 5%, afirma a pesquisadora.

Conforme o Ipea, os serviços livres são compostos por sete grupos. São os seguintes: serviços de alimentação fora do domicílio, serviços na residência, transportes, saúde, serviços pessoais, educação e comunicação.

Entre os mais ricos, a principal influência é a dos serviços pessoais, que reúnem atividades como manicure, cabeleireiro, clubes, casas noturnas, hospedagens e cinema. Esse segmento tem peso de 16,9% no orçamento de quem ganha mais. Entre os mais pobres, é de 4,4%.

"O setor parou e está começando a voltar. A gente espera que os serviços pessoais, tão afetados pela pandemia, comecem a ter alguma margem para recompor os preços", aponta Maria Andreia.
"A demanda está voltando justamente no momento em que os custos sobem com a energia elétrica mais cara", acrescenta.

O economista André Braz, pesquisador do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), também enxerga uma inflação mais alta para os mais ricos até o final do ano, além de alguma perda de fôlego para os mais pobres.

"Em 2020, a inflação estava muito concentrada em alimentos. Hoje, existe um espalhamento maior. Isso vai fazer as famílias mais ricas perceberem uma inflação mais alta", comenta Braz.

"Até o final do ano, a inflação dos alimentos pode perder fôlego, mas não tanto, devido à crise hídrica [a seca danificou lavouras e impactou preços]. É provável que os mais pobres sintam algum alívio, mas o quadro não deve mudar muito para eles."

A preocupação de analistas com a pressão inflacionária ganhou novo capítulo nesta sexta-feira (24), após a divulgação do IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) de setembro.

O indicador, conhecido como prévia da inflação oficial, acelerou para 1,14% neste mês. Foi a maior alta para setembro desde o início do Plano Real, em 1994, quando ficou em 1,63%.

"Cada camada da população sente a inflação de uma maneira diferente. A questão é que a faixa mais rica tem condições de passar por este momento com uma renda capaz de garantir conforto. O padrão de consumo dos mais ricos está mais relacionado a serviços", afirma Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.

"A população mais pobre sente a inflação de maneira mais crítica. Há o impacto em gastos para subsistência".

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