ESTUDO

Instituto Escolhas mapeia e analisa agricultura urbana do Recife

Levantamentos trazem recomendações à gestão pública nacional e também dados inéditos sobre o potencial de produção de alimentos e seus benefícios

Tanques produtivos na Ilha de Deus, no RecifeTanques produtivos na Ilha de Deus, no Recife - Foto: Acervo Instituto Escolhas/Eco-rural

O Instituto Escolhas – associação civil sem fins lucrativos que desenvolve e compartilha estudos e análises sobre o desenvolvimento sustentável – está publicando um levantamento no qual mostra que a agricultura praticada nos centros urbanos precisa sair da invisibilidade. A atividade, destaca o estudo, precisa ser claramente posicionada como uma das estratégias de promoção da segurança alimentar nas cidades. A pesquisa é centrada em três capitais brasileiras: Recife (PE), Curitiba (PR) e Rio de Janeiro (RJ).

De acordo com a análise, intitulada “Como o Governo Federal pode apoiar os municípios no fomento à produção local de alimentos?”, a Agricultura Urbana e Periurbana (AUP), além da geração de renda para agricultores – em sua maior parte, pequenos produtores – aumenta a disponibilidade física e financeira de alimentos para quem mora nos centros urbanos.

A AUP também promove, segundo o estudo, maior resiliência dos mercados locais a crises de abastecimento; ajuda a reduzir o desperdício de alimentos e dos custos durante a distribuição e comercialização; fomenta a valorização da cultura alimentar local e regional; e permite o aumento de áreas verdes urbanas, essenciais à mitigação dos efeitos da crise climática, já que reduz a temperatura local.

Ainda, segundo o estudo, a AUP contribui para a gestão dos resíduos sólidos orgânicos urbanos, que podem ser utilizados no processo produtivo. Os levantamentos trazem recomendações à gestão pública nacional – considerando a implementação do Programa Nacional de Agricultura Urbana e Periurbana (lançado em setembro) – e também dados inéditos sobre o potencial de produção de alimentos e seus benefícios.

As três cidades estão no topo do ranking das mais urbanamente adensadas do país. Dentre os 5.570 municípios brasileiros, o Recife está em 12º (com mais de 6 mil pessoas por km2); Curitiba, em 23º (com mais de 4 mil habitantes por km2); e o Rio de Janeiro, em 18º lugar (com mais de 5 mil por km 2).

As perguntas sobre a ocupação da agricultura nesses três municípios e se há espaço para que ela se desenvolva são respondidas pelo estudo. “A resposta é: sim, há uma expressiva agricultura já praticada dentro do perímetro urbano das três cidades, como mostram não apenas os dados dos estabelecimentos agropecuários identificados pelo Censo Agropecuário de 2017, mas também os polígonos de agricultura mapeados por este estudo via imagens de satélite”, diz o documento.  

O estudo foi ainda mais longe e identificou como as três cidades vêm impulsionando a atividade, quais são seus principais desafios, quais os custos envolvidos e como o Governo Federal poderia apoiar as ações municipais. Os estudos de caso contaram com o apoio de parcerias firmadas entre o Escolhas e as respectivas prefeituras.

Para o Recife, por exemplo, o atendimento absoluto das 348.863 pessoas em situação de pobreza exigiria a ocupação de 27% das áreas em potencial mapeadas. De acordo com a gerente de Portfolio do Instituto Escolhas, Jaqueline Ferreira, a capital pernambucana possui 242 estabelecimentos agropecuários que somam 837 hectares, segundo o IBGE; 78% desses estabelecimentos já possuem horticultura (legumes e verduras), principalmente quiabo, milho verde e alface.

Jaqueline: "O Recife possui 242 estabelecimentos agropecuários que somam 837 hectares  Foto: Anna Carolina Negri/Arquivo Escolhas

“E se a gente aumentasse essa produção? Por meio de imagens de satélite, o estudo identificou áreas ociosas subutilizadas que poderiam ter o potencial de receber novas unidades produtivas e produzir mais alimentos na cidade do Recife, um total de 404 hectares”, acrescentou Jaqueline.

Ainda de acordo com a gerente do Escolhas, se 5% desses espaços fossem utilizados para aumentar a produção de alimentos, o Recife produziria 1.303 toneladas e abasteceria 63 mil pessoas por ano. “Essa produção poderia gerar uma receita de R$ 8 milhões por ano e trabalho para 404 pessoas. Repito, isso em apenas 5% dos espaços mapeados pelo estudo”, alertou.

De 2024 a 2030, o investimento anual para implantação de novas unidades produtivas no Recife, também em 5% dos espaços mapeados, seria de R$ 745.909, levando-se em conta o número de 29 unidades implantadas a cada ano. De acordo com o estudo, à medida que o Brasil e o mundo caminham para abrigar uma população cada vez mais urbanizada, a discussão sobre alimentação nas cidades torna-se cada vez mais urgente.

Com o aumento dessa urbanização, também se urbanizam a fome, a pobreza e a insegurança alimentar e nutricional, alega o Escolhas. “Dos 33 milhões de pessoas que não tinham o que comer no Brasil de 2022, 82% viviam em áreas urbanas”, registra o o documento.

O estudo traz, entre outros dados relevantes, os resultados da simulação do fomento à produção nas três cidades, identifica os principais gargalos relacionados a iniciativas e programas municipais de fomento à AUP, faz um mapeamento da agricultura nas cidades analisadas e mostra o potencial de produção e receita em cada uma das três cidades, considerando 5%, 10% e 20% dos espaços potenciais mapeados.

Defende, ainda, propostas para um novo modelo de desenvolvimento urbano dialoguem com a construção de sistemas alimentares mais saudáveis, equitativos e sustentáveis, que, por sua vez, encontram caminhos para sua viabilização também a partir do fomento à agricultura urbana e periurbana.

Os dados e propostas trazidos pelo estudo convidam o Governo Federal a repensar as políticas públicas de fomento à produção de alimentos de modo que elas não excluam os territórios urbanos. A ideia é também “apoiar governos municipais na integração da produção de alimentos em suas agendas urbanas, seja para enfrentar o desafio de alimentar 27 milhões de brasileiros com fome nas cidades, seja para incentivar um novo modelo de desenvolvimento urbano mais saudável e sustentável”.

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