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TECNOLOGIA

Inteligência artificial ganha ainda mais espaço na medicina privada

Planos de saúde e hospitais credenciados desenvolvem soluções de inteligência artificial que vão do combate a fraudes ao cruzamento de dados em prontuários digitais, para agilizar os atendimentos e reduzir os altos custos do setor

Soluções de IA para saúde vão do combate a fraudes até cruzamento de prontuários Soluções de IA para saúde vão do combate a fraudes até cruzamento de prontuários  - Foto: Freepik

Robôs que detectam risco de câncer, previnem faltas em exames, suspeitam de fraudes ou fazem pré-triagem de pacientes. Depois de agilizar o atendimento aos consumidores, a inteligência artificial (IA) vem ganhando mais espaço na saúde privada, com operadoras de planos e hospitais credenciados criando soluções que podem economizar milhões e serem vendidas de uma empresa para a outra.

Hospitais sempre tiveram um grande volume de dados dos pacientes, que eram usados mais para facilitar processos administrativos. A primeira evolução veio com o prontuário digitalizado, facilitando o cruzamento de dados médicos. Agora, a IA generativa ajuda nas análises, em busca de maior eficiência operacional num setor de custos altos.

No Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, duas ferramentas foram criadas internamente. Uma mapeia o potencial risco de câncer em exames, notificando a equipe médica do paciente. O índice de continuidade do tratamento desde a implementação aumentou em 26%.

 

A outra é a NoShow, que reduz faltas de pacientes em exames de alto custo, como ressonância magnética e tomografia. A IA analisa informações do paciente agendado — como profissão, onde mora, idade e o tempo desde o pedido médico — e identifica a probabilidade de ele não comparecer. Desde que passou a ser usada, a ferramenta já reduziu o índice de falta em 20%, o que garantiu uma economia de R$ 6 milhões anuais ao hospital.

— Entramos em contato no dia anterior para confirmar se a pessoa (com risco de falta) vem. Se não, remarcamos, e uma vaga é liberada para a fila de espera. São equipamentos caríssimos e que, se estão parados, viram desperdício — diz Ailton Brandão, diretor de TI, Dados e Digital do hospital.

O sistema foi desenvolvido com a empresa de software In2Life e será licenciado para outros hospitais e clínicas.

Confiabilidade
Usar a expertise e o volume de dados disponíveis para desenvolver soluções de IA e diversificar o negócio também é um caminho seguido pela Mater Dei. Depois da abertura de capital, em 2021, a rede mineira de hospitais comprou a 3Data, de IA e inteligência de dados, e desenvolveu o aplicativo Maria.

Um robô conversa com o usuário num chat e pergunta sobre sintomas, mas não substitui o profissional de saúde: depois de analisar as informações, Maria encaminha o caso à equipe de médicos e enfermeiros que atendem on-line ou orienta o usuário a buscar uma unidade de saúde, dependendo da gravidade.

A ferramenta foi primeiro usada pelos próprios profissionais da rede, em testes para evitar que a IA seja preconceituosa ou “alucine”, ou seja: dê respostas equivocadas. Matheus Magalhães, gerente de Inovação e Novos Negócios da companhia, explica que Maria aprende com as informações dos usuários e os diagnósticos das equipes para alimentar o prontuário digital do paciente.

— Também fizemos um piloto, com taxa de sucesso de 84%, e agora estamos no mercado vendendo a Maria, tanto o software para outras instituições de saúde, quanto o modelo híbrido com a nossa equipe em chat — conta Magalhães.

A solução está disponível para empresas clientes da Mater Dei, como Localiza ou Cemig Saúde. No caso da operadora de planos da estatal mineira de energia, Maria atende 1,5 mil dos 57 mil funcionários da carteira, em diferentes cidades do interior de Minas, onde a Mater Dei não tem unidades.

— Ainda temos um desafio, que é fazer as pessoas baixarem o aplicativo, mas quem acessa interage principalmente para tirar dúvidas, renovar receitas e resolver casos simples, como gripe. A taxa de resolução é de 89% — destaca Juliana Albuquerque, gerente de Saúde da Cemig Saúde.

A consultoria canadense Precedence Research estima que o mercado global de IA para serviços de saúde tenha movimentado US$ 26,7 bilhões (cerca de R$ 156 bilhões) no ano passado, com perspectiva de crescer 37% ao ano na próxima década.

No Brasil, um estudo da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) em parceria com a Associação Brasileira de Startups de Saúde (ABSS) mostrou no ano passado que 62,5% das instituições usam a IA de alguma forma. Os investimentos são principalmente em chatbots de atendimento, ampliação da segurança da informação, apoio à decisão clínica e aperfeiçoamento nas análises de imagens médicas.

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Para Jacques Moszkowicz, sócio da Strategy&, da consultoria PwC, as soluções de IA na saúde privada ainda estão em “aperfeiçoamento”, e o desafio é usar a tecnologia para reduzir os custos ao consumidor:

— As empresas do setor vêm investindo em IA para maior efetividade, mas ainda de forma incipiente, e principalmente nos grandes players. A questão é como isso vai democratizar o acesso, com um serviço com mais eficiência, eficácia e amplitude, mas que ao mesmo tempo reduza custos. O tratamento pode ser altamente tecnológico e inovador, mas ainda muito custoso.

Chegar a índices globais
Entre os planos de saúde, a IA é usada principalmente no combate a fraudes e desperdícios, que consomem de 11% a 12,7% dos gastos das operadoras, calculou o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (Iess), em parceria com a consultoria EY. Com a IA, a expectativa é se alinhar aos índices internacionais: cerca de 7%.

— Essas ferramentas refinam a análise de pedidos de reembolso e de procedimentos de alto custo, identificando o que a olho nu pode passar despercebido, como o reconhecimento ótico de caracteres para detectar adulterações em pedidos médicos e de reembolso — diz Cássio Alves, diretor técnico-médico da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge).

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