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2024

Investimento em startups ensaia recuperação, mas ainda fica 5 vezes distante de pico do mercado

Entre janeiro e setembro, as startups brasileiras captaram US$ 1,46 bilhão, alta de 9,5% em relação ao ano passado

DólaresDólares - Foto: Fabiano Antunes/Rota 1976

Depois de um pico, em 2021, seguido por uma queda acentuada nos dois anos seguintes, os investimentos em startups no Brasil mostram sinais de recuperação, mas de forma irregular e a passos lentos.

Entre janeiro e setembro, as startups brasileiras captaram US$ 1,46 bilhão em capital de risco, com 313 negócios fechados. O valor representa um crescimento de 9,5% em relação ao mesmo período de 2023, mas ainda é cinco vezes menor que o registrado nos primeiros nove meses de 2021.

Os dados fazem parte de relatório da plataforma de inovação Distrito que será divulgado nesta semana. O monitoramento do mercado leva em consideração informações primárias de startups, gestores e aceleradoras, além de consultas a bancos de dados públicos.

No último mês, os investimentos em startups no Brasil somaram US$ 191,7 milhões, uma queda de 17,8% em comparação a setembro de 2023. O número de negócios também diminuiu, na comparação anual, passando de 42 para 27 no mesmo mês. Na América Latina, o recuo foi de 16,6%, com a quantidade de aportes caindo de 65, em setembro do ano passado, para 40.

O Brasil segue como o principal destino para capital de risco na região. Em setembro, captou 68,9% desses investimentos em startups latino-americanas. O principal negócio fechado no país foi da Cayena,um marketplace de alimentos para atacadistas, que levantou R$300 milhões com investimento liderado pela Bicycle Capital, gestora do bilionário Marcelo Claure, presidente da Shein na América Latina.

O 'pós-inverno' é lento
No documento, o Distrito ressalta que o momento é de incertezas para o venture capital na América Latina. Em uma indústria sensível aos juros, o documento destaca que, enquanto os Estados Unidos iniciaram um ciclo de queda das taxas, o Brasil mantém a Selic elevada em 10,75%, após uma recente alta em setembro.

O patamar elevado afeta a capitalização dos fundos que operam no país, lembra Victor Harano, gerente de Research do Distrito. Mas ele avalia que, apesar do cenário ainda desafiador, o primeiro semestre de 2024 trouxe sinais "lentos e graduais" de recuperação após a ressaca no pós-pandemia, que ficou conhecida como "inverno das startups":

—A gente começou a ver sinais de retomada no primeiro semestre de 2024, mas ainda bem lentos. Não é uma saída rápida desse "inverno" como a gente esperava, mas é mais positivo frente ao que a gente teve no primeiro semestre de 2023. Provavelmente o resultado deste ano será ligeiramente melhor do que o do ano passado. Então, em termos gerais, é um mercado que anda de forma lateral, ou seja, melhora aos poucos — explica o analista.

Desde janeiro, a trajetória mensal desses investimentos em startups oscilou no Brasil sem uma trajetória clara, apesar dos níveis ligeiramente melhores que em 2023. O melhor mês em atração de investimento foi o de maio, quando houve US$ 222,03 milhões em aportes. O pior resultado aconteceu em março, com R$ 72,44 milhões. Em 2021, momento em que o mercado estava no pico, a média mensal de capital no setor foi de US$ 770,17 milhões, em um ano que totalizou US$ 9,2 bilhões em capital.

A pandemia de Covid-19 e a baixa de juros no mundo favoreceu o fluxo de dinheiro para startups, negócios de base tecnológica que dependem de capital para crescer. O período de inflação e aperto monetário, a partir de 2022, fez secar o investimento para setor, em um período marcado por demissões em massa, aquisições de empresas e mais seletividade dos fundos de venture capital, voltados para o setor.

Consolidação do mercado
Em 2024, Serrano salienta que um dos sinais positivos que vêm despontando no mercado é a retomada dos investimentos nas startups chamadas de "late stage", que são aquelas em estágios mais avançados de desenvolvimento. O fluxo para essa categoria vinha perdendo espaço para os negócios mais iniciais (conhecidas como "early stage"), que costumam receber cheques menos volumosos.

— Essas rodadas maiores para "late stage" praticamente não aconteceram em 2023. Neste ano, a gente já vê mais desses negócios acontecendo — afirma o especialista. — Vale destacar que muitas dessas startups passaram pelo "inverno" e tiveram que fazer ajustes operacionais. Elas saíram desse período mais atrativas para os investidores, o que também ajuda a explicar a atração deste capital. Essa é uma boa notícia.

Entre os principais investimentos em startups em estágios mais avançados este ano, o maior foi da fintech Asaas, que trabalha com serviços financeiros para pequenos e médios negócios, e que levantou R$ 820 milhões em outubro. Na sequência, aparece uma rodada de aporte para a Celcoin, de R$ 650 milhões. A startup, também do segmento financeiro, oferece serviços de tecnologia bancária.

O setor de fintechs continua a liderar na atração de capital, segundo Serrano. No primeiro semestre deste ano, o segmento recebeu 30,7% de todos os investimentos em startups na América Latina. Em seguida, aparecem as energytechs, do setor de energia, com 10,5%, as healthtechs, da área de saúde, com 4,3%, e as agtechs, do agronegócio, com 2,2% de participação.

O analista ressalta que, além de uma melhora lenta, o ano de 2024 deve ser marcado também por mais consolidação entre startups. No primeiro semestre, foram 118 operações de fusões e aquisições na América Latina. Ele explica que a tendência ainda é um reflexo do período mais crítico do setor:

— A gente ainda está em uma saída desse inverno. Em 2022, muitas startups não conseguiram captar, mas ainda tinham caixa de investimentos anteriores, que costumavam durar de 12 a 18 meses. Esses cheques as ajudaram a atravessar o ano passado, mas talvez se esgotam para este ano e o próximo. Então até o começo de 2025 ainda devemos ver esse movimento aquecido de fusões e aquisições.

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