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IPCA-15 tem nova deflação em setembro e cai abaixo de 8% em 12 meses

Indicador recuou 0,37% no mês, puxado principalmente pela queda nos preços dos combustíveis

Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), do IBGEÍndice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), do IBGE - Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Influenciado principalmente pela queda no preço da gasolina, prévia do índice de preços no país registrou deflação de 0,37% no mês de setembro, no comparativo com o mês anterior. O IPCA-15 acumulado em 12 meses passou de 9,6% em agosto para 7,96% em setembro.

Os dados são do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), do IBGE, e foram divulgados nesta terça-feira (27). A deflação acontece quando a cesta de produtos analisada pelo IBGE registra um preço menor em um mês, em relação ao mês anterior.

O recuo no indicador reflete a diminuição dos preços da gasolina e do diesel praticados pela Petrobras, que seguem a baixa da cotação do petróleo, além dos impactos residuais da redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre energia elétrica, telecomunicações e combustíveis.

Apesar da segunda deflação consecutiva no indicador considerado a prévia da inflação, economistas ponderam que ainda não há um alívio geral sobre os preços na economia embora alguns itens já pesem menos ao consumidor - o que exige do Banco Central do Brasil cautela para calibrar a política monetária. Por ora, a expectativa é que a taxa Selic, principal instrumento do BC para controle da inflação, fique no patamar de 13,75% ao ano até meados de 2023.

Roberto Padovani, economista-chefe do BV, lembra que o país saiu no segundo trimestre de uma inflação de 12%, no acumulado em 12 meses, para um patamar próximo de 6%. O percentual, contudo, afirma, ainda é bem superior à meta de inflação estabelecida para 2022 (3,5%):

"Temos que lembrar que 6% é uma inflação elevada e a queda de preços está concentrada em poucos produtos. A média dos preços na sociedade ainda está subindo, o que gera esse resultado captado por pesquisas que mostram que a inflação é o principal tema de preocupação da população."

Ele explica que ainda que o mercado esteja reduzindo as expectativas de inflação, a discussão que paira sobre os analistas do mercado é sobre o ritmo em que as projeções vão ceder e quando deverão alcançar o centro da meta de inflação.

"O BC vai ter que ser cauteloso, como comunicou na ata do Copom. Essa cautela, no nosso entendimento, é juros parados nesse patamar de 13,75% até meados do ano que vem."

Para Julia Gottlieb, economista do Itaú Unibanco, a dinâmica esperada para o nível de preços nos próximos meses, bem como o nível de ociosidade da economia, não devem tornar possível um corte de juros pelo Banco Central no primeiro semestre de 2023:

"Consideramos prudente que a autoridade monetária mantenha a taxa Selic em 13,75% até o terceiro trimestre de 2023 para assegurar o retorno da inflação para meta e convergência e ancoragem das expectativas."

Preços dos combustíveis caem perto de 10%
O preço do etanol caiu 10%, seguido da gasolina (-9,78%), óleo diesel (-5,40%) e gás veicular (-0,30%). Também houve ligeira queda no preço do ônibus urbano (-0,08%), por conta da redução dos preços das passagens aos domingos em Salvador desde o dia 11 de setembro.

De acordo com o IBGE, a retração nos preços dos combustíveis contribuindo para uma queda de 2,35% nos preços do grupo Transportes, ajudando com que o IPCA-15 ficasse no campo negativo diante do impacto de - 0,49 ponto percentual sobre o índice total.

Pelos cálculos de Mirella Hirakawa, economista-sênior da AZ Quest, não fossem os efeitos da redução de impostos sobre combustíveis e comunicação, além da queda da gasolina nas refinarias, anunciada pela Petrobras e repassada para as distribuidoras, o país registraria inflação de 0,3% e não deflação [queda dos preços]:

"Essa deflação é explicada principalmente por esses fatores, e isso não muda a composição do número. Temos pouca tranquilidade nessa deflação, porque o processo de redução do nível de preços ocorre em produtos que são pouco sensíveis à política monetária."

Apesar da queda dos combustíveis na bomba, há custos vinculados ao transporte e à mobilidade que ficaram mais caros para o consumidor. Os preços das passagens aéreas voltaram a subir em setembro, seguido do seguro voluntário de veículo (1,74%), emplacamento e licença (1,71%) e conserto de automóvel (0,62%).

O grupo Comunicação, por sua vez, recuou -2,74% em setembro por conta da redução nos preços dos planos de telefonia fixa e de telefonia móvel, além de queda nos pacotes de acesso à internet e nos combos de telefonia, internet e tv por assinatura. Também houve diminuição nos preços dos aparelhos telefônicos. Assim como no caso dos combustíveis, a queda nesses itens de telefonia estão associados ao limite para alíquota do ICMS, que começou a ser praticado no setor de telecomunicações.

Preços dos alimentos recuam pela primeira vez em mais de um ano
Pela primeira vez em mais de um ano a alimentação registrou queda nos preços, segundo o IBGE. O preço da alimentação no domicílio caiu 0,86% em relação ao mês de agosto, em função da redução dos preços do óleo de soja (-6,0%), tomate (-8,04%) e principalmente do leite longa vida (-12,01%). Essa retração, contudo, não diminui o mal-estar que muitas famílias brasileiras sentem quando vão ao supermercado.

Isso porque a queda nos preços não compensou as altas acumuladas no último ano. O leite subiu 58,19% no ano, na série pelo IPCA-15. Há itens que inclusive tiveram altas no mês de setembro em relação à agosto, como a cebola (11,39%), o frango em pedaços (1,64%) e as frutas (1,33%).

O preço da alimentação fora do domicílio desacelerou, mas ainda registrou alta em setembro. O lanche subiu 0,94%, variação próxima à do mês anterior (0,97%), enquanto a refeição passou de 0,72% para 0,36% no período.

Preços seguem pressionados
Apesar da queda dos preços no índice "cheio", como dizem os economistas, apenas três grupos de produtos e serviços dos nove pesquisados tiveram redução em setembro. Outros grupos investigados pelo IBGE e que concentram itens básicos seguem impactando o orçamento familiar.

É o caso do grupo Saúde e cuidados pessoais, cujos preços subiram 0,94% em setembro. Os itens de higiene pessoal, além dos planos de saúde e dos produtos farmacêuticos subiram, em média, 1% no mês.

Os preços dos produtos vinculados à habitação também não dão trégua. O gás de botijão subiu 0,81% no mês, enquanto o aluguel residencial e a energia elétrica subiram 0,72% e 0,41%, respectivamente - , tendo em vista que a tarifa de energia sofreu reajuste de quase 14% em Belém. O preço do gás encanado também subiu em função dos reajustes no Rio de Janeiro e em Curitiba.

Comprar roupas também tem pesado mais no orçamento do brasileiro. O grupo Vestuário, que inclui itens como roupas femininas, masculinas e infantis, subiu 1,66%. Os calçados e acessórios também ficaram mais caros no período.

Os grupos de Despesas Pessoais e Educação também ficaram no campo positivo, com altas de 0,83% e 0,12%, respectivamente. Entre os destaques estão os itens de papelaria e os serviços de recreação cujos preços subiram em agosto.

Inflação menor em 2022
O corte do ICMS, juntamente com a redução dos preços da gasolina, tem levado analistas a reduzirem as expectativas de inflação para este ano. O Boletim Focus do Banco Central, que reúne as projeções de mais de cem instituições do mercado para os principais indicadores, aponta que o mercado financeiro reduziu pela décima terceira semana consecutiva sua projeção para a inflação deste ano.

Os economistas agora projetam que o IPCA termine o ano mais próximo de 5,88%, contra 6% do boletim da semana passada.

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