IPCA sobe 0,53% em junho e alcança 8,35% em 12 meses
Em 2021, o teto da meta de inflação em 12 meses é de 5,25%
Puxado pela energia elétrica, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) teve variação de 0,53% em junho. O resultado ocorreu após avanço de 0,83% em maio, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta quinta-feira (8).
O IPCA é o indicador oficial de inflação do país. A variação veio em nível abaixo do esperado pelo mercado. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam alta de 0,59% no sexto mês do ano.
Mesmo com a desaceleração em junho, o IPCA chegou a 8,35% no acumulado de 12 meses. Ou seja, ampliou a distância em relação ao teto da meta de inflação perseguida pelo BC (Banco Central). No acumulado até maio, a variação estava em 8,06%.
Em 2021, o teto da meta de inflação em 12 meses é de 5,25%. O centro é de 3,75%.
O resultado de junho (0,53%) é o maior para o mês desde 2018 (1,26%). À época, o Brasil vivia os reflexos da greve dos caminhoneiros. A variação em 12 meses (8,35%) é a mais robusta desde setembro de 2016 (8,48%), quando o país passava por recessão.
Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, oito tiveram alta em junho, conforme o IBGE. O maior impacto (0,17 ponto percentual) foi de habitação. O grupo subiu 1,1%, principalmente por causa da energia elétrica (1,95%).
Embora tenha desacelerado em relação ao mês anterior (5,37%), a conta de luz teve o maior peso individual no índice de junho (0,09 p.p.). O segundo impacto individual foi da gasolina (0,04 p.p.). O combustível avançou 0,69% em junho, após alta de 2,87% em maio.
"A energia continuou subindo muito por conta da bandeira tarifária vermelha patamar 2, que passou a vigorar em junho e acrescenta R$ 6,243 à conta de luz a cada 100 quilowatts-hora consumidos. Em maio, estava em vigor a bandeira vermelha patamar 1, cujo acréscimo é menor (R$ 4,169). Os preços, porém, desaceleraram em junho devido aos diversos reajustes captados em maio nas áreas pesquisadas. Em junho, tivemos apenas o reajuste médio de 8,97%, em Curitiba, no fim do mês", afirma André Filipe Guedes Almeida, analista da pesquisa do IBGE.
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Conforme Almeida, não foi possível observar efeito da demanda aquecida sobre os preços.
"Quando a gente fala de demanda, geralmente olha para inflação de serviços, que ainda está abaixo do índice geral. Não dá para afirmar categoricamente que temos uma inflação de demanda. É óbvio que a retomada da economia e a melhora no contexto da pandemia podem influenciar [nos próximos meses]", relatou.
Almeida reforçou que os preços administrados têm provocado recente aumento da inflação. Esse grupo inclui energia e combustíveis.
Em 12 meses até junho, os administrados subiram 12,99%, conforme o IBGE. Enquanto isso, a cesta de serviços avançou 2,24%.
O IPCA ganhou corpo ao longo da pandemia. Em um primeiro momento, houve disparada de preços de alimentos e, em seguida, avanço de combustíveis. Alta do dólar e avanço das commodities ajudam a explicar o comportamento dos preços.
Não bastasse essa combinação, a crise hídrica também passou a ameaçar o controle da inflação. É que a escassez de chuva eleva os custos de geração de energia elétrica no país. O reflexo é a conta de luz mais cara nos lares dos brasileiros.
Além de pesar no orçamento das famílias, a alta nas tarifas de energia também eleva os custos de operação de empresas, que podem repassar parte do impacto para os produtos finais. A situação ocorre no momento em que o consumo é desafiado pelo desemprego em nível recorde no Brasil.
Em uma tentativa de frear a inflação, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) voltou a subir a taxa básica de juros em junho. À época, confirmou aumento de 0,75 ponto percentual na Selic.
Com a elevação, a taxa alcançou 4,25% ao ano. Após a reunião de junho, o Copom sinalizou nova alta na mesma magnitude em seu próximo encontro, em agosto, o que levaria a Selic para 5%.
Analistas do mercado financeiro projetam IPCA de 6,07% ao final de 2021. Ou seja, acima do teto da meta. A estimativa integra a edição mais recente do boletim Focus, divulgada pelo BC na segunda-feira (5).
Novas pressões sobre os preços seguem no radar de analistas. Em São Paulo, o mês de julho começou com tarifaço, que incluiu aumento em contas de luz e pedágio.
Além disso, a Petrobras anunciou nesta semana reajustes nos preços de gasolina, óleo diesel e gás de cozinha no país. Com isso, os valores nas refinarias ficaram 6,3%, 3,7% e 5,9% mais caros, respectivamente.
"O IPCA veio em 0,53% em junho e acumula 8,35% em 12 meses. Nossa projeção era bem mais alta, em 0,65%, e este resultado mostra que alguns componentes da cesta do IPCA estão respondendo à atividade ainda fraca", analisou André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos.
Na visão de Perfeito, o indicador abaixo do esperado "pode tirar certo peso das costas" do BC. Contudo, a desvalorização do real ante o dólar "pode jogar no sentido contrário", voltando a pressionar a inflação, sinaliza o economista. Ele projeta Selic de 6,5% ao final de 2021.