Japão aposta na energia nuclear diante da crise provocada pela guerra na Ucrânia
"A invasão russa da Ucrânia transformou muito o panorama energético mundial e, por isso, o Japão precisa ter em mente potenciais cenários de crises no futuro", declarou o chefe de Governo
O primeiro-ministro Fumio Kishida defendeu nesta quarta-feira (24) o estímulo à indústria nuclear do Japão para enfrentar o encarecimento da energia provocado pela guerra na Ucrânia.
Em uma reunião com autoridades do setor de energia, Kishida pediu a construção de centrais nucleares de nova geração, a reativação de mais centrais atômicas existentes e a ideia de prolongar a vida útil dos reatores se for possível garantir a segurança.
"A invasão russa da Ucrânia transformou muito o panorama energético mundial e, por isso, o Japão precisa ter em mente potenciais cenários de crises no futuro", declarou o chefe de Governo.
"Quanto às usinas nucleares, além de garantir a operação dos 10 reatores que já estão em operação, o governo vai liderar um esforço para fazer tudo que for necessário para concretizar a reativação" dos outros cuja segurança foi aprovada pela agência nuclear do país, acrescentou.
Kishida fez um apelo aos participantes na reunião para que preparem "a construção de reatores nucleares de nova geração equipados com novos mecanismos de segurança" e para "dar máximo uso às centrais nucleares existentes".
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"Por favor acelerem suas discussões sobre todas as medidas possíveis, baseadas em opiniões de partidos do governo e da oposição, assim como de especialistas, para chegar a conclusões concretas até o fim do ano", declarou.
Kishida participou na reunião de forma virtual porque testou positivo para Covid-19.
Tema delicado
Assim como outros países, o Japão enfrenta limitações no abastecimento de energia desde que a Rússia invadiu a Ucrânia há seis meses.
O Japão também enfrenta uma onda de calor histórica no atual verão, o que levou o governo a pedir que a população economize energia na medida do possível.
A energia nuclear é um tema delicado no Japão desde o tsunami de março de 2011, que provocou um acidente na central de Fukushima, o mais grave desastre nuclear desde Chernobyl.
Onze anos depois, 10 dos 33 reatores nucleares japoneses estão ativos, mas nem todos operam o ano inteiro e o país ainda depende dos combustíveis fósseis importados.
Antes do acidente de Fukushima, o Japão obtinha um terço de sua energia elétrica de fontes nucleares, mas em 2020 o índice caiu para menos de 5%.
Tom O'Sullivan, consultor energético da Mathyos Advisory em Tóquio, destacou que construir reatores de nova geração no país seria um "grande passo porque todos os reatores atuais são convencionais".
Ativar mais usinas nucleares exigirá a aprovação dos governos locais, o que pode ser um "desafio político", afirmou O'Sullivan à AFP.
"Mas há um ambiente diferente com a guerra na Ucrânia".
Para a população japonesa, "não acredito que é apenas o custo da energia elétrica. É a dependência da Rússia para o gás natural, petróleo e carvão (...) O povo japonês realmente percebeu isto".
O Japão anunciou sanções contra a Rússia pela guerra na Ucrânia ao lado dos outros países do G7. E o governo se comprometeu a tentar reduzir a dependência energética de Moscou.