Limpou o nome com o Desenrola Brasil? Veja como não ficar inadimplente de novo
Na renegociação de dívidas, especialistas recomendam tentar reduzir valor de parcelas a ampliar prazos
Brasileiros que tinham dívida bancária de até R$ 100 tiveram seu nome limpo automaticamente nesta segunda-feira, quando começou o programa do governo Lula para renegociação de dívidas, o Desenrola Brasil. Especialistas alertam que é preciso tomar cuidados na hora de voltar a consumir, para não complicar o orçamento novamente e ter o nome incluído na lista suja em serviços proteção ao crédito de novo.
Levantamento do Serasa, publicado no final do ano passado, mostra que 52% das pessoas que já estiveram endividadas em outros momentos costumam voltar a ficar com o nome sujo. Desemprego, redução de renda, compra de mantimentos, falta de controle e gastos com remédios são os principais motivos.
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Além dos inadimplentes com débitos de até R$ 100, a primeira fase do Desenrola Brasil mira os consumidores com salários de até R$ 20 mil que têm dívida com bancos. Para este grupo, as instituições financeiras estão oferecendo descontos de até 96% para pagamento à vista e prazo de até dez anos para parcelamento.
Veja dicas para não ficar com nome sujo de novo:
Renegocie a dívida com o banco, mas só aceite propostas que caibam no bolso;
Compare as taxas de juros, o prazo e o valor total da dívida para entender se é um bom negócio;
Calcule o seu custo de vida e o quanto ganha;
Verifique quais são as principais despesas e se podem ser reduzidas;
Dentre os gastos essenciais, tente obter descontos. Renegocie o plano do celular ou de internet, evite deixar a luz acesa, troque o cartão de crédito por um sem anuidade, procure as ofertas nos supermercados;
Evite fazer compras por impulso;
Faça uso de benefícios oferecidos na hora de consumir, como descontos em aplicativos de postos de gasolina; cashback em compras e milhas acumuladas;
Paulo Maximilian, professor de direito do consumidor da EMERJ e sócio de Chalfin, Goldberg e Vainboim Advogados Associados, afirma que o consumidor não é obrigado a concordar com ofertas de renegociação feitas pelos bancos, podendo fazer contrapropostas para adequar o acordo à sua possibilidade de pagamento.
— Ao fazer a renegociação o consumidor acerta novos prazos e, portanto, deixa de ser inadimplente, o que, por si só, resultará na retirada de seu nome dos cadastros restritivos. Mas é muito importante que o valor das parcelas seja provisionado no orçamento mensal para evitar nova dívida — explica.
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O educador financeiro Adenias Filho é taxativo: “a melhor negociação é aquela que cabe no bolso”. Ele recomenda que os consumidores não aceitem propostas que não combinem com a realidade:
— A recomendação é fazer uma simulação do valor que se tem capacidade efetiva de pagar ao longo do tempo.
Mais prazo e parcelas menores
Nesse sentido, o economista e fundador da escola de investimentos Eu Me Banco, Fabio Louzada, recomenda fazer uma análise criteriosa das taxas de juros oferecidas e que o devedor tenha em mente três objetivos: a redução dos pagamentos mensais, a extensão do prazo e a eliminação de eventuais multas ou taxas.
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O militar Claudio Valério de Jesus Silva, de 53 anos, viu sua renda ser reduzida consideravelmente depois que foi reformado. Sem conseguir manter as despesas do dia a dia dentro do orçamento, recorreu a empréstimos consignados e ficou inadimplente.
Com renda de dois salários mínimos, resolveu renegociar quando o valor atrasado alcançou R$ 20 mil. Apesar de ter aceitado a proposta do banco, segue no vermelho já que também não conseguiu pagar em dia as parcelas combinadas.
— Na renegociação, o empréstimo de 30 e poucas parcelas subiu para 90 parcelas. A dívida mais longa aumentou o valor que eu estava devendo e piorou a minha situação — reclama.
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Com o lançamento do programa Desenrola Brasil, o militar reformado diz que pretende tentar uma nova negociação. Dessa vez, conta, só irá aceitar propostas em que tenha que pagar no máximo R$ 200 por mês.
30% da renda para emergências
Para Tiago Sayão, professor na Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar), a organização financeira é um passo importante para não voltar a ficar inadimplente. Ele recomenda fazer uma análise do quanto tem de renda disponível e de qual o custo de vida da família para, depois, elencar os gastos supérfluos que podem ser cortados.
—A maioria das pessoas que sai dessa situação e volta é por não conseguir fazer controle das próprias despesas. O ideal, se não for muito organizado, é fazer anotação em um caderno ou aplicativo dos gastos diários — aconselha. — São os pequenos valores que fazem a diferença, como o cafezinho na padaria ou a cerveja ao final do expediente.
Com a mudança de comportamento, sugere poupar o quanto for possível do salário para imprevistos, evitando recorrer a empréstimos com taxas de juros altas ou ao cheque especial.
— O ideal é que 30% da renda seja reservada para a poupança para, em uma emergência, não ter que recorrer a crédito. Se a renda nominal for muito baixa, reserve o máximo que puder, nem que seja 5% todo mês. O importante é que seja constante — sugere.