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Lula se reúne hoje com equipe econômica: será convencido a recuar em relação ao BC e ao mercado?

Presidente vai discutir ajuste fiscal com Haddad e Tebet após fazer novas investidas contra Banco Central e contribuir para a alta do dólar, elevando incerteza nos mercados

Tebet, Haddad e Lula durante reunião nos primeiros dias do governo, em 2023 Tebet, Haddad e Lula durante reunião nos primeiros dias do governo, em 2023  - Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República

Ao retornar de uma intensa agenda de viagens pelo país para inaugurar obras, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reúne hoje com a equipe econômica para discutir a situação das contas públicas.

A reunião acontece um dia após novas declarações suas contra o Banco Central motivarem a disparada do dólar, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reúne hoje com sua equipe econômica para discutir novas ações para reduzir despesas e equilibrar as contas públicas.

O encontro foi anunciado ontem pelo petista em meio à retomada dos ataques ao Banco Central e ao mercado financeiro, o que contribuiu para elevar ainda mais a escalada de tensão vista nos últimos dias. A equipe econômica busca medidas para equilibrar as contas públicas, em uma tentativa de sinalizar ao mercado que está comprometido a realizar um ajuste de gastos.

 

Nos bastidores, contudo, a cúpula da equipe econômica avalia que, para conter a escalada do dólar, Lula precisará recuar em sua cruzada contra o Banco Central e o atual chefe da autoridade monetária, Roberto Campos Neto. No entanto, ninguém arrisca cravar que o presidente será convencido disso.

— A nossa agenda com o presidente (nesta quarta) é exclusivamente fiscal, para apresentar propostas para cumprimento do arcabouço de 2024, 2025 e 2026 — adiantou Haddad a jornalistas.

Além de Haddad, a reunião deve ter também a participação da ministra do Planejamento, Simone Tebet, da ministra da Gestão, Esther Dweck, e do ministro da Casa Civil, Rui Costa. Ainda não há horário definido, mas deve acontecer pela tarde.

Integrantes do time econômico até admitem, sob reserva, haver certa "implicância" do mercado com o governo, mas enxergam na atuação recente do petista o combustível ideal para os especuladores.

Essa visão é compartilhada nos bastidores, mas fica cada vez mais evidente nas reiteradas manifestações dadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Ontem, ele foi explícito ao dizer que é preciso ajustar a "comunicação" sobre a autonomia do Banco Central e o empenho do governo com o arcabouço fiscal.

— O melhor a fazer é acertar a comunicação — disse o ministro a jornalistas no Ministério da Fazenda. — Não vejo nada fora disso: autonomia do Banco Central e rigidez do arcabouço fiscal. É isso que vai tranquilizar as pessoas.

Na noite anterior, o ministro havia dito que muitos "ruídos" vinham empurrando a cotação do dólar e que o governo precisava informar melhor seus resultados. Haddad sabe que essa comunicação passa pelo presidente da República e vem tentando encaixar em suas manifestações seu desejo de alertá-lo.

Integrantes do time do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, lembram que o dólar vem ganhando força no mundo todo, mas o real está sendo mais penalizado do que outras moedas de países emergentes. Não dá, portanto, para ignorar as questões internas. A expectativa da equipe econômica é conseguir destravar parte da agenda de corte de gastos na reunião desta quarta-feira.

Ideias já descartadas
Segundo técnicos da equipe econômica, um dos principais problemas é o fechamento das contas públicas em 2025. A proposta orçamentária está sendo elaborada e precisa ser encaminhada ao Congresso Nacional em agosto.

Durante a reunião, os ministros vão apresentar as projeções com receitas e despesas para saberem exatamente o descasamento das contas, disse um interlocutor.

O presidente já descartou, contudo, medidas que afetem os mais pobres já aventadas como a desvinculação dos benefícios previdenciários e do Benefício de Prestação Continuada (BPC) do salário mínimo. Lula também já indicou que não deve mexer com os gastos com os militares no curto prazo.

Em entrevista ontem a uma rádio da Bahia, Lula atribuiu a alta da cotação da moeda americana nos últimos dias a um jogo "especulativo" e de "interesses" contra o real e anunciou que o governo avalia tomar alguma medida para conter a escalada, sem, no entanto, dizer qual.

Lula ainda retomou os ataques ao Campos Neto ao afirmar que vê "viés político" nas decisões da autoridade monetária, que no mês passado interrompeu a sequência de corte de juros e manteve a taxa Selic em 10,50%.

O petista tem feito sucessivas críticas a Campos Neto e chegou a afirmar que o vê como adversário político, por sua proximidade com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, apontado como possível presidenciável pelo próprio presidente.

Em Portugal, onde participou de evento do BCE (Banco Central Europeu), Campos Neto rebateu o petista ao afirmar ser necessário afastar a "narrativa" de que a sua gestão à frente do BC serve a algum lado político.

Na contramão de Lula, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, defendeu a autonomia do Banco Central brasileiro. Para ela, o modelo atual, adotado durante o governo de Jair Bolsonaro, é "saudável". A ministra, contudo, afirmou que acreditar que um ano de mandato após a eleição presidencial seria "mais do que suficiente" para se adequar e "passar o bastão".

— Acho que seria saudável a autonomia do BC, mas questionei esses dois anos do presidente do BC de governos passados. Acho que um ano é mais do que suficiente, que é o tempo de se adequar e passar o bastão. Não é porque isso significa interferência do Executivo ou do Legislativo no Banco Central. Isso não é permitido porque a autonomia do BC está aí — afirmou Tebet a jornalistas após participar de audiência no Senado.

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