Mercadante quer limitar importação de carro elétrico sem imposto para estimular produção local
Presidente do BNDES defende adoção de cotas com quantidade máxima para importações isentas
O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, defendeu nesta segunda-feira que o Brasil dê benefícios fiscais para a produção de carros elétricos que sejam produzidos nacionalmente. Mercadante criticou o fato de que a importação de veículos elétricos é desonerada, mas não a produção nacional.
Mercadante participou de um seminário sobre crédito na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). A um público formado majoritariamente por empresários e representantes de entidades da indústria, defendeu que o BNDES aumente seu papel no fomento à industria, em linha com uma visão econômica desenvolvimentista, que preconiza o papel indutor do Estado na economia.
Leia também
• Campos Neto diz que mercado está 'dando credibilidade' ao governo
• Jaques Wagner diz que governo irá atuar para evitar mudanças no Senado
• Lira escolhe relator para projeto que pode garantir R$ 58 bilhões ao governo
— Os Estados Unidos está dando US$ 7 mil para o automóvel elétrico produzido nos EUA e nós estamos dando imposto zero para importar automóvel elétrico (...) Não faz sentido o Brasil desoneraer a importação e taxar a produção doméstica, temos de buscar outro modelo porque quem gera emprego, paga impostos, paga a maior taxa de juros do mundo não tem benefício e o carro pronto de fora vem desonerado — afirmou Mercadante.
O presidente do BNDES defendeu que o país adote uma cota para a importação de veículos elétricos, com redução progressiva, para estimular as montadoras a produzir localmente os elétricos. O banco vai levar o tema ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), órgão interministerial que formula as políticas públicas para o setor industrial
— Nos carros, não podemos de um dia para o outro tirar a desoneração, podemos fazer uma cota que vai diminuindo progressivamente para estimular as matrizes a investirem no Brasil, porque elas não vão investir enquanto está vindo carro pronto sem pagar imposto. Temos de mudar essa política — disse Mercadante a jornalistas.
Ao abordar a questão dos juros no país, Mercadante disse que vê uma melhora no cenário fiscal e na projeção da inflação e insinuou que o atual panorama permite a redução da taxa Selic, hoje em 13,75%.
Apesar de dizer que “dizer qual deve ser a decisão do Copom não deve ser” sua competência, o presidente da estatal pediu uma salva de palmas dos empresários ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, pela decisão sobre a taxa de juros que deverá ser tomada na semana que vem pelo comitê.
Em pouco mais de uma hora de evento, Mercadante ouviu uma série de pedidos para que o banco retome o chamado “cartão BNDES”, que concede crédito pré-aprovado para aquisição de bens e serviços a empresas, em especial as de micro, pequeno e médio portes. Mercadante disse que o produto deve ser relançado em, no máximo, quatro meses.
— Precisamos ter regras prudenciais para evitar inadimplência indevida e pedimos de três a quatro meses para ter esse produto para reapresentar ao mercado. Facilita muito a vida dos empresários — disse Mercadante.
O petista voltou a criticar os desembolsos feitos no passado pelo BNDES para o Tesouro Nacional e disse que tem negociado junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) a possibilidade de postergar o pagamento de R$ 23 bilhões à União. O banco pleiteia parcelar o valor até o fim do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2026.
Mercadante ainda defendeu a limitação do pagamento de dividendos do BNDES à União para 25% do lucro, o que daria fôlego ao banco para expandir sua política de fomento à indústria. De acordo com Mercadante, o objetivo é que o BNDES amplie sua participação no PIB a 2%, longe dos 4,3% que representava na era Dilma, mas mais que o dobro do 0,7% de participação mínima a que chegou nos últimos anos.