Logo Folha de Pernambuco

Economia

Mercado avalia como inevitável primeira alta dos juros em quase seis anos

Entre os motivos para a elevação dos juros estão o risco de descontrole das expectativas de inflação

Alta dos jurosAlta dos juros - Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Economistas do mercado financeiro consideram inevitável uma alta da taxa básica de juros na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central na próxima quarta-feira (17) e discordam apenas da intensidade desse ajuste.

Se confirmada, será a primeira alta da Selic em quase seis anos. A última foi em 29 de julho de 2015, quando o Copom subiu os juros de 13,75% para 14,25%. A queda começou em 19 de outubro do ano seguinte, quando baixou para 14%.

Das 13 instituições com projeções coletadas pela agência Bloomberg até esta quinta-feira (11), 10 projetam elevação da taxa básica de 2% para 2,50% ao ano, entre elas, Bradesco, Santander e Fundação Getulio Vargas. Três esperam um aumento um pouco menor, para 2,25% ao ano.

Entre os motivos para a elevação dos juros estão o risco de descontrole das expectativas de inflação, que pela primeira vez desde 2017 estão acima do centro da meta, choques de aumento de preços, ligados principalmente à alta do dólar, que estão se disseminando pela economia, e a falta de ação do governo federal e do Congresso para conter o aumento do gasto público.

"O Banco Central deve subir os juros para não perder o controle sobre as expectativas de inflação e, consequentemente, sobre a própria inflação", afirma José Júlio Senna, ex-diretor do Banco Central e chefe do centro de estudos monetários do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

 



"O quadro se deteriorou muito rapidamente. A gente teve mais depreciação do câmbio, reajuste de combustíveis, uma demonstração mais clara ainda de que o apetite para o ajuste fiscal é inexistente e sinais de uma linha muito populista [em decisões governamentais], como no episódio da Petrobras."

Senna afirma que a ação do BC não deve ter como objetivo segurar o câmbio e que, dado o nível de ruído político no Brasil atualmente, não se pode ter segurança de que esse efeito secundário da alta de juros irá se materializar.

O economista diz ainda que a instituição não pode deixar a inflação sair do controle devido ao baixo nível de atividade e das restrições econômicas causadas pela pandemia. Ele destaca a diferença atualmente entre a taxa básica e os juros de longo prazo, que tem sido prejudicial ao funcionamento da economia.

A professora Margarida Gutierrez, do Coppead/UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), afirma que um aumento de 0,50 ponto percentual na taxa Selic não representa um choque de juros e que o que interessa para o nível da atividade econômica são os juros futuros.

"O que baliza o custo do crédito são os juros futuros. O juro de dez anos está a 8,5%. Nos EUA é 1,6%. O de cinco anos está em 7%. De três anos está em 6%. Um ano, em 4,5%. Se o Banco Central ficar atrás da curva de juros, significa que ele perdeu", afirma a economista.

Gutierrez afirma que, por trás da alta da inflação ao consumidor, há um choque de expectativas inflacionárias e que não adianta nada o BC não subir os juros por causa da fraca atividade econômica.

"A gente vai ficar em um mundo pior ainda. Vai ter mais inflação, isso vai reduzir ainda mais o eventual crescimento do PIB. Os juros futuros vão subir mais desordenadamente do que já vêm subindo. Para o PIB crescer, você precisa de uma série de condições na economia, incluindo as condições financeiras. Não subir os juros agora em detrimento de um PIB um pouco maior é uma falsa questão", afirma.

"Se você tem uma inflação crescendo, ao Banco Central só cabe uma coisa. Se é uma inflação de demanda, é o remédio clássico, tem de subir juros. Não é de demanda, mas é de expectativas. Então também é o remédio clássico, tem de subir juros, não tem jeito."
Um dos três analistas que projetam um aumento menor dos juros no próximo Copom, segundo a Bloomberg, é o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sachez.

Para ele, acelerar o ritmo de aumento dos juros, que atualmente estão abaixo da inflação corrente com objetivo de estimular a economia, vai derrubar a inflação e as expectativas para 2022, que ainda estão em linha com a meta. Como a política monetária tem defasagens em relação a seus efeitos, subir muito a taxa agora não ajudaria a segurar a alta de preços neste ano.

Segundo Sachez, se o câmbio não mexeu com as expectativas para 2022, o Banco Central tem de fazer a condução da política monetária de maneira serena e gradual.

"Todo esse fervor que a gente está assistindo em relação à inflação deste ano não tem se refletido na do ano que vem. Pelo contrário, as expectativas em relação à atividade vêm sendo revisadas para baixo, o grau de incerteza em relação ao horizonte econômico e político subiu bastante. Tudo isso mitiga investimento, crescimento, e a gente não vê uma pressão inflacionária."

Ele afirma que o processo de vacinação da população economicamente ativa só deve ganhar força no último trimestre do ano, o que dificulta a retomada das atividades, o avanço do PIB neste ano e o surgimento de eventuais pressões inflacionárias adicionais.


"Subir os juros em 0,25, iniciar o ciclo, é diferente de dar 0,50 [ponto percentual] agora. Hoje o mercado está precificando 6,30% de Selic em janeiro 2022. Isso já está no patamar restritivo de política monetária. A partir desse patamar, a gente vai enterrar ainda mais a atividade, removendo completamente o estímulo que o Brasil precisa para sair desse processo pandêmico. Neste ano a gente vai crescer 2,9% de PIB se der muita sorte."


O professor da Fipecafi Estevão Alexandre afirma que seria saudável aumentar a Selic para conter um pouco mais o aumento da inflação no curto prazo e que isso deve contribuir para reduzir um pouco a pressão em cima do dólar, ao reduzir a diferença de juros entre o Brasil e o exterior porque fica mais atrativo aplicar dinheiro aqui.


"A gente está vivendo um ambiente de muita incerteza e volatilidade no mercado. Isso no mundo inteiro. É uma tendência mundial subir as taxas de juros. Se o Brasil não subir pode gerar uma tendência de saída de capital", diz Alexandre.

A meta de inflação é de 3,50% para 2021 e 3,50% para 2022, com margem de 1,5 ponto percentual para baixo ou para cima. As expectativas do mercado são de 3,98% para este ano e 3,50% para o próximo ano. A taxa básica está em 2% ao ano desde agosto do ano passado.

 

Veja também

Governo bloqueia R$ 6 bilhões do Orçamento de 2024
Orçamento de 2024

Governo Federal bloqueia R$ 6 bilhões do Orçamento de 2024

Wall Street fecha em alta com Dow Jones atingindo novo recorde
Bolsa de Nova York

Wall Street fecha em alta com Dow Jones atingindo novo recorde

Newsletter