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Economia

Mercado não leva a sério crítica de Bolsonaro e cobra equilíbrio fiscal

Nesta sexta (12), o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) também criticou o mercado financeiro: 'Minha gente, a gente não pode ser escravo do mercado'

Mercado eleva projeções para inflação e vê câmbio desvalorizadoMercado eleva projeções para inflação e vê câmbio desvalorizado - Foto: Agência Brasil

Participantes do mercado financeiro não levaram a sério as críticas feitas pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao setor em sua tradicional transmissão ao vivo desta semana.

Na noite desta quinta-feira (11), o presidente disse que o mercado "fica irritadinho" com "qualquer negocinho", em referência à aversão ao risco demonstrada por investidores dada a preocupação fiscal.
Bolsonaro ainda questionou se pessoas do mercado "sabem o que é passar fome" ao defender a volta do auxílio emergencial.

"Não concordo que o mercado fique estressadinho ou irritado. Temos que considerar o cenário macroeconômico do Brasil. Há uma preocupação muito grande com o teto de gastos", afirma Gustavo Bertotti, economista da Messem Investimentos.


"Apesar de Bolsonaro exigir patriotismo e dizer que o mercado fica 'irritadinho' com qualquer coisa, é preciso entender o nível da dívida brasileira e a dinâmica na qual ela se encontra. Assim, é mais fácil visualizar que os preços dos ativos simplesmente refletem a quantificação de eventuais e/ou prováveis descalabros fiscais", diz Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.

Nesta sexta (12), o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) também criticou o mercado financeiro. "Minha gente, a gente não pode ser escravo do mercado".

"O mercado não leva tão a sério. Em outros tempos, teria reagido. É importante porque é o presidente e o vice, mas essa importância conta cada vez menos", afirma José Francisco Lima Gonçalves, economista-chefe do banco Fator.
"O mercado, por enquanto, tem sido pouco afetado por conta dessas falas. Como é um padrão ter falas mais polêmicas, o mercado acaba sendo mais pragmático", diz Joelson Sampaio, professor de economia da FGV.

"O que afeta mesmo [o mercado] é essa indefinição sobre como o auxílio será implementado e como concilia com o teto e um fiscal crível", Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Órama Investimentos.

Nesta sexta, a equipe econômica do governo Bolsonaro e o Congresso chegaram a um acordo para destravar o auxílio emergencial a partir de março por três a quatro meses, incluindo como contrapartida mecanismos de ajuste fiscal.
"A ginástica que o governo está tendo que fazer pra não furar o teto dos gastos está cada vez maior", diz Maurício Battaglia, analista da Terra Invest. Ele diz ver como inevitável a volta da CPMF para aumentar a arrecadação e equilibrar as contas públicas.

Apesar das críticas do governo ao mercado e das definições me torno de um novo auxílio, o mercado operou perto da estabilidade nesta sexta, com menor fluxo nas negociações antes do feriado bancário que manterá os mercados domésticos fechados durante o Carnaval, com retorno das operações às 13h (de Brasília) da quarta (17).

O dólar caiu 0,22%, a R$ 5,3740. Na semana, acumulou desvalorização de 0,2%. O turismo está a R$ 5,5330. Em fevereiro, a divisa cai 1,9%, mas sobe 3,5% no acumulado do ano.

Já o Ibovespa teve alta de 0,11%, a 119.428,72 pontos no pregão desta sexta. Na semana, caiu 0,67%. No mês, o índice se valoriza 3,79%, e no ano, 0,35%.

Além do risco fiscal em torno da volta do auxílio, investidores repercutiram na semana os resultados corporativos do último trimestre de 2020, que contou com números robustos de Suzano, Klabin, Totvs, Usiminas, BTG Pactual, enquanto Multiplan e Lojas Renner deram uma amostra do forte efeito da pandemia em seus setores.
Um nove lote de empresas também passou a ser negociada na B3 nessa semana, enquanto outras pediram registro para IPOs.

Uma das ofertas mais aguardadas, a da unidade de mineração da CSN, acabou saindo no piso da faixa indicativa, segundo a agência de notícias Reuters, movimentando R$ 5,2 bilhões.

Nessa semana, debutaram na Bolsa a produtora de açúcar e etanol Jalles Machado, comercializadora de eletricidade Focus Energia, o clube de assinatura de aplicativos Bemobi, a plataforma de comércio eletrônico Westwing, o grupo privado de ensino superior Cruzeiro do Sul e a prestadora de serviços ambientais e de logística marinha Oceanpact.

De pano de fundo, Wall Street renovou máximas históricas ao longo da semana, em meio a sinais cada vez mais favoráveis no sentido de um novo pacote econômico, com a temporada de balanços também sob os holofotes em Nova York e o Fed (banco central dos Estados Unidos) reiterando que os juros continuarão baixos por algum tempo.

Nesta sexta, o indice S&P 500 subiu 0,47% e o Dow Jones, 0,09%. O Nasdaq teve alta de 0,50%.
Na Bolsa brasileira, a maior alta do Ibovespa na sexta foi da Braskem. A petroquímica se valorizou 3% na sessão após calcular em R$ 10,1 bilhões as provisões sobre o fenômeno de afundamento de solo em Maceió, bem como retomar a produção de cloro-soda e dicloretano na cidade.

Já a Cielo teve a maior queda, com declínio de 6,6% nesta sexta, após a declaração do presidente do Banco do Brasil nesta sessão de que não venderá a participação do banco na companhia de pagamentos. Além disso, foi adiado a 7 de junho o prazo para entrada em vigor da regulação sobre o registro e a negociação de recebíveis de arranjos de pagamentos.

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