Logo Folha de Pernambuco

Crise econômica

Mercados dão trégua à Argentina após reformulação do governo

Em meio a crise, país nomeou presidente da Câmara dos Deputados, Sergio Massa, como novo "superministro" da Economia

Sergio Massa, superministro da Economia e o presidente argentino, Alberto FernándezSergio Massa, superministro da Economia e o presidente argentino, Alberto Fernández - Foto: ARGENTINA'S PRESIDENCY PRESS OFFICE / ARGENTINIAN PRESIDENCY / AFP

Os mercados deram um certo alívio à Argentina nesta sexta-feira (29), após a nomeação do presidente da Câmara dos Deputados, Sergio Massa, como novo "superministro" da Economia. Ele agradeceu, embora tenha negado que se sinta como "um salvador".

Após semanas de volatilidade, a moeda argentina se recuperou no mercado paralelo, no qual chegou a atingir um recorde de 350 pesos por dólar, e fechou a 296 pesos. Também melhorou a cotação dos títulos da dívida.

"Estou agradecido pela expectativa. Esperamos atender às expectativas com trabalho", disse Massa. "Não sou nenhum salvador. A política não precisa de salvadores, e sim de servidores. Trabalharei com alma e vida, sem preconceitos, e disposto a falar com todos os setores políticos, econômicos e sociais da Argentina, a fim de contribuir para a ordem, certeza e crescimento", tuitou um pouco antes.

"A reação do mercado foi positiva porque vê em Massa uma figura pragmática, com boa relação com empresários e o mercado", disse à AFP o economista Nery Persichini, da consultora GMA Capital.

Massa, um advogado de 50 anos com longa trajetória política, deve assumir na próxima quarta-feira, depois que a Câmara dos Deputados designar seu substituto, na véspera.

Ele substitui a economista Silvina Batakis, que, com menos de um mês no cargo, viu disparar uma inflação já muito alta na Argentina, a forte desvalorização do peso no câmbio paralelo e também dos títulos da dívida. A ministra havia sido escolhida após a renúncia de Martín Guzmán, artífice da reestruturação da dívida argentina.

"A melhora nas cotações dos ativos argentinos responde à expectativa de que, pelo menos, os desequilíbrios não continuarão se aprofundando", assinalou Persichini.

Massa, uma figura de peso na coalizão governista Frente de Todos (centro-esquerda), assumirá uma pasta que unifica os ministérios de Economia, Desenvolvimento Produtivo e Agricultura e Pecuária, o que representa uma reformulação geral do gabinete ministerial.

O presidente Alberto Fernández explicou que a indicação de Massa busca "melhor coordenação" devido ao que foi "vivenciado nos últimos meses e, em particular, nas últimas semanas".

"Concentrar a definição da política econômica permitirá trabalhar de maneira mais rápida, ágil e eficiente para sair do ponto em que estamos", escreveu Fernández no Twitter.

No entanto, marcados por uma série quase interminável de crises econômicas, no momento em que a projeção da inflação supera os 80% este ano e com a pobreza atingindo 37% da população, os argentinos desconfiam das medidas.

"Parece que o governo não tem rumo [...] Me preocupa muito a falta de trabalho, a inflação", disse à AFP Néstor, um desempregado de 54 anos.


Ajuste e FMI

Massa tem diante de si desafios difíceis, principalmente aumentar as reservas internacionais disponíveis. Segundo os analistas, elas se encontram em níveis críticos, e reduzir o déficit fiscal em linha com os compromissos do programa de facilidades estendidas de 44 bilhões de dólares que mantém com o Fundo Monetário Internacional.

Segundo Persichini, "as dúvidas giram em torno da capacidade real de Massa de reduzir os gastos públicos e moderar o déficit fiscal". "O mercado se pregunta se o novo 'superministro' conta com o aval da vice-presidente Cristina Kirchner para implementar um ajuste e corrigir os desequilíbrios de preços relativos", acrescentou.

Há meses, o governo se vê sobrecarregado pelos enfrentamentos e desencontros entre o presidente Fernández, sua vice-presidente Kirchner e, nos últimos dias, também os governadores da Frente de Todos.

A ruptura é tamanha que, quando o governo levou o acordo com o FMI para ser submetido à aprovação do Congresso, o grupo parlamentar que se identifica com Kirchner votou contra.

Para a consultoria Capital Economics, a designação de Massa "oferece alguma esperança de que o governo honrará seu acordo com o FMI, mas cumprir com as metas do programa será uma tarefa árdua, especialmente devido às eleições [presidenciais e parlamentares] do próximo ano".

No acordo, a Argentina se compromete a reduzir o déficit das contas públicas de 3%, em 2021, para 2,5% este ano, 1,9% em 2023 e 0,9% em 2024.

Veja também

Governo bloqueia R$ 6 bilhões do Orçamento de 2024
Orçamento de 2024

Governo Federal bloqueia R$ 6 bilhões do Orçamento de 2024

Wall Street fecha em alta com Dow Jones atingindo novo recorde
Bolsa de Nova York

Wall Street fecha em alta com Dow Jones atingindo novo recorde

Newsletter