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LUTO

Morre Rosa Cass, pioneira do jornalismo econômico no país, aos 97 anos

Amiga pessoal de escritoras como Clarisse Lispector e Nélida Pinõn, ela trabalhou no Jornal do Comércio, na Tribuna da Imprensa e na Folha de S. Paulo

Rosa Cass, primeira jornalista setorista de economiaRosa Cass, primeira jornalista setorista de economia - Foto: Reprodução/Rede sociais

Morreu neste sábado (10), aos 97 anos, a jornalista Rosa Cass. Ela foi uma das pioneiras no jornalismo econômico no país, tendo trabalhado no Jornal do Comércio, na Tribuna da Imprensa e na Folha de S. Paulo.

Nascida em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, Rosa vem de uma família que chegou ao Brasil fugindo da perseguição aos judeus na Moldávia. Formada em Pedagogia pela Faculdade Nacional de Filosofia, ela cursou parte do curso de jornalismo na mesma instituição.

Com isso, o jornalismo foi uma carreira na qual ingressou já após um período atuando como professora e pedagoga. Ela se especializou na cobertura de finanças e é apontada como a pessoa que ajudou a formar gerações de jornalistas na área de economia, sobretudo nas décadas de 1980 a 2000.

Os colegas se referem a ela como “ídola”, refletindo a admiração pela profissional de posicionamentos corajosos e que não se deixava intimidar, buscando incansavelmente a notícia.

“Rosa Cass foi uma jornalista aguerrida, questionadora e à frente do seu tempo. Ajudou a formar uma geração de jovens jornalistas, especialmente mulheres que estavam chegando à Editoria de Economia após a Ditadura. Deixa legado de luta e compromisso com a causa do combativo Jornalismo”, disse em nota Octavio Costa, presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI).

A conduta firme é destacada por todos que conviveram com ela. Mas também o lado amigo e carinhoso com os que estavam a sua volta: “Veterana jornalista de economia, uma unanimidade no coração afetivo dos colegas de trabalho”, definiu Aziz Ahmed, que foi diretor do Jornal do Comércio.

“Foi uma repórter pioneira e corajosa. Me inspirou muito no começo da minha carreira pela coragem com que enfrentava os banqueiros”, disse Vicente Nunes, correspondente do Correio Braziliense na Europa, em seu perfil no Twitter.

Sônia Araripe, editora da revista Plurale, escreveu em uma postagem no perfil de Rosa no Facebook no último mês de abril: “Jornalista relevante de economia — sempre combativa — ajudou a formar uma legião de ‘coleguinhas’. Abriu espaço principalmente para as ‘meninas’ que chegavam”.

Na ocasião, um grupo de perto de 15 jornalistas gravou em vídeo depoimentos pelo aniversário de Rosa. “Ela assistiu e adoooorou!”, afirmou a Sônia.

Nesse vídeo, há depoimentos de jornalistas como o próprio Nunes, que destacou a forma como ela não se deixava intimidar pelas fontes, e teve passagens em que confrontou autoridades como Gustavo Franco, Fernando Henrique Cardoso e Delfim Neto.

Cristina Alves, ex-editora de Economia do GLOBO e sócia da Danthi Comunicação, frisou que aprendeu com Rosa a ter coragem de perguntar sem ser deselegante, fazendo perguntas importantes e pertinentes para a economia.

“Sabia tudo de economia e nenhum entrevistado conseguiu enrolar a primeira setorista da área, era bem informada”, publicou no perfil de Rosa no Facebook a jornalista Verônica Maria Moreira Barbosa.

Referência na cobertura do noticiário de economia, Rosa era também atuante em cultura e literatura. Foi amiga pessoal de escritoras como Clarice Lispector e Nélida Piñon, frequentava os ateliês de artistas como Fayga Ostrower e outros.

Ela atuou ainda como voluntária no Instituto Rogério Steinberg, editando o jornal da entidade e treinando jovens de comunidades de baixa renda.

Segundo amigos da jornalista, o velório será realizado neste domingo, das 7h30 às 9h30, na Rua Barão de Iguatemi 306, Praça da Bandeira. O enterro será no cemitério israelita de Belford Roxo.

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