Montadora chinesa

Bahia aposta alto na montadora chinesa BYD para virar página da Ford

O que os baianos esperam da montadora chinesa BYD?

Complexo da Ford deve abrigar a montadora chinesa BYD, que receberá investimento de R$ 3 bilhõesComplexo da Ford deve abrigar a montadora chinesa BYD, que receberá investimento de R$ 3 bilhões - Foto: Ford-Divulgação

São altas as expectativas em torno dos impactos positivos que deverão ser gerados pela montadora chinesa BYD na Bahia e, particularmente em Camaçari, considerando o rastro de destruição deixado pela saída da Ford na economia e mercado de trabalho. É uma página que empresários, profissionais desempregados, especialistas e governantes querem virar.

Os números sobre os estragos deixados pela marcha a ré da Ford são superlativos. O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) calcula que 50 mil pessoas perderam o emprego em toda a cadeia produtiva da montadora, incluindo os fornecedores de alimentação, transporte para os empregados, vigilância patrimonial e outros serviços. São 15 mil desempregados oriundos apenas da linha de produção.

Já a prefeitura de Camaçari estima que R$ 20 milhões por mês saíram de circulação da economia municipal, considerando somente os salários de empregados diretos da montadora e sistemistas.

Complexo da Ford deve abrigar a montadora chinesa BYD, que receberá investimento de R$ 3 bilhões

Complexo da Ford deve abrigar a montadora chinesa BYD, que receberá investimento de R$ 3 bilhões/Foto: Ford-Divulgação

 

É essa história que entidades empresariais do estado, lideranças dos trabalhadores, economistas e poder público querem superar com a chegada da BYD. A previsão é que o parque da montadora no Brasil comece a operar no segundo semestre de 2024.

O projeto da companhia prevê a instalação de três células em Camaçari, com investimento total de R$ 3 bilhões em uma montadora de veículos elétricos/híbridos, uma planta de chassis de ônibus e caminhões elétricos e uma fábrica de baterias de lítio. A estimativa é de que o complexo gere 5 mil empregos, entre diretos e indiretos.

Armando Avena: montadora chinesa BYD pode viabilizar polo de autopeças no Nordeste

Armando Avena: montadora chinesa BYD pode viabilizar polo de autopeças no Nordeste/Foto: Armando Avena-Divulgação

Montadora chinesa BYD pode colocar Bahia entre os líderes em elétricos no Brasil

Economista com mestrado em Planejamento Global e Política Econômica e doutorado em Ciências Sociais, o ex-secretário de Planejamento da Bahia (2003/2006), Armando Avena, aposta que a BYD vai colocar a Bahia numa posição de destaque na indústria brasileira de carros elétricos e híbridos.

“A BYD é a maior produtora de carros elétricos do mundo, superior à Tesla de Elon Musk e tem tecnologia de ponta”. Ele também acredita que apesar da rivalidade no mercado, BYD e a Stellantis, que possui um complexo automotivo em Goiana (Pernambuco), podem se beneficiar de sinergias.

“A fábrica da BYD e a da Stellantis podem ser parceiras na montagem de um polo de fornecedores no Nordeste, como, aliás, vem sendo destacado pela própria Stellantis. A demanda por peças e equipamentos das duas fábricas pode dar escala para a construção de um polo de autopeças no Nordeste”, explica.

Sobre o impacto tecnológico, Avena ressalta que a BYD pode representar um novo salto para a Bahia e o Brasil como um todo, graças à possibilidade de se unir o know how que o grupo já detém com o trabalho do centro tecnológico Senai Cimatec Park. Localizada em Camaçari, a unidade tem quatro milhões de metros quadrados.

Com laboratórios avançados, grandes usinas piloto, áreas de segurança para testes e operações de risco e até uma pista de teste do setor automotivo, o Cimatec foi implantado inicialmente com apoio da Ford.

Mas segue ativo após a saída da montadora, graças à Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb) e ao Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). “O núcleo conta com um time de dois mil engenheiros altamente especializados”, ressalta o ex-secretário.

Quanto ao impulso no comércio exterior, Avena lembra que a BYD já vai encontrar pronta a infraestrutura para exportação, graças ao Terminal Portuário Miguel de Oliveira, conhecido como Porto da Ford. Localizado próximo ao Porto de Aratu (município de Candeias), o terminal tem 119 mil metros quadrados, 195 metros de comprimento e profundidade entre 12 a 14 metros. A largura do canal é de 26 metros.

Ele frisa que a nova montadora vai contribuir para a recuperação do peso dos produtos manufaturados na pauta de exportações da Bahia. “Haverá maior diversificação. Vale lembrar que as exportações baianas estão muito concentradas em commodities, o que piorou com a saída da Ford”, analisa.

Carlos Henrique Passos vê impacto da montadora chinesa BYD em toda a cadeia da mobilidade elétrica

Carlos Henrique Passos vê impacto da montadora chinesa BYD em toda a cadeia da mobilidade elétrica/Foto: Fieb (Divulgação)

Fieb: Ecossistema da montadora chinesa BYD pode ir muito além da indústria de veículos

O presidente em exercício da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), Carlos Henrique Passos, afirma que a BYD vai gerar um novo ciclo virtuoso na indústria baiana, assim como a Ford, porém dessa vez com possibilidades ampliadas pelas oportunidades tecnológicas trazidas pela transição do carro a combustão para veículos elétricos ou híbridos.

“Teremos a abertura de novas oportunidades de trabalho em setores como manufatura, pesquisa e desenvolvimento. E também nas áreas de vendas e serviços de suporte para veículos elétricos, baterias e produtos de energia renovável. Além disso, haverá a transferência tecnológica e inovação, encorajando empresas locais e instituições de pesquisa a colaborar e inovar em áreas relacionadas. Isso cria condições para um ecossistema fortíssimo”, sustenta.

 

Júlio Bonfim considera a montadora chinesa BYD "luz no fim do túnel"/Foto: Júlio Bonfim (Divulgação)

Metalúrgicos esperam que a montadora chinesa BYD reative o mercado de trabalho

O Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari teve, em julho, uma primeira reunião com a diretora nacional de Recursos Humanos da BYD, Gabriela Masetto, e o Governo da Bahia para tratar do aproveitamento da mão de obra disponível na região.

Outros encontros estão em fase de articulação, mas a ideia é construir uma agenda em parceria para suprir a demanda de trabalhadores no complexo automotivo a partir dos milhares de desempregados deixados pela Ford.

“Temos uma quantidade muito grande de operadores disponíveis e com experiência sólida, não só na linha de produção dos veículos, mas também nas áreas de logística, manutenção e engenharia, todos prontos para iniciar o processo produtivo da BYD”, afirma o representante do sindicato nas negociações, Júlio Bonfim, ressaltando que as discussões ainda são “preliminares”.

Ele destaca que o sindicato está consciente do processo fabril bem mais enxuto da montadora chinêsa, graças ao nível de automação maior e às particularidades dos motores elétricos, com menos componentes que os similares a combustão. “Ainda assim, um quadro com 5 mil empregos é muito significativo. Representa uma luz no fim do túnel diante da situação que estamos passando”, afirma.

Prefeito quer atrair polo de fornecedores que vá muito além das autopeças

Prefeito quer atrair polo de fornecedores que vá muito além das autopeças/Foto: Tiago Pacheco

Prefeitura trabalha para adensar cadeia produtiva da montadora chinesa BYD

O prefeito de Camaçari, Elinaldo Araújo (União Brasil), destaca que a vinda da BYD representa a oportunidade não apenas de reanimar a indústria automobilística local, mas também de viabilizar um polo automotivo na região que vá muito além das autopeças.

“Esperamos que a montadora atraia fornecedores de diversos tipos, tanto para a área de autopeças e outros equipamentos, quanto de serviços. Temos conversado e a empresa se mostra bastante disposta a contribuir para o desenvolvimento regional, dando prioridade a fornecedores locais já instalados ou que venham a se instalar aqui. Esta é uma das nossas principais frentes de trabalho. Queremos adensar essa cadeia produtiva e todos saem ganhando com isso, incluindo a BYD”, explica.

Angelo Almeida espera atração de novos investimentos voltados para a sustentabilidade

Angelo Almeida espera atração de novos investimentos voltados para a sustentabilidade/Foto: João Ferreira (Ascom SDE) 

Governo considera montadora chinesa BYD avanço da sustentabilidade na indústria baiana

Para o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Angelo Almeida, “a BYD vai representar um impulso significativo para o desenvolvimento econômico do estado”, abalado com a saída da Ford.

Ele ressalta que “além disso, a BYD contribuirá para o avanço da sustentabilidade e da matriz energética limpa, promovendo a redução das emissões de gases de efeito estufa e a atração de novos investimentos para o setor na Bahia”. “Essa parceria estratégica fortalecerá a economia baiana e abrirá novos caminhos para o crescimento sustentável e inovador”, comemora.

 

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