Indústria naval: Atlântico Sul espera alavancagem com encomendas do PAC3
Novo CEO afirma que a companhia está pronta para ciclo de expansão da indústria naval
O anúncio da inclusão, no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 3) de 25 navios petroleiros e 26 plataformas obsoletas que serão reaproveitadas para outros fins (descomissionamento) anima a indústria naval em Pernambuco. Pioneiro, no país, da retomada do setor nos anos 2000, o Estaleiro Atlântico Sul Heavy Industry Solutions (Complexo de Suape) se diz preparado para o novo momento, especialmente para atender às demandas da Petrobras e Transpetro.
Segundo o novo CEO da companhia, Roberto Brisolla, “a perspectiva de retomada da indústria naval será uma grande oportunidade para alavancar os negócios do Atlântico Sul Heavy Industry Solutions”.
“Nesse novo contexto, poderemos abraçar projetos maiores e novos desafios, focados sobretudo no setor de óleo e gás. Temos ativos, pessoal treinado e processos num nível elevado de preparação”, disse o executivo.
Roberto Brisolla assumiu recentemente o comando do Atlântico Sul após o soerguimento e redirecionamento de negócios da empresa na gestão bem-sucedida de Nicole Mattar. A ex-presidente, que chegou ao estaleiro num momento em que a empresa estava praticamente fechada, inseriu a companhia no nicho de reparos navais, vendeu ativos e preparou o terreno para entrada da planta naval em outras atividades, como a produção de equipamentos para geração de energia.
Indústria naval: Atlântico Sul Heavy Industry Solutions, em Pernambuco, foi o pioneiro da fase de retomada do setor no Brasil, nos anos 2000/Foto: Atlântico Sul Heavy Industry Solutions (site)
Atlântico Sul é case de reposicionamento na crise da indústria naval
Desde o ano passado, o Atlântico Sul Heavy Industry Solutions vem implementando um processo de reposicionamento, intensificando os serviços de reparo de navios e começando a operar em outros segmentos, como os de construção de grandes estruturas metálicas onshore e offshore, além de continuar prospectando o mercado de torres de energia eólica.
“Por exemplo, estamos atuando na fabricação de grandes estruturas metálicas (“subsea”) desenhadas especialmente para apoio de complexos sistemas de plataformas de petróleo”, revela o CEO.
Alguns críticos mais contundentes da produção de navios no Brasil, como o economista Adriano Pires, fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), defendem que o país devia estimular exatamente o setor de subsea, no qual tem condições de competitividade internacional, não o de embarcações.
O Atlântico Sul, mesmo discordando desse diagnóstico, se mostra bastante atento às oportunidades no subsea. Em junho passado, fechou contrato para a fabricação de 80 grandes estruturas (“reels”) de lançamento de tubos que vão operar no porto do Açu (Rio de Janeiro).
É um setor com muitas possibilidades de demanda. Isso se deve à expansão da produção da Petrobras em alto-mar e projetos de exploração futura em outras regiões submersas, como a foz do Rio Amazonas – iniciativa que enfrenta resistência dos ambientalistas. Entre os opositores, está a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva.
Vale ressaltar que a expertise do Brasil em subsea tem relação direta com a liderança da Petrobras, que há 30 anos domina em nível global a tecnologia de extração de petróleo em águas profundas.
Indústria naval: reparos de navios foi estratégico para soerguimento do Atlântico Sul
O Atlântico Sul precisou se reinventar nos últimos anos. Com a fabricação de navios nos estaleiros no Brasil paralisada na segunda metade da década de 2010 – por causa da crise da Petrobras em meio à Operação Lava-Jato – o setor de reparos navais surgiu como alternativa para reativar as operações da planta.
Segundo Roberto Brisolla, só este ano o estaleiro já efetuou o reparo de dez embarcações. Desde 2020, foram ao todo 43 reparos, entre navios de cabotagem de grande porte, navios de apoio offshore e outros.
Para esse tipo de serviço, a companhia se beneficia de sua estrutura privilegiada, utilizando seu dique seco a plena capacidade. Graças ao sucesso nesse segmento, a empresa voltou a operar e gera atualmente cerca de mil empregos.
Sérgio Bacci: poder de fogo de R$ 12,5 bilhões e missão desafiadora de contribuir para a reativação de uma indústria naval quebrada/Foto: Transpetro (Divulgação)
Industria naval se reúne à espera das novas encomendas da Transpetro
Brisolla participou, nesta quarta-feira (22) da abertura da Navalshore (Rio de Janeiro), uma das maiores e mais tradicionais feiras do setor. No evento, esteve ao lado do novo presidente da Transpetro, Sérgio Bacci, que também é ex-vice do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval).
Bacci tem décadas de atuação em estaleiros e sabe exatamente o desafio que agora tem pela frente não mais como fornecedor, mas como o cliente com poder de fogo de bilhões na ponta da caneta e a missão de contribuir para a reativação de uma indústria quebrada.
Em conversa com o Movimento Econômico, esta semana, Bacci afirma que o programa de encomenda de embarcações da Transpetro, a ser lançado em 2024, além de petroleiros, deve incluir também gaseiros e navios para o transporte de derivados (produtos claros e escuros). Ele deixa aberta a possibilidade de que o número de embarcações supere as 25 previstas no PAC 3, mas não adianta detalhes. O investimento no programa é estimado em RS 12,5 bilhões, o que pode variar dependendo da configuração final do pacote.
Segundo ele, “o propósito do governo federal é o de incentivar fortemente a retomada do setor”. “Criamos um grupo de trabalho para estabelecer um programa de construção de embarcações e plataformas para a exploração de óleo e gás”, acrescenta. “A retomada da indústria naval é fundamental para o Brasil”, conclui.