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Indústria naval: EAS pronto para descomissionamento, que pode movimentar R$ 51 bi

Plantas da indústria naval se preparam para novo negócio com a Petrobras

Indústria naval: EAS consolida diversificação de negócios com entrada no mercado de descomissionamentoIndústria naval: EAS consolida diversificação de negócios com entrada no mercado de descomissionamento - Foto: Atlântico Sul Heavy Industry Solutions (Banco de Imagens)

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A indústria naval do Brasil tem uma oportunidade de R$ 9,8 bilhões com o programa de descomissionamento de 26 plataformas de petróleo obsoletas da Petrobras entre 2023 e 2027. Em Pernambuco, o estaleiro Atlântico Sul Heavy Industry Solutions (EAS) afirma já estar pronto para entrar no novo negócio, anunciado pela petroleira no início do ano, incluído no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 3) e detalhado recentemente.

Vale ressaltar que os números atuais do programa da Petrobras são apenas a parte mais visível de um negócio com um potencial bem maior. A companhia já informou que vai integrar outras 27 unidades a essa iniciativa, de 2028 a 2029.

Os horizontes desse mercado se ampliam ainda mais, considerando as estimativas da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Estudos da entidade apontam que o descomissionamento pode movimentar R$ 51 bilhões, no Brasil, até 2026, considerando outras companhias que atuam na indústria de petróleo e gás e unidades de produção on-shore (em terra).

São cifras que apontam um caminho possível para a revitalização de estaleiros, como o EAS, que sinaliza para a entrada no segmento. “O Estaleiro Atlântico Sul reitera que está preparado para os desafios do setor. Analisa as demandas da Petrobras com grande atenção e avaliará as oportunidades propostas pelos planos de descomissionamento”, afirma a empresa por meio de nota, sem entrar em detalhes para não entregar o jogo à concorrência.

Indústria naval: EAS tem expertise no atendimento à indústria de petróleo offshore

Localizado no Complexo de Suape, o EAS já tem expertise no atendimento à indústria de petróleo offshore (alto mar). A empresa atua tanto na construção de plataformas, como em subsea (setor de equipamentos submersos). O EAS construiu o casco da plataforma P-55, entregue em 2011, e este ano entrou no subsea, uma de suas novas atividades.

A primeira entrega desse tipo de produto foi realizada pelo EAS em fevereiro passado. Em junho, a companhia fechou um segundo contrato no setor, para a fabricação de 80 grandes estruturas de lançamento de tubos flexíveis, conhecidas como “reels” (carretéis) e que vão operar no porto do Açu (RJ).

Indústria naval: EAS acelera estratégia de diversificação de negócios

A entrada no mercado de descomissionamento marca uma fase de aceleração na estratégia de diversificação de negócios do EAS, como reação à crise da indústria naval brasileira, que levou a planta a fechar no final da década passada.

Para voltar a operar, o estaleiro precisou se reinventar, em meio à extinção do programa de encomenda de embarcações da Petrobras, nos governos Temer e Bolsonaro. A planta, além de vender R$ 455 milhões em ativos, se voltou para o reparo de navios, se preparou para o fornecimento de estruturas para indústria de equipamentos eólicos, entrou no subsea e agora quer aproveitar as chances oferecidas pelo descomissionamento de plataformas.

Indústria naval do Brasil vê descomissionamento como promissor

O reaproveitamento de plataformas, com objetivos de sustentabilidade, é visto como “uma oportunidade de negócios nova e promissora” pelo secretário-executivo do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval), Sérgio Leal.

Ele ressalta, no entanto, que, para uma parte dos estaleiros brasileiros - especialmente aqueles que foram projetados tendo como core business a produção de embarcações - a atividade é viável como uma fonte de receita complementar para os períodos de ociosidade, não podendo ser vista como o negócio principal.

“O desmantelamento de plataformas, e também de navios, permitirá que os estaleiros nacionais se mantenham ocupados enquanto não estão exercendo sua atividade primordial, para a qual muitos deles foram instalados, que é a construção de novos navios e plataformas”, defende.

Segundo Sérgio Leal, “a ocupação das empresas com o descomissionamento amenizará os impactos dos períodos em que não houver contratos de construção em andamento, com benefícios também na criação de empregos”.

Para o executivo, “o grande número de plataformas que serão desmontadas nos próximos anos poderá assegurar um fluxo de trabalho adicional e de recursos para os estaleiros que se integrarem a esse setor”.

Em relação às encomendas de novas embarcações, as atenções do Sinaval estão voltadas para o programa de construção de 25 navios petroleiros que será lançado pela Transpetro – braço logístico da Petrobras – no início de 2024 e que também integra o novo PAC. A previsão é que esses contratos movimentem R$ 12,5 bilhões.

Petrobras reforça ESG com programa de descomissionamento

Num cenário global marcado pelas pressões para a descarbonização da economia e para a adequação dos negócios ao ESG (governança ambiental, social e corporativa), a Petrobras dá um passo importante com o programa de descomissionamento. A meta da companhia é, por meio dessa iniciativa, destinar 650 mil toneladas de aço para a reciclagem até 2027.

“Demonstramos nosso compromisso com a sustentabilidade e a responsabilidade ambiental, que abrange várias áreas, desde a minimização da geração de resíduos até o controle de emissões de carbono e a prevenção de impactos à biodiversidade”, afirma a petroleira.

“Além disso, a segurança e a saúde dos trabalhadores envolvidos nas atividades de reciclagem são prioridades, assim como o respeito aos direitos humanos assumidos por nossa empresa”, acrescenta.

Indústria naval nacional: programa da Petrobras beneficia estaleiros brasileiros e geração de emprego no país

Indústria naval: edital de licitação para o descomissionamento da P-33 assegura preferência a estaleiros no Brasil/Foto: André Ribeiro (Agência Petrobras)

Indústria naval brasileira tem espaço assegurado no programa da Petrobras

O edital de licitação da P-33, primeira plataforma a ser descomissionada no âmbito do novo programa, acaba de ser lançado pela Petrobras. Localizada na Bacia de Campos, no Campo de Marlim (RJ), a unidade é uma FPSO (Floating Production, Storage and Offloading ou plataforma flutuante), com 337 metros de comprimento, 54,5 metros de largura e peso de 49 mil toneladas.

Tanto no edital desse projeto, como no comunicado divulgado pela empresa, a petroleira deixa claro que o programa de descomissionamento visa não apenas a sustentabilidade, mas também impulsionar a indústria brasileira - leia-se estaleiros nacionais - e a geração de empregos no país.

Para concorrer à licitação, as empresas interessadas devem se habilitar até 16 de outubro, ser estaleiros localizados no Brasil ou estar associadas a players do setor naval nacional e contar com dique seco.

Essa estrutura é uma eclusa onde acontece grande parte dos processos da indústria naval e, nesse ponto, o EAS leva vantagem em relação a alguns concorrentes que não contam com esse tipo de doca.

O que é o descomissionamento de plataformas de petróleo?

O descomissionamento, na indústria de petróleo, marca o final do ciclo de vida de um sistema de produção e consiste em um conjunto de atividades associadas à interrupção definitiva das operações de uma plataforma e equipamentos associados, quando se esgotam as oportunidades de extensão ou manutenção das operações.

É o equivalente à reciclagem de uma plataforma, que pode ter suas estruturas destinadas à gestão ambientalmente correta de resíduos, como o uso de sucata metálica na indústria siderúrgica. Em alguns casos, a unidade é adaptada e reaproveitada para outras finalidades, como recifes artificiais, estações meteorológicas, centros de pesquisa, locais de produção de energia e armazenamento de CO2.

Os objetivos do descomissionamento são implementar ações de minimização da geração de resíduos na cadeia de petróleo e gás, prevenir impactos à biodiversidade com a operação de plataformas que, pelo tempo de uso, não apresentam condições de segurança e estimular a economia circular.

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