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BYD no Brasil

Montadora chinesa BYD desafia crise do setor e acredita em expansão dos elétricos

Confira entrevista com o conselheiro da montadora chinesa BYD, Alexandre Baldy

Empresário, gestor público e político, bem-sucedido em todas as áreas em que atua. Essa frase pode resumir a biografia do goianiense Alexandre Baldy de Sant’Anna Braga, 43 que, agora, está diante do maior desafio de sua carreira: participar do conselho de administração da montadora chinesa BYD no Brasil.

Ex-ministro das Cidades no Governo Temer, ex-secretário estadual de Transportes Metropolitanos de São Paulo no Governo Doria e ex-secretário de Indústria, Comércio e Serviços de Goiás, o industrial e produtor rural se depara com essa missão.

É um trabalho que envolve uma grande oportunidade, mas também um risco proporcional. Inclui tomar decisões estratégicas para inserir uma gigante da indústria automobilística da China num mercado ainda incipiente, mas com grande potencial: o de veículos elétricos e híbridos no país.

A variável incômoda é o ciclo de crises que o setor automotivo vem enfrentando, no Brasil, nos últimos anos. Um panorama marcado por vendas em queda, paralisações de produção e desinvestimento, com a saída de grandes players, como a Mercedes-Benz, Troller e Ford.

Entre as montadoras que deram marcha a ré, o caso mais emblemático é o da pioneira no país, a Ford, que começou as operações no Brasil em 1919. Em janeiro de 2021, 102 anos depois da chegada, a norte-americana anunciou o encerramento de suas atividades fabris no 6º maior mercado de veículos novos do mundo, de acordo com a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).

De forma emblemática, a BYD deve aportar exatamente no maior parque da Ford no Brasil, localizado em Camaçari (BA) - um dos principais polos industriais brasileiros. Conversamos sobre esse contexto complexo e ao mesmo tempo repleto de simbolismos com Alexandre Baldy.

Alexandre Baldy: desafio de fazer a montadora chinesa BYD decolar no Brasil, em meio a uma forte crise do setor/Foto: BYD (Divulgação)

Alexandre Baldy: desafio de fazer a montadora chinesa BYD decolar no Brasil, em meio a uma forte crise do setor/Foto: BYD (Divulgação)

"O setor automotivo, assim como vários outros da economia, passa por um momento de transformação. A combinação entre desempenho e economia (que os veículos elétricos proporcionam em escala muito maior) também passa pela preocupação em preservar o planeta." Alexandre Baldy, conselheiro da montadora chinesa BYD

 

ME - A indústria automobilística do Brasil foi bastante afetada pela sucessão de crises nos últimos anos. Em 2023, chegou a paralisar a produção. Como a BYD vê esse panorama desafiador?

Alexandre Baldy - O Brasil é a maior economia da América Latina e um país apaixonado por carros. A BYD enxerga o momento atual como uma oportunidade para oferecer ao consumidor brasileiro seus veículos tecnológicos, eficientes e, no caso dos 100% elétricos, que não emitem poluentes.

ME – O que explica a entrada da empresa no Brasil no vácuo da saída de outras montadoras do país, como a Ford?

Alexandre Baldy -  O setor automotivo, assim como vários outros da economia, passa por um momento de transformação. Hoje, a combinação entre desempenho e economia (que os veículos elétricos proporcionam em escala muito maior) também passa pela preocupação em preservar o planeta.

ME - O carro elétrico ainda é um produto caro, em relação aos modelos à combustão. Como a BYD vai enfrentar esse desafio, ainda mais num país que é um grande produtor de petróleo e também de álcool (combustível bem mais limpo que a gasolina)?

Alexandre Baldy - A BYD acredita que os brasileiros estão cada vez mais conscientes da necessidade de terem na garagem veículos que sejam amigos do meio ambiente. É por isso que vamos instalar uma fábrica na Bahia onde teremos a oportunidade de trazer para o mercado nacional preços ainda mais competitivos. Sobre o etanol, estamos estudando a possibilidade de termos um híbrido flex entre os nossos modelos.

ME - Que cenário para a indústria automobilística global, a BYD enxerga para os próximos cinco anos?

Alexandre Baldy - A BYD enxerga um cenário de expansão da indústria de veículos elétricos e híbridos e está comprometida com esse movimento. Neste mês, fabricamos o veículo de número 5 milhões. A velocidade deste mercado não para de crescer. Para chegar ao primeiro milhão de unidades eletrificadas levamos 13 anos, do primeiro ao terceiro milhão foram 18 meses e do terceiro para o quinto milhão apenas 9 meses. Isso mostra a força dos carros de energia limpa.

ME - Já é oficial a localização do parque da BYD nas antigas instalações da Ford?

Alexandre Baldy - Tornar pública a localização exata ainda passa por negociações que devem ser concluídas em breve.

 

"Sobre o etanol, estamos estudando a possibilidade de termos um híbrido flex entre os nossos modelos", afirma o conselheiro da montadora chinesa BYD

 

ME - Como vcs vêem a alta expectativa da Bahia em relação à BYD? A Ford tinha um peso grande na economia, emprego, exportações e, claro, se espera que a BYD ocupe esse espaço.

Alexandre Baldy - A BYD acredita na Bahia e no Brasil e por isso vai investir 3 bilhões de reais para construir as três fábricas no estado. Uma unidade será dedicada à produção de caminhões elétricos e chassis para ônibus, com possibilidade de abastecer o mercado das regiões Norte e Nordeste do Brasil, a outra dedicada à produção de automóveis híbridos e elétricos, com capacidade estimada em 150 mil unidades ao ano, e a terceira, ao processamento de células de lítio e ferro fosfato, com a expectativa de geração de 5 mil empregos.

ME - O que determinou a instalação da planta na Bahia?

Alexandre Baldy - A Bahia tem um ambiente propício para o desenvolvimento da nova indústria que combina uma boa infraestrutura, mão de obra, uma zona portuária próxima e uma localização estratégica. 

ME - Já que a BYD vai estar localizada num país produtor de etanol, os motores serão híbridos (eletricidade e etanol)?

Alexandre Baldy - Nós estamos estudando a possibilidade de adotarmos nos nossos veículos híbridos o etanol como uma opção de combustível.

ME - Hoje, existe em Pernambuco, praticamente do lado da futura BYD, uma das montadoras mais modernas do mundo a da Stellantis. A BYD vem para concorrer no mesmo nível em termos tecnológicos?

Alexandre Baldy - Não tenho como comentar as instalações da empresa concorrente, mas posso afirmar que a BYD vai trazer o que existe de mais eficiente e tecnológico na fabricação de automóveis com uma fábrica que espelha o que de mais moderno temos na nossa matriz. A BYD é uma empresa de tecnologia com mais de 70 mil engenheiros que trabalham dia e noite para aperfeiçoar e criar novos produtos e tecnologias para melhorar cada vez mais a qualidade dos nossos produtos.

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