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Mobilidade

Precisamos de carros elétricos?

O Brasil dispõe de mais de 40 mil postos de abastecimento para etanol e o elétrico engatinha nisso.

Patricia RaposoPatricia Raposo - Foto: Alexandre Aroeira/FolhaPE

O Brasil precisa de carro elétrico? Esta pergunta circula em rodas de conversas no setor automotivo, de produção de etanol e de geração de energia, e entre os preocupados com as mudanças climáticas. Mas a resposta depende de outra: qual a diretriz que o governo brasileiro quer dar à sua mobilidade?

O modelo elétrico avançou na Europa, continente que deseja bater a meta da redução das emissões de CO2 em 55% até 2030, mas é carente de fontes renováveis. Ainda que emita menos CO2, os carros elétricos de lá usam fontes da energia sujas. Ajustar isso é outro problema.
Empolgados com a novidade europeia, brasileiros privilegiados passaram a adotar o modelo elétrico, alguns bem mais preocupados com a economia no bolso do que propriamente com o Acordo de Paris.

E o governo brasileiro? Depois de muita pressão, a nova política da Petrobras baixou os preços da gasolina artificialmente, ignorando a paridade de preços com o mercado internacional e sinalizando, no curto prazo, que segue estimulando à mobilidade à combustão. 

Levantamento da Datagro, mostra que, com isso, o preço médio da gasolina nas refinarias está 26,1% abaixo da paridade. O do diesel também (-12,6%). Algo discrepante diante da alta demanda mundial por petróleo - 103 milhões de barris/dia em julho, segundo Goldman Sachs.
Naturalmente, por aqui, o consumo de gasolina disparou (+16,7%) no 1º semestre, derrubando o do etanol (-11,5%). Não por caso a importação de gasolina neste período dobrou em relação a 2022: foram 2,3 bilhões de litros. 

Mas, enfim, o Brasil precisa de carro elétrico? Carro híbrido a etanol é o ideal, como já planejam as montadoras, cientes do poder do combustível oriundo da cana de açúcar e do potencial do Nordeste para gerar energia limpa. O Brasil dispõe de mais de 40 mil postos de abastecimento para etanol (o elétrico engatinha nisso) e sua frota de carros leves é 85% flex. 

Por essas razões, o estímulo ao uso do álcool anidro precisa entrar na pauta dos governos e do Congresso Nacional com o mesmo peso de importância que tiveram as recentes reformas, porque a transição energética é uma reforma fundamental para o futuro de nosso país e para a vida do planeta. 

O Brasil precisa de um plano até dispor da energia limpa e de pontos de abastecimento elétricos suficientes. E isso requer algumas centenas de milhões de reais em investimento e tempo, para darmos um fim aos veículos a combustão. Se esse for realmente o caminho, claro.

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