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Mudança de postura da Meta representa o fim do fact-checking?

Fact-checking (ou verificação de informação) se desenvolveu no começo da década de 2000 nos Estados Unidos

Mark Zuckerberg, CEO da Meta, e uma imagem do logo da MetaMark Zuckerberg, CEO da Meta, e uma imagem do logo da Meta - Foto: Drew Angerer / AFP

A decisão da Meta, casa matriz de Facebook, Instagram e WhatsApp, de encerrar seu programa de verificação de informação nos Estados Unidos preocupa veículos de mídia em todo o mundo. O que o futuro reserva para o fact-checking em um contexto de proliferação de notícias falsas?

Crescimento em expansão
Transformado em um formato jornalístico próprio, o fact-checking (ou verificação de informação) se desenvolveu no começo da década de 2000 nos Estados Unidos, impulsionado pela internet e por veículos de mídia interessados em confrontar as declarações de personalidades com a realidade.

Um exemplo é o site PolitiFact, lançado em 2007, ganhador do prêmio Pulitzer em 2009.

Da correção de números em tempo real na TV a artigos online marcados como "verdadeiro ou falso", o método se disseminou rapidamente por todo o mundo. No entanto, houve um ponto de inflexão em 2016, com a eleição de Donald Trump para a Casa Branca e o referendo do Brexit.

Diante da avalanche de notícias falsas e teorias da conspiração nas redes sociais, gigantes da tecnologia como a Meta promoveram programas de checagem para além da política, associando-se a veículos que viram nisto uma oportunidade financeira em um contexto econômico difícil.

Recursos vitais para certos veículos
Dez organizações são afetadas pela decisão da Meta, que por enquanto só se aplica aos Estados Unidos. Algumas dependem completamente da gigante tecnológica, como a Check Your Fact, segundo o veículo americano Business Insider.

Outras, como o PolitiFact, parecem menos vulneráveis, obtendo pouco mais de 5% de sua receita com esta associação, segundo o jornal The New York Times.

A Agence France-Presse (AFP) trabalha com o programa de fact-checking do Facebook em 26 idiomas. O Facebook paga para usar as verificações de cerca de 80 organizações em todo o mundo em sua plataforma, assim como no Whatsapp e no Instagram.

"Estamos avaliando a situação", assinalou a direção da agência.

A situação é especialmente delicada na África. "Existem modelos econômicos totalmente dependentes do Facebook", como Africa Check, em Dacar, e Data Check, no Camarões, assinalou Laurent Bigot, membro da Rede Internacional de Fact Checking (IFCN).

Ele advertiu que se a Meta retirar seu financiamento no continente, "este trabalho de verificação não será feito em nenhum outro lugar, e a desinformação mata todos os dias nestes países".

Objetivo de críticas
Como argumento para esta decisão, o presidente da Meta, Mark Zuckerberg, afirmou que "os verificadores de informação se tornaram politicamente enviesados demais, destruindo mais do que criando confiança, especialmente nos Estados Unidos". Segundo ele, a Meta busca "restaurar a liberdade de expressão em suas plataformas".

Proprietário do X (antigo Twitter) e próximo do presidente eleito dos Estados Unidos, Elon Musk, há anos acusa, assim como vários políticos republicanos, os programas de fact-checking de "censurar" vozes conservadoras.

Angie Holan, diretora da IFCN, que reúne 137 organizações, respondeu que este exercício do jornalismo "nunca censurou, nem eliminou publicações". Os verificadores "adicionam informação e contexto a afirmações controversas, seguindo princípios transparentes e não partidários".

Em períodos eleitorais, as pressões e ameaças contra equipes de checagem digital costumam se intensificar, como ocorreu em 2024 em Índia, Coreia do Sul e Croácia. Com a nova política da Meta, a organização Repórteres Sem Fronteiras expressou sua preocupação com um "viés antijornalístico".

O fact-checking está condenado?
A jornalista filipina e ganhadora do prêmio Nobel da Paz María Ressa alertou que o Facebook permitirá "que as mentiras, a raiva, o medo e o ódio infectem cada pessoa na plataforma", o que poderia levar a "um mundo sem fatos".

"O anúncio da Meta só põe fim a uma situação anômala", afirmou Bigot. Segundo este especialista em comunicação da Universidade de Tours, "as plataformas são grandes veículos de desinformação, que tentam limpar sua imagem com estes programas".

O jornal francês Libération abandonou sua associação com a Meta em 2021. Segundo Cédric Mathiot, chefe da seção Checknews, estes contratos podem ser "um suporte econômico útil", mas também podem "frear" a revitalização da checagem de fatos.

Sem a Meta, "paradoxalmente isto poderia impulsionar o fact-checking a ser mais ambicioso", com verificações mais aprofundadas e temas mais variados, insistiu.

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