Muito além da maternidade: mães conquistam independência financeira no empreendedorismo
Se o empreendedorismo já era um caminho para muitas delas, a pandemia fez aumentar ainda mais o número de mães que se viram obrigadas a trilhá-lo
Viver todas as dificuldades de uma mãe no dia a dia nunca foi um obstáculo para mulheres que querem conquistar sua independência - muitas vezes econômica e emocional -, se firmar nos seus mercados de atuação e serem donas do seu próprio futuro.
Se o empreendedorismo já era um caminho para muitas delas, a pandemia fez aumentar ainda mais o número de mães que se viram
obrigadas a trilhá-lo. Afinal, com as crianças em casa, esse era o único caminho.
A história de Preta é daquelas que a gente só consegue respirar no final. Quando foi mãe, aos 17 anos, ela sequer se reconhecia como uma mulher negra e todas as infelizes consequências que isso lhe trazia em um país racista como o Brasil. “Desde cedo, tinha meu cabelo alisado sem que eu tivesse a possibilidade de escolher. Me incomodava, mas eu não sabia o porquê”, conta a, hoje, dona do salão Mukunã - que significa cabelo no idioma Iorubá.
No entanto, foi uma longa estrada percorrida até chegar nessa etapa da sua vida. Voltando à primeira gravidez, ela trabalhava na área de saúde - onde sempre exerceu cargos de chefia tanto na parte administrativa quanto na de enfermagem, área de sua formação acadêmica. Naquela época, por causa da gestação e da amamentação do primeiro filho, durante dois anos, a química do alisamento chegou a ficar de lado. Mas voltou até a segunda gravidez.
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Processo de transição
Nem precisa contar que Preta sequer contou com o apoio, de verdade, do pai das crianças. Foi nessa época que passou a ter con-
tato com o empoderamento da mulher negra e o processo de transição capilar que muitas começaram a realizar no eixo Rio-São Paulo. Ela passou então, tentando conciliar o emprego formal com esse novo mundo, a cuidar do seu cabelo, das amigas e até mesmo a dar treinamentos, online, de como cuidar do cabelo crespo e cachea- do.
Nesse meio tempo, veio uma especialização em São Paulo, o fim dos casamentos com a enfermagem e com o marido, empregos na área e a realização de eventos e feiras voltadas para o público negro. E teve até um terceiro filho na história, que nasceu prematuro e requereu mais cuidado. Em 2019, veio a decisão de abrir o seu próprio salão. Estava tudo muito bem quando ela, a pandemia, a obrigou fechar as portas do espaço.
“Não quis abrir mão da minha conquista. Então buscamos algumas maneiras de pagar o aluguel e o condomínio. No final do mês, eu e minha sócia, ficávamos com meio salário mínimo cada. E deu tudo certo”, conta Preta. “Nada foi fácil, mas hoje, fazemos do Mukunã um espaço não só de cuidar dos cabelos, mas de conscientização da mulher e do homem negro”, resume.
Empreender em casa E quando é a filha que tem a a ideia de montar um negócio próprio e acaba colocando, literalmente, toda família para trabalhas? Foi assim que surgiu a Frida Suculentas, uma loja especialista em vender jarros com símbolos mexicanos, principalmente as que rementem à artista Frida Kahlo.
Também na pandemia, a família se viu em dificuldades, uma vez que o pai de Luiza Meira - a dona da ideia - tinha acabado de abrir uma loja de produtos variados e precisou se adequar à situação. “Ela sempre gostou de plantas. E, em casa na quarentena, começou a fazer arranjos com cactos e suculentas e divulgar no Tik Tok”, conta a mãe, Dani Meira - que trabalhava em um salão de beleza e, por isso, precisou parar também.
Como a mãe sempre gostou do ícone Frida Kahlo, passou a pintar jarros com a imagem da mexicana para vender nas redes sociais.
Não durou muito para que a parceria das duas ganhasse, literalmente, o mundo. Por meio digital, ela já vendeu para fora de Pernambuco e países como Estados Unidos, Portugal, Holanda, Dinamarca, Canadá, Uruguai, entre outros. O próximo passo foi transformar a loja multiartigos do pai na sede da Frida Suculentas.
Um quiosque num shopping também foi uma conquista da família toda. Até porque Luiza já colocou os avós para trabalhar, enquanto cursa ciências biológicas.
Transformando a matéria-prima
Já para Marcela Montenegro, a inspiração para um novo projeto veio das matérias-primas usadas no trabalho que realizava antes da pandemia. Especialista em decorações para casamentos, ela se viu diante do cancelamento de seis eventos de uma vez em março de 2020. Pouco tempo depois, resolveu se ocupar produzindo vídeos com arranjos de flores, mas não deu muito certo.
Colocadas em um canto da casa, as flores secaram e mostraram a Marcela, uma infinidade de possibilidades de trabalho com as folhas secas. Hoje, a Bonjour Flores Secas é uma boutique de flores naturais desidratadas, que nasceu com o desejo de produzir, de forma sustentável, buquês e arranjos com flores naturais, além de objetos de decoração que transmitem significados e amor em cada detalhe. Desde então, Marcela abriu sua própria loja, na Jaqueira, e franqueou uma segunda unidade em Boa Viagem.
Mas sem deixar de lado a internet. Paixão pela culinária. No caso da doceira Sonaly Desirré, a maternidade trouxe um desafio: continuar empreendendo na sua área de paixão, a culinária. Tudo começou em 2010, quando ela pegou seu gosto pelas panelas e receitas e começou a comercializar pratos feitos. Naquele mesmo ano, ela se mudou para Minas Gerais. Casada e sem uma renda própria, Sonaly começou a fazer cupcakes para ter alguma renda.
Em 2012, aprovada em concurso público, a agora bancária voltou para o Recife e assumiu o novo cargo. Mas também não deixou de lado seu amor pela gastronomia. Além dos capcakes, passou a fazer bolos e cestas de café da manhã. Depois do nascimento de Mateus e Marina, ela decidiu que era hora de tirar o empreendimento de dentro de casa e montou uma cozinha no andar térreo. E é lá que ela recebe suas encomendas e produz suas delícias. Precisou contratar ajuda para cuidar das crianças e segue com o empreendimento. "Está no meu sangue. nada pode me afastar dessa área".