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Musk abre nova guerra no Twitter, desta vez contra a Apple. Entenda o que está em jogo

Fabricante do iPhone gasta US$ 100 milhões por ano em anúncios na rede social e é porta de entrada para 1,5 bilhão de usuários da plataforma

Elon Musk, novo diretor do Twitter Elon Musk, novo diretor do Twitter  - Foto: Olivier Douliery / AFP

Em apenas um mês, a turbulenta gestão de Elon Musk no Twitter já incluiu demitir a maioria dos funcionários da empresa, mexer em recursos importantes e restaurar contas banidas. Agora, ele está embarcando no que pode ser sua aposta mais arriscada: uma guerra contra a Apple.

O bilionário atacou a fabricante do iPhone com uma enxurrada de tuítes na segunda-feira (29), dizendo que a empresa praticamente cortou toda sua publicidade no Twitter e ameaçou derrubar a rede social da loja de aplicativos da Apple.

Além disso, Musk perguntou se a empresa odiava a liberdade de expressão, criticou as taxas cobradas pela Apple dos aplicativos e até especuou se a gigante da tecnologia poderia ir atrás de outra de suas empresas, a Tesla.

Ao mirar na Apple, Musk está desafiando uma empresa que é vital para o sustento do Twitter, já que a fabricante do iPhone era consistentemente um dos principais anunciantes da rede social, que tinha toda uma equipe de funcionários dedicada a ajudar a manter o relacionamento, segundo pessoas a par do assunto. Segundo uma das fontes, os gastos com anúncios foram bem acima de US$ 100 milhões por ano.

"Elon Musk agora representa risco, e a Apple não vai assumir esse risco" disse Lou Paskalis, executivo sênior de marketing e mídia que anteriormente ajudou a dirigir publicidade para o Bank of America.

A Apple também opera um portal essencial para os usuários do Twitter: a App Store. Se a empresa de Musk perder o acesso, ela será cortada de mais de 1,5 bilhão de dispositivos móveis em todo o mundo.

Mas o homem mais rico do mundo exerce sua própria influência. Ao retratar suas ações como uma luta pela liberdade de expressão, ele pode reunir seus milhões de fãs. E seu desdém pelas taxas da loja de aplicativos da Apple é compartilhado por desenvolvedores de software, legisladores e órgaõs reguladores em todo o mundo, dando a ele uma vantagem potencial.

A Apple não respondeu imediatamente a um pedido de comentário. Alguns usuários do Twitter disseram na segunda-feira que continuam vendo publicidade da Apple em seus feeds, mas uma pessoa familiarizada com o assunto confirmou que a empresa reduziu os anúncios.

A empresa com sede em Cupertino, na Califórnia, realiza reuniões com o Twitter para discutir vários assuntos - aproximadamente uma vez por semana - assim como faz com outros grandes aplicativos de redes sociais, incluindo Facebook e Instagram. A Apple historicamente depende muito do Twitter porque não faz propaganda no Facebook, de acordo com uma das pessoas com conhecimento de sua estratégia.

A Apple se junta a várias grandes empresas que estão reduzindo seus anúncios no Twitter desde que Musk adquiriu a empresa por US$ 44 bilhões no mês passado. O êxodo incluiu a General Mills e a Pfizer, e ele reconheceu anteriormente que as deserções levaram a uma “queda maciça” na receita.

O mercado geral de anúncios on-line está em queda, mas os profissionais de marketing estão particularmente cautelosos com o Twitter, temendo que ele esteja se tornando mais caótico. Desde a aquisição, Musk cortou milhares de empregos na empresa, alimentando preocupações de que a plataforma não será capaz de combater o discurso de ódio e as fake news.

Uma nova abordagem para verificação de contas também abriu as portas para robôs se passarem por grandes marcas, assim como o próprio Musk.

O bilionário está tentando tornar o Twitter menos dependente de publicidade, direcionando os usuários para o serviço de assinatura Blue. Mas os serviços de anúncios geraram quase 90% de sua receita de US$ 5,1 bilhões no ano passado, com boa parte vindo da Apple.

Enxurrada de tuítes
A enxurrada de tuítes criticando a Apple começou com um dizendo que a empresa “quase parou de anunciar no Twitter”. Musk perguntou: “Eles odeiam a liberdade de expressão na América?”

Ele então dirigiu um tuíte ao CEO da Apple, Tim Cook: “O que está acontecendo aqui?” Alguns minutos depois, ele afirmou que a Apple poderia inicializar o Twitter de sua loja de aplicativos “mas não nos disse por quê”.

No início deste mês, o executivo de longa data da Apple, Phil Schiller, que supervisiona a loja de aplicativos, deletou sua conta no Twitter, pouco depois de Musk restabelecer a conta do ex-presidente Donald Trump, que havia sido expulso da plataforma após o ataque ao Capitólio dos Estados Unidos, em janeiro de 2021.

Musk havia dito anteriormente que criaria um conselho de conteúdo para revisar se restabeleceria a conta de Trump, mas ele fez a mudança com base nos resultados de uma pesquisa postada por ele no Twitter.

"Ele diz as coisas certas, mas faz as coisas erradas e isso é que é pior" disse Paskalis.

Cook, da Apple, continuou a usar o Twitter pessoalmente desde a aquisição de Musk. Ele inclusive postou uma mensagem de Ação de Graças na semana passada “desejando a todos um dia alegre”.

Musk já havia tuitado que, se o Twitter for removido das lojas de aplicativos da Apple e do Google, ele fará um telefone alternativo que possa funcionar com a plataforma. Os fãs da ideia - e seus detratores - começaram a chamá-lo de "telefone Tesla", e esse termo foi tendência no Twitter na segunda-feira.

Musk, que também é dono da Tesla e da SpaceX, disse que sua missão no Twitter é maximizar a liberdade de expressão. Ele freqüentemente usa sua conta pessoal, que tem mais de 119 milhões de seguidores, para criticar supostos adversários e a grande mídia.

Ele havia afirmado anteriormente que a Apple cobra taxas exorbitantes em compras no aplicativo e renovou essa linha de ataque na segunda-feira, postando um meme sugerindo que preferia “ir para a guerra” do que pagar a comissão de 30% da empresa.

O meme sinaliza que Musk pode estar pensando em seguir o caminho da Epic Games e evitar as taxas da Apple. Quando a Epic fez tal movimento, a Apple removeu o Fortnite, game de maior sucesso da empresa, iniciando uma luta legal de vários anos.

Mas se Musk quisesse começar a vender o serviço de assinatura Twitter Blue pela web - contornando os 30% da Apple - ele já poderia fazê-lo. A loja de aplicativos permite que os serviços disponíveis em várias plataformas usem essa abordagem.

O problema seria se o Twitter anunciasse a solução alternativa em seu aplicativo ou adicionasse um botão direcionando os usuários para a opção de pagamento na web. Essa mudança pode fazer com que o Twitter seja removido da loja de aplicativos.

Em outro tweet, Musk sugeriu que a Apple fez exigências à moderação de conteúdo do Twitter. Ele também postou uma outra pesquisa: “A Apple deveria publicar todas as ações de censura tomadas que afetam seus clientes”.

Depois de dirigir várias farpas à Apple, Musk prometeu mais informações sobre a supressão da liberdade de expressão em “The Twitter Files”, que será publicado – onde mais? -- no Twitter.

"O público merece saber o que realmente aconteceu" disse ele.

Duopólio Apple-Google
Ao controlar as duas principais lojas de aplicativos móveis, a Apple e o Google são frequentemente chamados de “duopólio”, um termo que Musk usou em seus tuítes. O representante dos EUA, Ken Buck, um republicano do Colorado, adotou essa ideia na segunda-feira. Ele citou um dos posts de Musk e disse que os EUA deveriam acabar com o duopólio de lojas de aplicativos antes do fim do ano.

"Ninguém deveria ter esse tipo de poder de mercado" disse ele.

A Apple tem regras rígidas para sua loja de aplicativos que limitam o conteúdo censurável, incluindo conteúdo discriminatório relacionado a religião, raça e orientação sexual. Também restringe a violência excessivamente realista e o material pornográfico.

Apple e Google já removeram redes sociais, incluindo a Parler, de suas plataformas devido à moderação de conteúdo inadequada. No caso da Parler, o aplicativo acabou sendo restaurado nas duas lojas de aplicativos depois que a rede social seguiu uma série de etapas para garantir a moderação do conteúdo.

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