No Banco Central, comunicação é a tática de Galípolo para marcar posição e reduzir ruídos
Economista tenta se equilibrar entre a pressão de apoiadores de Lula e a visão de longo prazo que cabe a diretores do BC
Há quase dois meses no cargo de diretor de Política Monetária do Banco Central do Brasil (BC), o economista Gabriel Galípolo tenta usar a comunicação como arma para marcar posição e reduzir ruídos que sua chegada à autoridade monetária causou.
Indicado por Lula em meio a fortes críticas do presidente ao Banco Central, ele precisou se equilibrar entre a pressão feita por apoiadores de Lula e a visão de longo prazo que cabe aos diretores do Comitê de Política Monetária (Copom) na hora de decidir os juros para combater a inflação.
Cotado para substituir Roberto Campos Neto no comando da instituição, Galipolo foi indicado ao posto em uma tentativa de estreitar o diálogo com o BC, que tinha, até então, todos os diretores vindos da gestão de Jair Bolsonaro.
A comunicação, porém, foi justamente a primeira crise enfrentada por ele. De um lado, a direção atual do Banco teria tentado alinhar suas entrevistas com a assessoria de comunicação do órgão. De outro, o argumento interno do diretor era que a lei da autonomia do BC havia dado maior liberdade de expressão aos integrantes do Copom.
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Após o ruído, o Banco Central divulgou nota dizendo que todos os diretores sempre tiveram liberdade para dar declarações. Isso empoderou Galípolo — assim como os demais diretores —, mas também gerou expectativas sobre suas primeiras falas e opiniões.
O episódio acabou sendo o ápice do tensionamento entre Galípolo, Campos Neto e demais integrantes do BC, que viam com receio a chegada dos primeiros diretores indicados pelo governo Lula.
Além de Galípolo, Ailton Aquino foi nomeado para a vaga de diretor de Fiscalização, posto por natureza mais discreto e que normalmente é ocupado por funcionários de carreira do BC.
Aliado para reajustes
Daí em diante, a relação de desconfiança foi se dissipando, com as primeiras semanas dele no posto, segundo integrantes do BC que falaram sob condição de anonimato. E o clima ficou mais ameno após Galípolo e Campos Neto terem votado juntos para o corte de meio ponto nos juros na primeira reunião com os dois novos diretores, em agosto.
Colegas e técnicos também têm visto Galípolo como um aliado, na tentativa de convencer o Executivo a liberar reajustes salariais e permitir contratações de servidores para o Banco Central.
A Selic em 13,75%, durante os primeiros meses do novo governo, fez Campos Neto ser alvo preferencial de ataques de Lula e do PT.
Por isso, qualquer nome indicado pelo governo seria visto como contraponto ou oposição ao atual comando da instituição. Galípolo, contudo, tenta se afastar dessa imagem. Ele tem dito, em reuniões internas, especialmente com o mercado, que não quer ser um “anti” e nem está lá para fazer oposição.
A ata da reunião de agosto do Copom, que veio mais detalhada do que as anteriores, foi vista pelo mercado como uma marca do novo diretor de Política Monetária. Por outro lado, ele teria permanecido mais contido nessa primeira reunião, que decidiu sobre o corte de juros, o que chamou a atenção dos diretores com mais tempo de casa.
Galípolo era o braço direito de Haddad no Ministério da Fazenda e teve papel fundamental nas primeiras articulações da pasta, inclusive no arcabouço fiscal. A interlocutores, o ministro se refere ao economista como alguém que “aplainava o terreno” e facilitava as negociações. Essa relação aproximou o atual diretor de políticos de fora do PT desde a transição de governo.
E os próximos?
É também função do diretor de Política Monetária se reunir com o mercado financeiro — o que tem sido feito por Galípolo. Integrantes de bancos que estiveram com ele disseram ao GLOBO que, nessas reuniões, Galípolo tem dissipado dúvidas, mas deixado claro que não necessariamente vai seguir a cartilha da Faria Lima.
Nessas conversas, Galípolo tem se mostrado preocupado com o cenário internacional. E é sempre perguntado: quem serão os próximos dois diretores do BC indicados por Lula? Em dezembro, terminam os mandatos de Fernanda Guardado, diretora de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos, e de Maurício Moura, diretor de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta. Não há qualquer pista sobre esses nomes, mas dentro do governo é visto como natural que sejam indicações alinhadas com o presidente.
Vindo de uma escola de pensamento econômico pouco ortodoxo, Galípolo será pressionado por petistas a votar por cortes mais fortes da Selic. Ter sido presidente do Banco Fator, por outro lado, deu-lhe uma visão mais pragmática sobre como lidar com a taxa de juros. Ele sabe as consequências para a economia de um ambiente de queda de braço entre governo e mercado.
O mandato de Campos Neto termina em dezembro de 2024. Galípolo hoje é o principal nome cotado para a vaga, mas seus próximos passos no BC serão determinantes nessa escolha.