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"No Brasil, a eletrificação dos carros é o destino", diz vice-presidente global da BYD

Para Stella Li, matriz elétrica renovável do país amplia a vantagem desses modelos

Vice-presidente global da BYD, Stella LiVice-presidente global da BYD, Stella Li - Foto: BYD/Divulgação

Prestes a anunciar uma fábrica na Bahia, a chinesa BYD, líder mundial em vendas de carros elétricos, aposta na boa relação entre custo e benefício e na alta tecnologia para conquistar o mercado nacional. Dias após lançar por aqui o Dolphin, hatch de entrada que vem com internet e karaokê e custa R$ 149 mil, a empresa confirmou ao GLOBO que trará ao país, em 2024, o Seagull, modelo mais barato de seu portfólio, lançado em abril na China pelo equivalente a R$ 55 mil.

Em entrevista durante sua passagem pelo Rio — antes de seguir para Salvador e após ter estado em Brasília com o presidente Lula — a vice-presidente global da BYD, Stella Li, disse que o mercado brasileiro tem vocação natural para eletrificar sua frota. A matriz elétrica renovável do país amplia a vantagem desses modelos aqui, avalia a executiva.

O movimento da BYD ocorre em meio a um cenário complicado para a indústria automobilística nacional, com uma série de férias coletivas e layoffs das montadoras para ajustar a produção à demanda moderada, mesmo após o pacote do governo para dar descontos a veículos com preço de até R$ 120 mil.

A BYD vai anunciar uma fábrica na Bahia nos próximos dias?
A Salvador, iremos na próxima terça-feira. Teremos muitas informações empolgantes para anunciar. Além disso, a BYD lançou o Dolphin no mercado dois dias atrás. E já se tornou um carro muito popular, vendemos muitos carros imediatamente (foram 307 unidades em dois dias).

O Dolphin tem recursos como karaokê, você pode jogar videogame, pode controlar por voz, mas ao mesmo tempo, é um carro elétrico acessível. O conceito geral é permitir que todas as pessoas aproveitem a eletrificação.

O otimismo da BYD contrasta com o momento do mercado brasileiro, com muitas fábricas em layoff ou férias coletivas. Como avalia o cenário?

Na verdade, se observarmos a matriz elétrica do Brasil, é composta por 75% de energia hidrelétrica e agora há uma parcela considerável de energia solar. No Brasil, a eletrificação é o destino, não há como voltar atrás, porque vocês já têm uma matriz elétrica muito limpa aqui naturalmente.

Os dados mostram que se você dirige um carro elétrico, você economiza muito dinheiro, é mais barato. Então, esse tipo de informação está sendo percebida pelo consumidor.

Assim que nós promovermos mais a eletrificação de frotas comerciais, todos os táxis, Uber, e até mesmo a indústria, o setor privado vai impulsionar a construção de pontos de recarga. Após dirigir por seis meses ou um ano, você vai perceber que vai economizar. Assim, o mercado vai aquecer.

O Dolphin chegou ao Brasil por R$ 150 mil, isso é barato para o padrão brasileiro?
R$ 149 mil (risos). A cada cinco minutos, vendemos dois carros (foram 307 unidades desde o lançamento, na quarta-feira). Até o próximo ano podemos introduzir outro modelo, de preço mais baixo e também com um design bonito, e assim oferecer a oportunidade para que mais pessoas desfrutem do seu primeiro carro elétrico com uma sensação premium de inovação. (O modelo a ser lançado no Brasil será o Seagull).

Quanto tempo leva para o mercado ter 50% de carros elétricos no Brasil?
Na China, levou dez anos para sair de zero para 1% (de participação dos carros elétricos no total do mercado), mas levou apenas três anos de 1% para 5%. E, depois, de 5% para 10%, apenas um ano. Então, achamos que essa aceleração pode acontecer no Brasil.

O Brasil pode ser plataforma para vender para outros países latino-americanos?
Sim, esse é o nosso plano. No Brasil, estamos investindo com tudo, vamos construir um hub de produção. Construiremos capacidade para produzir carros elétricos e híbridos plug-in aqui, não apenas para o mercado brasileiro, mas também para fornecer para outros países da região.

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A fábrica na Bahia é suficiente para esses planos?
Nossa estratégia é construir uma fábrica muito boa e de grande porte no Brasil. E então traremos toda a tecnologia para o Brasil. A BYD não é apenas uma empresa de carros de passageiros. Temos a sorte de ter todo o ecossistema.

Temos uma grande fábrica em Campinas para produzir painéis solares, e a fábrica pode ser expandida. Somos uma empresa de baterias de armazenamento de energia. E fornecedores de suprimentos para ônibus elétricos e caminhões elétricos.

Então, precisamos expandir nossa produção de chassis. Produziremos baterias, produziremos materiais brutos para baterias e todos os tipos de suprimentos. Toda essa tecnologia, essa indústria, existe uma chance para a BYD construir localmente, expandir e ajudar a desenvolver no Brasil.

Quanto a empresa planeja investir nos próximos anos?
Isso é o que vamos anunciar na terça-feira (na Bahia).

O Dolphin veio com karaokê. Há planos de adaptar as tecnologias dos carros da BYD ao perfil do brasileiro?
Acho que os modelos que já temos são adequados para o povo brasileiro, especialmente para os jovens apaixonados por essa tecnologia.

Queremos trazer esse espírito de inovação para o Brasil por meio dos nossos carros elétricos inteligentes.

Com esses carros, você pode ir para a praia ou a qualquer lugar, e você pode usar o V2G (vehicle-to-grid, o carro como fornecedor de energia), para ter uma caixa de som, usar a eletricidade para fazer uma festa e até usar sua eletricidade para cozinhar um churrasco. É uma visão legal do futuro.

E qual será a próxima fronteira da inovação?
Quando você pensa em carro, não se trata apenas do motor e dos assentos, certo? Pode ser o seu escritório móvel, sua conexão inteligente, você pode fazer uma reunião pelo Zoom e ter sua agenda do telefone automaticamente conectada ao seu carro.

Estamos trazendo toda a indústria de telefonia para dentro do carro. E, na BYD, somos uma plataforma aberta. Damos as boas-vindas a todos os jovens inovadores que queiram desenvolver aplicativos e nosso carro se torna uma espécie de rede.

E nosso carro tem uma característica única do V2G e poder conectar o carregador e abastecer a sua casa se faltar energia.

Algumas empresas pedem o fim dos benefícios tributários a importados elétricos. Qual é sua visão sobre os incentivos?
É preciso continuar com incentivos tributários para trazer novas tecnologias. Para as empresas que já estão produzindo aqui, é preciso dar a liberdade de continuar com taxa zero no imposto de importação.

A indústria automotiva, depois de cem anos, pela primeira vez, está se tornando um centro de inovação. Então, é muito importante, para o Brasil, oferecer um ambiente muito favorável, para atrair toda a inovação e para impulsionar a demanda local.

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Se você depender apenas da importação de carros, talvez não seja sustentável. Se você estiver fabricando aqui, talvez a fábrica permita produzir três ou cinco modelos, mas temos a chance de trazer 20 modelos para cá, com as mais diferentes tecnologias.

O Brasil deveria recebê-los de braços abertos, para impulsionar a indústria local e promover a inovação.

Pretendem fazer parcerias com empresas locais, como outras montadoras chinesas?
Para a fabricação, planejamos investir totalmente com nossos próprios recursos, pois essa é a maneira de avançarmos rapidamente e porque temos capacidade financeira para isso. Além disso, acreditamos no mercado brasileiro e não acreditamos que vamos usar dinheiro de outras pessoas no Brasil.

O treinamento dos trabalhadores para a fábrica de carros será um problema?
Na terça-feira, vamos anunciar quantos empregos vamos oferecer. Às vezes, a nova tecnologia pode ser um pouco diferente, mas vamos investir muito dinheiro para treinar as pessoas. Vamos oferecer mais oportunidades para mulheres e portadores de deficiência. Essa é uma das culturas que queremos trazer para cá.

Como serão as oportunidades para as mulheres?
Nos Estados Unidos, na Califórnia, em Lancaster, temos nossa fábrica de ônibus elétricos. Oferecemos oportunidades de emprego para mulheres, mães solteiras, pais solteiros e também para funcionários em busca de uma segunda chance.

Temos funcionários que antes moravam em abrigos e agora trabalham conosco há sete anos. Eles têm uma chance e estão muito felizes em trabalhar na produção. Nós os treinamos e os ajudamos a realizar seus sonhos.

Estamos construindo algo semelhante aqui no Brasil, porque a tecnologia que temos oferece mais oportunidades para mulheres, pais solteiros e todas as pessoas com deficiência. Queremos que elas façam parte do grupo e usem o sucesso da empresa para garantir empregos de longo prazo e seguros, para que possam realmente mudar suas vidas.

Alguma experiência da fábrica de painéis solares, em Campinas, será levada para a fábrica de carros na Bahia?
Exatamente. Em Campinas, temos 700 pessoas trabalhando lá. Como a fabricação de painéis solares é algo novo, eles não tinham experiência. Treinamos essas pessoas para que se tornem experts. Até mandamos alguns empregados para a China, para um treinamento de seis meses.

Farão o mesmo com a fábrica de carros?
Sim, até além. A planta será maior. Pensamos em oferecer bolsas de estudo para estudantes irem para a China e oferecer oportunidades de estágio para estudantes irem para a China.

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