No Brasil, os 50% mais pobres da população têm renda média 29 vezes menor que os 10% do topo
Os números são calculados com base na paridade do poder de compra
Apesar de avanços nas últimas décadas, a desigualdade de renda no Brasil ainda se mostra persistente. No país, os 10% mais ricos do país têm renda média 29,25 vezes menor que os 50% mais pobres da população.
A renda nacional média da população adulta brasileira é de € 14.000, cerca de R$ 43.680 por ano. Os 50% da base ganham em média € 2.800, o equivalente a R$ 8.800 (menos de um salário mínimo por mês), e os 10% mais ricos recebem em média € 81.900, ou R$ 255.760 no período de doze meses.
Esses e outros dados estão no relatório “Desigualdade Mundial”, divulgado nesta terça-feira (07) e produzido pelo laboratório de mesmo nome que tem o francês Thomas Pikkety (autor do best-seller "O capitalismo no século XXI") como um dos seus coordenadores.
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Os números são calculados com base na paridade do poder de compra. Nada mais é que uma métrica que compara as moedas de diferentes países através de um índice que mensura o poder de compra.
Os 10% mais ricos detém 59% da renda nacional total e os 50% da base ficam com cerca de 10%.
Para efeito de comparação, nos Estados Unidos, os 10% capturam 45%, na China, 42%. Se olharmos para os novos vizinhos, esse percentual é de 43% na Argentina e 59% no Chile.
O cálculo considera a quantidade de recursos necessários para adquirir um conjunto de bens e serviços em um país, que pode ser comparada com a de outros.
A renda é medida já levando em conta o pagamento de pensões e outros benefícios, mas antes do pagamento de impostos sobre os rendimentos.
Para o principal autor do relatório e coeditor do laboratório, Lucas Chancel, o caso brasileiro é exemplar de como as medidas de combate à desigualdade devem ser pensadas de forma a realmente cobrar a conta de quem ganha mais.
"Tivemos um crescimento da renda dos mais pobres desde 2000 muito por causa dos programas sociais. Mas, ao mesmo tempo, o financiamento desses programas não foi feito de uma forma progressiva. O 1% mais rico não foi demandado para financiar esses programas na extensão de sua riqueza. A classe média contribuiu muito e o 1% ficou intocável".
Se olharmos para a riqueza privada, os valores também mostram a concentração de capital existente no país.
A proporção da riqueza privada do país em relação à renda nacional vem crescendo, ainda que de forma mais lenta do que em países como China e Índia.
Sobre a situação brasileira, Chancel complementa:
"A mensagem geral é que programas sociais são chave, mas taxas progressivas para financiar esses programas são tão importantes quanto".