Logo Folha de Pernambuco

Regra Fiscal

Nova regra fiscal tem repercussão positiva. Entenda as regras

Anunciado ontem (30), o projeto será enviado ao Congresso Nacional

Ministro Fernando HaddadMinistro Fernando Haddad - Foto: José da Cruz/Agência Brasil

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, divulgou ontem (30) os parâmetros do novo arcabouço fiscal do Governo. A nova regra vai prever uma banda para o crescimento real das despesas primárias, ou seja, tudo o que é gasto pelo governo sem contar o pagamento de juros. As despesas sempre irão crescer acima da inflação, independentemente do cenário. Hoje, o teto de gastos trava as despesas ao índice de preços. Recursos para a educação, como os do Fundeb, e para a saúde, como o pagamento do piso da enfermagem, serão excluídos dessa regra.

A proposta substituirá o teto de gastos que vigora desde 2016 e limita o crescimento das despesas ao ano anterior, corrigido pela inflação oficial (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - IPCA). Para controlar as contas públicas, sem ter que aumentar a carga tributária já alta, o governo criou o teto de gastos, mas ao “congelar” despesas, a medida acabou sendo descumprida várias vezes. Desde a criação do mecanismo, o limite foi furado pelo menos sete vezes.

No fim do ano passado, a Emenda Constitucional da Transição permitiu a exclusão de até R$ 168 bilhões do teto de gastos deste ano – R$ 145 bilhões do novo Bolsa Família e até R$ 23 bilhões em investimentos federais, caso haja excesso de arrecadação.

Regras

Na nova política fiscal, haverá uma combinação de limite de despesa mais flexível que o teto de gastos com uma meta de resultado primário (resultado das contas públicas sem os juros da dívida pública).

O novo arcabouço fiscal limitará o crescimento da despesa a 70% da variação da receita dos 12 meses anteriores. Ou seja, se no período de 12 meses, de julho a junho, o governo arrecadar R$ 1 trilhão, poderá gastar R$ 700 bilhões.

Dentro desse percentual de 70%, haverá um limite superior e um piso, uma banda, para a oscilação da despesa, com desconto do efeito da inflação.

Em momentos de maior crescimento da economia, a despesa não poderá crescer mais de 2,5% ao ano acima da inflação. Em momentos de contração econômica, o gasto não poderá crescer mais que 0,6% ao ano acima da inflação.

Para impedir o descumprimento da rota de 70% de crescimento da receita, as novas regras trarão mecanismos de punição que desacelerarão os gastos caso a trajetória de crescimento das despesas não seja atendida.

Se o resultado primário ficar abaixo do limite mínimo da banda, o crescimento das despesas para o ano seguinte cai de 70% para 50% do crescimento da receita. Para não punir os investimentos (obras públicas e compra de equipamentos), o novo arcabouço prevê um piso para esse tipo de gasto e permite que, caso o superávit primário fique acima do teto da banda, o excedente seja usado para obras públicas.

A equipe econômica esclareceu que o limite de 70% está baseado nas receitas passadas, não na estimativa de receitas futuras. Dessa forma, futuros governos, ou o Congresso Nacional, não poderão aumentar artificialmente as previsões de receitas para elevar as despesas.

Novo arcabouço fiscal

Repercussão

O anúncio de ontem repercutiu entre os atores políticos e econômicos. Em geral, a reação foi positiva como a do mercado financeiro. O Ibovespa fechou em alta de 1,89%. Já o dólar caiu 0,72%, negociado a R$ 5,09, após atingir a mínima de R$ 5,07. É a menor cotação desde 4 de fevereiro, quando a divisa encerrou a R$ 5,04.

No campo político, o presidente da Câmara dos deputados, Arthur Lira, avaliou que a apresentação foi um "bom começo" e completou

"Faz parte daquilo que já estávamos tratando. Tivemos alguns detalhes, do que se pretende fazer, as metas, os efeitos. Lógico que o arcabouço vai ser uma diretriz mais flexível do que é o teto hoje".

Já o ex-presidente Michel Temer, responsável pela criação do teto de gastos, afirmou que:

"Não estou entrando no mérito. Tenho orgulho de ter introduzido o teto de gastos e esse debate no Brasil. Estava previsto na norma que houvesse uma revisão a cada dez anos. O que está havendo agora é uma atualização, uma adaptação, que estão antecipando.”

Outro que fez sua avaliação foi o senador Alessandro Vieira (PSDB):

"A proposta de novo arcabouço fiscal apresentada pelo governo ainda precisa ser detalhada, mas claramente está alinhada com boas experiências internacionais e parece ser adequada às nossas necessidades de desenvolvimento. Vamos aguardar os textos legais, mas é um passo positivo", escreveu.

Na área econômica, alguns especialistas também analisaram a proposta. É o caso de Felipe Salto, economista-chefe e sócio na Warren Brasil:

"A regra é boa. O crescimento do gasto limitado a 2,5% (ao ano), no máximo, com regra pautada pela receita, confere a devida flexibilidade ao arcabouço. Entendo que o arcabouço nasceu crível. Produzirá bons efeitos na curva de dívida/PIB".

O presidente da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Isaac Sidney, emitiu uma nota oficial sobre o projeto:

"A Febraban considera positivo o conjunto de medidas anunciadas pela equipe econômica sobre as premissas do novo arcabouço fiscal, antecipando-se, inclusive, ao prazo estabelecido pela emenda constitucional 126 (PEC da Transição). Trata-se de um passo importante e meritório, pois procura combinar as prioridades sociais do país com o necessário controle da expansão dos gastos públicos. Ainda que seja necessário conhecer e aprofundar seus detalhes, a proposta anunciada representa um avanço na busca da trajetória sustentável da dívida pública, ao estabelecer limites para a expansão das despesas do setor público combinada com metas de resultado primário ambiciosas, com a previsão de zeragem do déficit primário já em 2024. Com isso, ao longo dos próximos anos, poderemos até ter um recuo da dívida pública em relação ao PIB".

Veja também

Governo bloqueia R$ 6 bilhões do Orçamento de 2024
Orçamento de 2024

Governo Federal bloqueia R$ 6 bilhões do Orçamento de 2024

Wall Street fecha em alta com Dow Jones atingindo novo recorde
Bolsa de Nova York

Wall Street fecha em alta com Dow Jones atingindo novo recorde

Newsletter