Novas tarifas dos EUA sobre produtos chineses chegarão a 104%
Essa tarifa subirá a partir de quarta-feira para dezenas de aliados comerciais importantes, em particular a União Europeia (20%) e o Vietnã (46%), além da China
Os Estados Unidos cumpriram a última ameaça do presidente Donald Trump com uma tarifa adicional de 104% sobre produtos chineses, mas, mesmo assim, as bolsas mundiais estão mais calmas que nos últimos dias.
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Horas antes da entrada em vigor de novas tarifas aduaneiras americanas sobre as importações, Trump aumentou ainda mais a pressão sobre Pequim.
Desde que voltou ao poder em janeiro, impôs uma sobretaxa de 20% sobre os produtos chineses, que na quarta-feira deveria subir para 54% com os 34% anunciados na semana passada, mas chegará a 104% como punição a Pequim por ter tomado medidas retaliatórias, apesar dos avisos da Casa Branca.
Após o anúncio da semana passada, o governo chinês respondeu com um imposto de 34% sobre os produtos americanos que entrará em vigor na quinta-feira.
'Natureza chantagista'
Um porta-voz do Ministério do Comércio chinês estimou que "a ameaça dos Estados Unidos de aumentar as tarifas contra a China é um erro após outro e expõe mais uma vez a natureza chantagista de" Washington.
Segundo o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, seu país tem "ferramentas" suficientes para "compensar" a turbulência econômica, indicou a agência Xinhua.
Apesar da guerra comercial que se inflama, as bolsas na Europa fecharam em alta (+2,50% em Paris, +2,71% em Londres). Na Ásia também subiram (+6,02%), mas o índice Dow Jones de Nova York fechou no vermelho (-0,84%).
Desde a última quarta-feira, quando o presidente americano anunciou tarifas para boa parte das importações da maioria dos países do mundo, os investidores perderam bilhões de dólares.
Como considera que seus parceiros comerciais "saqueiam" os Estados Unidos, Trump impôs desde sábado uma tarifa adicional universal de 10% sobre os produtos importados, com algumas exceções como ouro e energia.
Essa tarifa subirá a partir de quarta-feira para dezenas de aliados comerciais importantes, em particular a União Europeia (20%) e o Vietnã (46%), além da China.
Negociações
A administração americana afirma, no entanto, seguir aberta à negociação, o que explica o alívio dos mercados.
Trump falou em acordos "sob medida". "Estamos indo muito bem e eu os chamo de acordos sob medida, não à la carte, são sob medida, muito sob medida", disse.
Nesta terça-feira, Trump afirmou que manteve uma "conversa muito boa" com o primeiro-ministro e presidente interino da Coreia do Sul, Han Duck Soo, segundo uma mensagem publicada na plataforma Truth Social.
"As instruções do presidente para todos nós foram muito claras: devemos dar prioridade a nossos aliados e parceiros comerciais", comentou o principal assessor econômico da Casa Branca, Kevin Hassett, na Fox News.
O presidente decidirá "quando e se devemos falar com a China, mas, até agora, recebemos a instrução de dar prioridade a nossos aliados e parceiros comerciais como Japão, Coreia e outros", continuou.
O governo americano parece otimista.
O secretário de Finanças, Scott Bessent, declarou à Fox News que "talvez cerca de 70 países" já entraram em contato com a administração americana para falar das tarifas.
"Tudo isso vai na direção correta", disse aos senadores americanos o representante comercial Jamieson Greer.
"Devemos nos distanciar de uma economia baseada unicamente no setor financeiro e no gasto governamental" para nos centrarmos em uma "baseada na produção de bens e serviços reais", avaliou.
Greer afirmou que o país perdeu cinco milhões de empregos na indústria e 90 mil fábricas nos últimos 30 anos, desde que se promulgou o acordo de livre-comércio trilateral com México e Canadá.
'Um completo imbecil'
A União Europeia (UE) prepara sua resposta, que será apresentada "no início da próxima semana", segundo um porta-voz da Comissão Europeia.
Os analistas consideram que a guerra comercial pode minar a economia mundial, com riscos de inflação, desemprego e diminuição do crescimento.
As medidas causaram alvoroço até mesmo no gabinete dos Estados Unidos.
O homem mais rico do mundo, Elon Musk, assessor de Trump e o rosto dos cortes nos gastos federais, chamou nesta terça de "um completo imbecil" Peter Navarro, um dos principais conselheiros comerciais da Casa Branca.
O bilionário chefe da Tesla, SpaceX e X o reprova por ter dito que ele "não é um fabricante de automóveis", mas sim "um montador" que trabalha com peças importadas da Ásia.