Novos negócios abertos até na crise
Mesmo com a pandemia da Covid-19 afetando diretamente a economia brasileira, a abertura de empresas superou o fechamento com saldo positivo de 782 mil negócios no segundo quadrimestre de 2020. O número da Secretaria Especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, do Ministério da Economia, demonstra que de maio a agosto, os empreendedores brasileiros trataram o período de crise como uma oportunidade. Mas é preciso ter cuidado para empreender em momentos de instabilidade, do mesmo jeito que é necessário explorar os lados positivos da época.
Segundo o Mapa de Empresas do Ministério da Economia, foram abertas 1,1 milhão de novas firmas de maio a agosto deste ano, sendo um aumento de 6% em relação aos primeiros quatro meses do ano, e uma alta de 2% em relação ao mesmo período do ano passado.
Do total de empresas, 331 mil encerraram as atividades, um volume 6,6% menor que o dos primeiros quatro meses de 2020. Quando comparado com o segundo quadrimestre de 2019, a queda no fechamento de firmas chegou a 17%. Os dados, segundo especialistas, mostram que os brasileiros aproveitaram os incentivos econômicos do governo, mantendo as contas e empresas em atividade.
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A maior parte dos novos CNPJs criados no período foi de Microempreendedores Individuais (MEI), com 944 mil registros de maio a agosto, ocasionando uma alta de 2,4% em comparação com o mesmo período do ano passado. Com isso, o Brasil chegou a marca de 13,7 milhões de MEIs.
Segundo o gerente do Sebrae na Região Metropolitana do Recife, Alexandre Alves, os números são positivos, mas o destaque dos MEIs é importante ser destacado por conta do regime tributário adotado na categoria. “É um fenômeno que parecia ser mais adverso ao empreendedorismo. O MEI é uma forma jurídica que permite abrir uma empresa, com tributação simplificada, o mais barato hoje. Muitas pessoas de fato abriram negócios, alguns identificaram oportunidades na prestação de serviço, na entrega e fornecimento de alimentos, no delivery. Essas foram demandas que surgiram”, disse.
Alexandre destaca que outro motivo para o surgimento das empresas se dá na busca por renda. “O outro raciocínio para esse momento é de que muita gente perdeu o emprego ou diminuiu a renda e foi empreender por necessidade”, declarou. O gerente do Sebrae aconselha que ter uma presença no meio digital é importante ao decidir criar uma empresa, assim como ter um bom planejamento, visando todos os cenários.
“Os negócios já têm que nascer com uma visão do digital. Não dá mais pra imaginar nenhum negócio que não tenha essa estratégia. A pandemia pode ter sido um momento que escancarou isso, mas já era um movimento que vinha em curso, de se inserir as empresas nas redes sociais, nas plataformas de interação e relacionamento com o cliente. Muitos pequenos negócios surgem por necessidade e não têm tanto planejamento, mas é fundamental ter, pois em momentos adversos é preciso ter uma alternativa para superar a dificuldade”, destacou.
Uma das empresas que iniciaram as atividades em meio a pandemia foi a Trend Mídia. O sócio da empresa, Durval Costa Neto, conta que mesmo com um planejamento acontecendo desde 2019, após a data planejada para abertura, medidas de isolamento mais rígidas foram impostas no Recife. “Foi um desafio, fizemos o planejamento em 2019, aprovando captação e o formato que iria acontecer. Iríamos iniciar em maio. Quando definimos a data, no dia seguinte estourou a pandemia. A gente deu a primeira recuada, avaliando cenários”, afirmou.
Durval afirma que para a empresa, foi melhor ter entrado no mercado durante a pandemia. “É um desafio grande compreender perspectivas. Não adiantava chegar com algo novo só por chegar. Precisa de clima, um ar de otimismo. Por isso a importância do planejamento, de ter tempo de pensar e agir, se preparando melhor. Foi nosso grande aprendizado da pandemia, além da adaptação a uma nova realidade”, contou.
Outra empresa que iniciou as atividades em Pernambuco foi a DiPotenza Latteria, onde reformulações ainda são feitas constantemente para se adequar ao mercado, como conta o diretor executivo, Nicola Pedula. “A pandemia chegou quando começamos o nosso processo. Fomos pegos de surpresa, fizemos várias reformulações para nossa matéria-prima, pois o preço sobe constantemente. Se planejar é fundamental, pensando no pior cenário para não ser pego de surpresa. Estamos buscando com as redes sociais nos mostrar melhor para o mercado, já que somos um produto novo”, relatou.