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O que está por trás da disputa entre Altman e OpenAI

Se fossem a trama de um episódio de ''Succession'', idas e vindas de CEO e empresa seriam consideradas exageradas e fora da realidade

Sam Altman Sam Altman  - Foto: AFP

Se tivessem sido o enredo de um filme de ficção científica, ou de um episódio de “Succession”, os eventos do último fim de semana na OpenAI seriam vistos como exagerados. Um golpe secreto do Conselho de Administração! Medo de uma inteligência artificial (IA) assassina! Um CEO famoso traído por seu cientista-chefe! Uma revolta de funcionários na calada da noite que ameaça desequilibrar o poderio tech global!

Se você não prestou atenção em todas as reviravoltas dessa saga, tudo bem. Foi bastante confusa, com muito jargão e detalhes difíceis de acompanhar.

Mas é importante, mesmo para quem não se interessa muito por IA. Se você já usou o ChatGPT ou o Dall-E, ou se preocupa com a possibilidade de um dia sistemas poderosos de IA ameaçarem a sobrevivência humana, saiba que tudo isso faz parte do drama da OpenAI, a mais proeminente criadora de inteligência artificial dos Estados Unidos. Eis o que você precisa saber:

Por que isso aconteceu?
O Conselho de Administração da OpenAI demitiu seu CEO, Sam Altman, de surpresa na sexta-feira. A explicação do conselho — de que Altman não havia sido “totalmente sincero” com eles — era vaga e opaca.

Ainda não se sabe exatamente o que aconteceu entre Altman e o conselho. Mas a inusitada estrutura de governança da OpenAI — ela é dirigida por um conselho sem fins lucrativos que controla uma subsidiária com fins lucrativos e pode votar para destituir os líderes desta — permitiu que o conselho demitisse Altman sem se explicar.

Sobre o que era o golpe?
O golpe foi liderado por Ilya Sutskever, o cientista-chefe da OpenAI, que vinha batendo de frente com Altman. Sutskever defendia que a empresa devia priorizar a segurança e achava que Altman estava mais focado no crescimento.

Sutskever faz parte de um grupo de especialistas em inteligência artificial que teme que a IA poderá, em breve, ultrapassar as habilidades humanas e ameaçar nossa existência.

Altman também vê riscos na IA, mas mantém-se otimista com o progresso que ela pode proporcionar. Isso teria gerado um atrito entre ele e o conselho, cuja função é assegurar o desenvolvimento responsável da IA.

O que aconteceu depois do golpe?
No fim de semana, chegou-se a pensar que Altman retornaria à OpenAI. Mas, no domingo, o conselho nomeou Emmett Shear (ex-CEO do streaming Twitch) como o segundo CEO interino — Mira Murati, a diretora de Tecnologia que fora a primeira, perdeu o cargo ao manifestar apoio a Altman.

Em resposta a essa decisão, a Microsoft — o maior investidor da OpenAI — anunciou a contratação de Altman e seu braço-direito, Greg Brockman, para seu laboratório de IA. Quase todos os 770 funcionários da OpenAI assinaram uma carta ameaçando deixarem a empresa se o conselho não renunciasse e trouxesse Altman e Brockman de volta.

Um dos signatários, surpreendentemente, foi Sutskever, que se disse arrependido. Nesta quarta-feira, a OpenAI anunciou a volta de Altman e um novo conselho.

Por que isso importa para nós?
Disputas internas em empresas não são novidade. Mas o caso da OpenAI se destaca porque ela não é qualquer empresa. Ela criou o ChatGPT, um dos produtos de maior crescimento na área de tecnologia, e emprega muitos dos principais pesquisadores de IA.

A empresa também tem uma ambição incomum e está ciente de seu papel na construção de uma superinteligência digital que pode, um dia, ser mais poderosa que os humanos. Além disso, Altman é um CEO estimado e uma liderança na indústria, o que torna a decisão do conselho mais estranha.

O que ocorreu na OpenAI é um indicador de uma das maiores disputas na economia global hoje: como controlar ferramentas poderosas de IA, e se podemos confiar nas empresas para desenvolvê-las com responsabilidade.

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