OCDE: "Preço da guerra" na Ucrânia afetará a economia mundial em 2023
O conflito resultará em uma perda de 2,8 trilhões de dólares de receitas mundiais em 2023
A economia mundial deve crescer 2,2% em 2023, anunciou nesta segunda-feira (26) a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE), que reduziu em 0,6% a previsão anterior de junho, uma consequência do "preço da guerra" na Ucrânia e do aumento das taxas de juros para conter a inflação.
"Uma perda de estímulo econômico é visível a nível mundial, mas em particular na Europa", afirmou a OCDE no relatório "Pagando o preço da guerra", que mantém inalterada a previsão de 3% de crescimento mundial para 2022.
A Rússia iniciou em 24 de fevereiro uma ofensiva na Ucrânia, que provocou o aumento dos preços da energia e dos alimentos para as famílias e empresas, além de um freio na expansão econômica em um mundo pós-pandemia.
O conflito, que parece caminhar para uma longa duração após a mobilização de reservistas russos, resultará em uma perda de 2,8 trilhões de dólares de receitas mundiais em 2023, calcula a organização com sede em Paris.
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"As pressões inflacionárias são cada vez mais generalizadas, com o aumento dos custos da energia, transportes e outros que são transferidos para os preços", destaca a organização, que elevou a previsão de inflação mundial para 8,2% em 2022 e 6,6% em 2023.
Além dos efeitos da guerra nos preços, o aumento das taxas de juros pelos Bancos Centrais para conter a inflação e as consequências da pandemia de covid-19 também afetam a economia mundial, acrescenta a OCDE, que no entanto defende a continuidade das medidas.
Alemanha em recessão
A conjuntura econômica deve afetar em particular a União Europeia (UE), região próxima da Rússia e que tenta reduzir sua dependência do gás procedente do território russo, e sobretudo a principal potência econômica e industrial do bloco, a Alemanha.
A OCDE projeta que a Alemanha, que entrará em recessão em 2023, com uma contração de 0,7%, uma queda de 2,4 pontos na comparação com as previsões de junho que pesam sobre a economia da zona do euro. Esta última cresceria 0,3%, 1,3 ponto abaixo da estimativa anterior.
"As projeções estão cercadas de grande incerteza. Uma escassez maior de combustível, especialmente gás, pode reduzir a expansão na Europa em mais 1,25 ponto percentual em 2023", alerta o relatório.
Embora o restante das principais economias da UE escape da recessão em 2023, França (+0,6%), Itália (+0,4%) e Espanha (+1,5%) não seriam poupadas das consequências de um agravamento da situação energética.
"Quando Alemanha, França e outras economias caem (...) há impacto nas outras", alertou o economista-chefe interino da organização econômica, Álvaro Pereira.
Argentina, Brasil, México
Os países do G20 avançarão em 2023 ao mesmo ritmo da economia mundial (2,2%), após uma redução de 0,6 ponto da perspectiva para o grupo na comparação com junho.
Neste grupo, a OCDE diminuiu em 1,5 ponto a previsão para a Argentina, que deve crescer 0,4% no próximo ano, com uma inflação de 83%.
Na mesma linha das previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI) de julho, a organização, que recebeu o pedido de adesão do Brasil, projeta que o país crescerá muito mais que as previsões iniciais, 2,5% em 2022, quase dois pontos acima da estimativa de junho. O país deve avançar 0,8% em 2023 (-0,4 ponto em relação à previsão anterior).
O México, que já integra a OCDE, segue a tendência do Brasil com um crescimento de 2,1% (+0,2) este ano e de 1,5% (-0,6 na comparação com junho) em 2023.
As perspectivas econômicas para 2023 também foram revisadas para baixo em outras regiões e países, exceto para Turquia (3%, inalterado), Reino Unido (0%, inalterado) e Indonésia (4,8%, 0,1 ponto a mais).
O crescimento da economia dos Estados Unidos seria de 0,5% em 2023, sete décimos a menos que na previsão anterior, e o da China de 4,7% (-0,2).
Após uma contração calculada de 5,5% em 2022, a OCDE reduziu a estimativa para o próximo ano na Rússia, que deve registrar resultado negativo de 4,5% em 2023.
"É uma recessão enorme. As sanções têm um grande impacto. Acreditamos que a Rússia está pagando um preço muito alto na guerra", destacou Pereira.