Oferta de novos imóveis cai e setor da construção monitora escassez de insumos
De janeiro a setembro, 128.849 unidades residenciais foram vendidas nas 150 cidades pesquisadas pela câmara da indústria
O setor da construção comemora o aumento das vendas, no entanto, alerta para uma retração no volume de lançamentos. A oferta final de imóveis registra queda em todo o Brasil, entre julho e setembro, chegando ao menor patamar desde 2016.
Dúvidas quanto à melhora nos preços e prazos de entrega de insumos como aço e PVC são alguns dos fatores apontados pela Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) para a hesitação dos construtores em colocar novos investimentos no mercado apesar dos resultados positivos das vendas. A entidade apresentou nesta segunda (23) o balanço do terceiro trimestre.
De janeiro a setembro, 128.849 unidades residenciais foram vendidas nas 150 cidades pesquisadas pela câmara da indústria, uma alta de 8,4% na comparação com o mesmo período do ano passado. Em todas as regiões do país o acumulado em 2020 está positivo.
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Entre os lançamentos, porém, há uma queda de 27,9% nesses nove meses. De 118.886 novas unidades colocadas no mercado de janeiro a setembro de 2019, o balanço deste ano é de 85.755.
Com a redução dos lançamentos, a oferta final em 12 meses caiu 13% em relação ao mesmo período do ano passado. A Cbic calcula que o volume de imóveis disponíveis para venda ao fim de setembro levaria 10 meses para se esgotar se mais nenhuma unidade fosse lançada. No terceiro trimestre de 2019, o escoamento da oferta final estava em 13,2 meses.
O presidente da Comissão de Indústria Imobiliária da Cbic, Celso Petrucci, diz que a queda na oferta não chega a ser uma preocupação para o setor, mas quem está buscando imóvel não deve esperar muito. Com menos lançamentos e oferta em queda e o preço sobe.
O aumento real no preço dos imóveis está em 3,5%, segundo a Cbic. O INCC (Índice Nacional de Custos da Construção), calculado pelo Ibre (Instituto Brasileiro de Economia), da FGV (Fundação Getulio Vargas), uma espécie de inflação da construção, está com alta acumulada de 6,64% nos 12 meses até outubro.
"O INCC subiu em função do aumento dos insumos e deve continuar assim até o primeiro trimestre do ano que vem", afirma Petrucci, que é também economista chefe do Sindicato da Habitação de São Paulo, o Secovi-SP.
Até o fim deste ano, a aposta do setor é a de que haverá recuperação no volume de lançamentos e isso poderá equilibrar a oferta. Nos 12 meses de 2020, o total de novas unidades residenciais colocadas no mercado deverá ficar entre 15% e 20% menor do que acumulado em 2019.
O presidente da Cbic, José Carlos Martins, diz que o investimento feito pelo setor no lançamento de um novo empreendimento depende do que ele chama de "visão futura".
Com isso, a imprevisibilidade quanto aos prazos de entrega de insumos e os preços dessas matérias-primas, que têm sido pressionadas tanto pela redução na oferta quanto por preços em dólar, dificultam ou atrasam as tomadas de decisão.
"Não tenho dúvida de que não recuperamos [o volume de lançamentos] por conta desse motivos. Muita gente segurou os lançamentos para ver como ficaria o mercado dos insumos, para ele colocar preço. Nos [mercados de] imóveis econômicos, há uma margem muito pequena. Toma-se um cuidado extra para não cair em uma margem negativa", diz.
A expectativa da indústria da construção é a de que o início do ano aponte condições mais favoráveis à retomada dos lançamento.
José Carlos diz que a cadeia do aço garante a regularização da entrega entre dezembro e o começo de 2021. Entre os distribuidores de PVC, outro produto que os construtores relatam ter identificado muita variação de preço, a promessa é de estabilização dos preços a partir de janeiro e cerca de quatro meses para melhorar o ritmo de entrega.
O cenário de juros baixos e o volume recorde de concessão de financiamentos imobiliários dá ao setor da construção otimismo com 2021, apesar das incertezas. Celso Petrucci diz que a Cbic transfere, para o próximo ano, a expectativa de crescimento que tinha no início de 2020 -e que estava favorável até o início da pandemia, em março.
"Tudo nos leva a crer que teremos crescimento em 2021. Isso é confirmado pelo crescimento dos financiamentos", diz.