Mercado em alta: conheça os caminhos para o emprego tecnológico em Pernambuco
Diversas vagas para profissionais na área de tecnologia estão abertas em Pernambuco
Há mais de três anos, o diretor de negócios e tecnologia da empresa recifense Bisa Web Tecnologia, Gerino Xavier Filho, estruturava um programa para capacitar pessoas com o objetivo de trabalhar na própria empresa, especificamente nos cargos voltados à tecnologia da informação. A cada seis meses, a empresa realiza um programa de treinamento com dois a seis estagiários, incluindo o pagamento de bolsa para eles. Nos primeiros seis meses, os estudantes assistem a aulas práticas e teóricas com um consultor contratado pela Bisa. Depois, durante mais seis meses, os alunos realizam estágio na empresa, acompanhando o dia a dia dos profissionais. Ao final, cerca de 50% dos estagiários são contratados pela Bisa, empresa que atua com software para gestão de instituições, como sindicatos, conselhos e ongs.
Segundo o diretor da Bisa, a decisão de montar um programa de capacitação foi diante da escassez de mão de obra no setor de tecnologia. Com a chegada da pandemia, há quase um ano e meio, essa necessidade de capacitar os profissionais cresceu. “Temos um programa de formação efetivo. Observo que vários cargos estão em falta, sobretudo o de programador. E, com a pandemia, perdi, só este ano, três funcionários, que foram para empresas estrangeiras. As multinacionais estão sendo muito agressivas nos benefícios para contratar profissionais da tecnologia, principalmente porque essas multinacionais pagam em dólar, o que para nós é muito difícil porque o valor do dólar convertido para real está muito caro”, contou Xavier Filho.
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Um dos principais gargalos do polo tecnológico de Pernambuco é a falta de profissionais para atuarem na área. Antes da pandemia, o mercado já estava sentindo uma escassez, que se intensificou ainda mais. Isso porque houve forte aumento de demanda provocado pela necessidade urgente de transformação digital de vários setores da economia.
“A pandemia trouxe um movimento ainda mais desafiador, na necessidade de contratação rápida desses profissionais. Além disso, o profissional da tecnologia está caro. Empresas estrangeiras estão oferecendo um valor que para a gente fica ruim oferecer porque o dólar está alto. A competição com o câmbio está difícil. E, com o home office mais presente, o profissional pode trabalhar em qualquer lugar do mundo”, analisou a presidente da Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação (Assespro-PE/PB), Laís Xavier.
Para melhorar e ampliar a participação do Recife e de Pernambuco no cenário da tecnologia global é essencial passar por esse desafio. “O setor tem crescido na pandemia. O que demanda ainda mais pessoal, com uma velocidade grande de demanda. O Porto Digital já vem enfrentando a falta de capital humano antes da pandemia. Tínhamos 1.500 vagas já existentes para contratar em 2019. Em 2020/2021 esse número dobrou, são mais de 3.000 vagas em aberto este ano”, disse Marcela Valença, superintendente de Pessoas do Porto Digital.
“Há uma lacuna quantitativa e qualitativa de profissionais, essa última é porque às vezes acontece da formação não ser a que o mercado pede. Então, empresas estão investindo no processo de formação e trazendo profissionais para junto, formando seu próprio capital humano. Elas pegam essa pessoa para já trabalhar as competências que se adaptam à cultura da empresa”, disse Marcela, complementando sua avaliação.
A alternativa que muitas empresas encontraram, como foi o caso da Bisa, foi formar seus próprios profissionais. “Cada empresa está montando sua estratégia de atração de profissionais. Estão fazendo programas dentro da própria empresa para atração de outros perfis profissionais que possam se adaptar ao seu negócio”, explicou Laís.
Experiência e habilidades
Empresa especializada em desenvolvimento de softwares e soluções tecnológicas do Brasil, a Pitang Agile IT, vem observando essa escassez há alguns anos, devido ao baixo número de estudantes que concluem os cursos da área e pelo fato de algumas faculdades não abordarem algumas habilidades. Na pandemia, a demanda por profissionais cresceu. Há 10 anos, a Pitang tem um programa anual de formação de trainees, que seleciona jovens estudantes de tecnologia e treina por três meses. Mas, a Pitang viu uma maior necessidade e montou um outro programa. Chamado ReCodev, o programa capacita profissionais de qualquer área, durante três meses, e montou sua primeira turma no final de 2019.
“Nos últimos anos, percebemos que não era mais suficiente treinar apenas aqueles que são formados na área de tecnologia, mas era necessário encontrar uma forma de atrair e capacitar profissionais de outras áreas para migrarem para o setor de tecnologia”, contou Antônio Valença, CEO da Pitang Agile IT.
Dentro do cenário, a escassez de profissionais acontece em diversas áreas do setor. Quando se trata de profissional sênior, a escassez é ainda mais presente. As vagas estão abertas para os cargos de desenvolvedor, programador, project manager, engenheiro de banco de dados, designers, arquiteto de soluções, entre outros.
“Para atuar na área, é preciso entender de lógica, se tem um raciocínio lógico desenvolvido ou apto a desenvolver, é ótimo. A vontade de aprender, de transformar, de ler o mundo a sua volta, de se comunicar e trabalhar em equipe são sempre fundamentais também. O restante trabalhamos com disciplina técnica”, exemplificou Marcela.
“Nossa área tem como premissa aprender. Isso porque a tecnologia muda muito, então a capacidade de adaptação e de aprendizado precisa acompanhar. Além disso, a área trabalha muito com raciocínio lógico. Os cursos de tecnólogo ou superior dão parte desse conhecimento para os alunos. Olhar o currículo das faculdades é um bom caminho, pois muitas estão se atualizando para atender ao mercado”, indicou Laís.
Importância da formação
Para o desenvolvimento do setor de tecnologia em Pernambuco, um ponto central de importância é a formação. “Ter um conhecimento estruturante é fundamental para conseguir crescer dentro da área”, afirmou Laís.
Apesar de ainda muito jovem, com apenas 18 anos, Duda Oliveira já pôde mostrar a importância da formação para atuar na área. Ainda quando estudava na escola municipal do Recife, Duda viu que tinha aberto um programa de robótica no colégio e decidiu participar. Em 2016 e 2017, viajou para Alemanha e Japão, respectivamente, para concorrer nas olimpíadas de robótica. Depois foi estudar na Escola Técnica Estadual Porto Digital no curso de Desenvolvimento de Sistemas. Duda ainda participou de um programa do Porto Digital, que ensina sobre o que é um negócio. Atualmente, estuda Licenciatura em Computação na Universidade Federal Rural de Pernambuco.
Todas essas formações foram essenciais para Duda criar uma empresa. Hoje, a jovem trabalha na startup de desenvolvimento de sites, a Oxente Girls, que fundou com mais duas amigas, Júlia Lopes e Cibele Benício, ambas também com 18 anos. “Tudo que eu faço hoje veio dessas formações. Na escola eu tive formação em empreendedorismo, na robótica eu entendi sobre gestão de projetos, tudo isso influenciou e foi a base para o que eu faço hoje, e a tendência é continuar evoluindo com a faculdade”, destacou Duda.