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Pacto Global da ONU no Brasil transforma planeta Terra em empresa fictícia de capital aberto

Iniciativa convida empresários a aderirem aos compromissos lançados pelas Nações Unidas para evitar a "falência" da companhia, que passa a ter "ações" negociadas em Bolsa

Objetivo é chamar a atenção da iniciativa privada para que cada vez mais empresas possam aderir aos compromissos lançados no ano 2000 pelas Nações UnidasObjetivo é chamar a atenção da iniciativa privada para que cada vez mais empresas possam aderir aos compromissos lançados no ano 2000 pelas Nações Unidas - Foto: Leonardo Munoz/AFP

Num ano em que nenhuma empresa brasileira se animou a oferecer suas ações no pregão da Bolsa, a B3 promoveu nesta quarta o IPO (do inglês Initial Public Offering ou Oferta pública Inicial) de uma companhia global que vai ser negociada com o código TERR4. A empresa foi apresentada como única em seu segmento, com 8 bilhões de clientes, mas que apresenta números muito ruins em seu último balanço.

Entre eles, 12 milhões de pessoas em situação de extrema pobreza na América latina e Caribe, 11 milhões de toneladas de lixo lançadas em seus oceanos nos últimos 12 meses, 3,6 bilhões de pessoas sem acesso a saneamento básico e 2 bilhões sem água potável. Trata-se da empresa Terra, que existe há bilhões de anos, mas que apresenta os piores números de sua história.

A iniciativa de transformar a Terra numa fictícia empresa de capital aberto, inclusive com site e relatórios de atuação próprios, foi do Pacto Global da ONU no Brasil. O objetivo é chamar a atenção da iniciativa privada para que cada vez mais empresas possam aderir aos compromissos lançados no ano 2000 pelas Nações Unidas para reverter esses números dramáticos e evitar a falência da TERR4.

São políticas de responsabilidade social corporativa e sustentabilidade, através de dez princípios nas áreas de direitos humanos, trabalho, meio ambiente e anticorrupção.

750 milhões de refugiados climáticos

Na campanha de lançamento da TERR4, criada pela agência AlmapBBDO, a desigualdade social é traduzida para má distribuição dos dividendos. E o desmatamento, a poluição de rios e a perda de biodiversidade são provocados pela má gestão dos seus ativos e patrimônio.

— O planeta não está indo bem. Há degradação ambiental intensa e desigualdade social muito grande. É preciso chamar a atenção para esses problemas com as empresas atuando. A ideia foi utilizar da linguagem de negócios, com um IPO fictício, gráficos e números para alertar a população e o empresariado para que invistam na Terra, não no sentido de loteá-la. Mas sim de atuar com integridade, transparência, cuidando das pessoas e do meio ambiente — disse Carlo Pereira, CEO do Pacto Global da ONU no Brasil.

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Pereira lembrou que a Terra está no meio de uma crise climática e que se, até 2050, o curso não for alterado, o planeta terá 750 milhões de pessoas como refugiados climáticos. A boa notícia, destacou o representante do Pacto Global da ONU, é que esse quadro ruim ainda pode ser revertido e as empresas podem ajudar de várias maneiras.

— As companhias têm muito a fazer. Precisam entender quais são os impactos que elas causam ao planeta, negativos e positivos. Se emitirem muitos gases de efeito estufa, têm que reduzir ao máximo. O que não conseguirem reduzir, pode ser compensado com projetos de carbono, por exemplo. E devem potencializar suas ações positivas — afirmou.

O Pacto Global já conta com 1.900 empresas participantes no Brasil e 18 mil no mundo. Agora, o cadastro de adesão das companhias pode ser preenchido no próprio site da TERR4 ou do Pacto Global.

Durante o IPO da TERR4, a Globo anunciou sua adesão ao movimento NetZero, uma das iniciativas do Pacto Global. As companhias que aderem ao NetZero se comprometem a reduzir em 2 Giga toneladas de CO2 até 2030. Até agora, 53 empresas no mundo se comprometeram com o NetZero para reduzir a emissão de gases de efeito estufa.

A Globo já tinha aderido ao Pacto Global da ONU, no ano passado, quando lançou seu primeiro relatório de práticas de sustentabilidade seguindo as diretrizes da GRI (Global Reporting Iniciative), entre elas inclusão, governança, política ambiental, diversidade, e educação como vetor de desenvolvimento da sociedade brasileira.

O material reuniu as iniciativas de sustentabilidade da TV Globo, dos 26 canais de TV por assinatura, do Globoplay e dos seus produtos digitais em cada uma dessas verticais. A segunda edição do relatório está sendo lançada nesta quarta (dia 26 de abril).

Carbono neutro desde 2018

As práticas ESG (Ambiental, Social e Governança, na sigla em inglês) têm sido adotadas pelas maiores companhias do mundo, nos últimos anos, reforçando o comprometimento em ter uma gestão de qualidade.

— Não existe uma discussão sobre a Terra que não passe pelo Brasil. A decisão de aderir ao Pacto Global foi histórica, cautelosa e pensada por causa das implicações que isso tem. Mas foi fácil, porque quando olhamos a agenda do Pacto Global vimos uma coincidência com os nossos próprios princípios — disse Manuel Belmar, diretor de Finanças, Jurídico e Infraestrutura da Globo.

Ele complementa:

— Agora, aderimos ao NetZero. Na verdade, a Globo já é uma empresa carbono neutro desde 2018. Não somos intensivos em emissão de gases de efeito estufa. Mas nossa agenda ESG até 2030 não é só sobre a emissão de carbono, mas sobre a potência, o alcance e a missão que a Globo tem de influenciar cidadãos e empresas aqui para que adotem as melhores práticas

Ana Buchaim, vice-presidente de Pessoas, Marketing, Comunicação, Sustentabilidade e Investimento Social Privado da B3, disse que a Bolsa brasileira foi a primeira do mundo a aderir ao Pacto Global da ONU, em 2005. Ela afirmou que a B3 quer ser um lugar onde se praticam os melhores princípios ESG, convidando o setor privado a se engajar na evolução da sustentabilidade.

— Criamos o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3), indicador que reúne as empresas selecionadas pelo comprometimento com a sustentabilidade empresarial — afirmou Buchaim.

Para Filipe Bartholomeu, presidente da AlmapBBDO, que também é signatária do Pacto Global da ONU, o objetivo de criar uma campanha equiparando a Terra a uma empresa foi uma gerar discussão e para que as pessoas prestem atenção no tema, além de buscar a audiência correta.

— Estamos na B3 porque queremos falar com os líderes das empresas. Não é só a sociedade civil. Se as empresas não se mobilizarem, o mundo não vai andar na velocidade e a gente quer chegar — disse Bartholomeu.

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