Pandemia: para especialistas, Brasil entra na rota da recessão econômica
O mundo paralisou suas atividades desde o aparecimento do novo coronavírus, bem no final do ano passado, quando surgiram os primeiros casos na cidade de Wuhan, na China. A partir de então, cada país está determinando medidas de isolamento e suspensão das atividades econômicas de acordo com o contágio das suas localidades. No Brasil, em cada estado as decisões foram diferenciadas. Em Pernambuco, por exemplo, chegou a ser determinada até período de quarentena. Mas há perguntas que todos querem saber: quando o cenário voltará ao normal? O Brasil vai enfrentar períodos duros de recessão econômica? A verdade é que especialistas apontam, sim, para uma recessão.
Que o Brasil vai enfrentar queda no Produto Interno Bruto (PIB) do ano é um fato entre especialistas. Afinal, são vários meses de paralisação dos setores econômicos em diversos estados. E o PIB representa justamente tudo o que um país produz em um determinado período. Se o Brasil apresentou um avanço de 1,1% no PIB em 2019 em meio à tentativa de recuperação, como será que fica este ano? Instituições internacionais apontam para uma queda entre 5% e 6% em 2020. Até hoje, o maior declínio foi de 4,35%, em 1990. O Banco Central revelou que o IBC-Br, índice que simula a atividade econômica, sofreu uma contração de 9,73% em abril comparado ao mês de março.
A recessão então acontece, pois ela é confirmada, tecnicamente, quando se há dois trimestres seguidos de queda no PIB. “O Brasil pode apresentar períodos consecutivos de queda no PIB. Quando se isola as pessoas, o comércio, os serviços e a indústria não funcionam. Se esse período é muito prolongado, os impactos são mais difíceis, como o desemprego. E com certeza este ano será fechado no negativo. A recuperação deve acontecer de agosto em diante. Só que essa força do segundo semestre não será suficiente para reverter o quadro negativo do primeiro semestre, já que abril e maio tudo estava parado”, analisou o economista da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Ecio Costa.
Leia também
• BC prevê queda de 6,4% na economia este ano
• Ipojuca anuncia que investirá R$ 118 milhões para retomada da economia
• Economia brasileira deve ter forte queda no primeiro semestre, diz BC
O resultado dessa recessão na economia pode representar vários fatores, a depender do tamanho dela, como fechamento de empresas, desemprego, contratação com salários em valores mais baixos. De acordo com o economista da Consultoria Econômica e Planejamento (Ceplan), Jorge Jatobá, será uma recessão, no Brasil, maior que a experimentada em 2008, quando banco nos Estados Unidos começaram a exceder os empréstimos com taxa de juros muito baixas para pessoas que não tinham condições de pagar. E também deve ser pior que a Grande Depressão de 1929-1930, quando houve um excesso de alavancagem e endividamento para especulação na bolsa de Nova Iorque, resultando até na falência de bancos.
“Esta recessão é causada por um isolamento para prevenir um colapso na rede de saúde. Ela não tem origem econômica. E essa é pior para o Brasil em comparação a 2008 e 1929. Até porque em 1929, atingiu mais a produção de café. Hoje, temos uma economia mais madura, com mais setores em funcionamento, e as atividades estão paralisadas em muitos desses setores. No entanto, podemos ter uma retomada mais rápida comparada a essas duas anteriores”, avaliou Jatobá, ao complementar que acredita que no próximo ano o Brasil já volta a crescer.
Assim como ainda é bem incerto o futuro sanitário do mundo, em função da Covid-19, essa recessão mundial suscita opiniões divergentes do tempo que deve durar. A avaliação do economista e doutorando em Administração pela UFPE, Bruno Moura, é que a recessão será prolongada. "Este ano a economia não volta ao patamar que estávamos. Nem todas as empresas estão abertas e pequenas empresas vão fechar. E por isso será difícil voltar ao patamar da economia que estávamos antes de 2014. Acredito que essa recessão dure até, pelo menos, a nova eleição presidencial, em 2022", analisou Moura.
O Governo Federal tem aplicado algumas ações, como o programa do Auxílio Emergencial e a Medida Provisória 936, que possibilita suspensão e redução de salário, para poder reduzir a recessão. “O que o governo faz hoje é insuficiente. O governo deveria injetar mais dinheiro na economia, dando melhores incentivos para empresas”, defendeu Moura.
Dicas para enfrentar a crise
Diante do cenário ainda de incertezas, seja de quando a pandemia vai acabar ou de até quando vamos enfrentar uma recessão, algumas iniciativas podem ser feitas por pessoas e empresas. Especialistas dão algumas indicações do que pode ser feito para reduzir possíveis impactos. Não há uma padronização, afinal cada negócio tem suas individualidades. Mas são dicas a serem analisadas.
Para pessoas físicas, um primeiro ponto é: gastar menos do que se ganha. "Parece clichê, mas é sempre importante reafirmar isso. Dinheiro é projeto de vida", disse o planejador financeiro, Paulo Marostica.
Mas o quanto guardar? "A taxa Selic está em 2,25%, a menor da história do Brasil. Isso significa que há uma perda no rendimento. Com juros menores, os esforços do investidor deve ser maior para conseguir mais dinheiro. Hoje, no cenário de ganho real zero, se a pessoa quiser manter o padrão de vida no futuro precisa guardar 50% da renda por mês", indicou o planejador financeiro, Paulo Marostica, ao acrescentar que é importante ter orientação de um especialista para saber onde é mais rentável colocar o dinheiro.
O planejador dá algumas indicações do que se pode fazer com dívidas. "Não indicaria fazer dívidas no momento, como compras de bens. Ao menos que se tenha previsibilidade na renda do mês. Se a pessoa fez dívida antiga com juros alto, pode trocar por pagamentos mais baratos hoje, já que os juros estão baixos. Ou seja, pode tentar linhas de créditos mais em conta", disse Marostica.
Caso tenha alguma dívida mais baixa, a indicação é pagar normalmente no prazo. "É melhor pagar as dívidas, sem antecipar. Porque pode acontecer de quitar toda a dívida e deixar de pagar o cartão de crédito, por exemplo. E os juros do cartão são mais elevados", sugeriu o planejador.
Para as empresas, o que se pode fazer é 'terceirizar o negócio' para minimizar custos. "É como colocar o consumidor para trabalhar pela empresa, por exemplo: fazer propaganda para poder chamar clientes, pagar pelo aplicativo para não precisar de pagamento presencial", disse economista e doutorando em Administração pela UFPE, Bruno Moura.
Como não se sabe como o mercado vai responder diante dos novos desafios econômicos, só é indicado fazer estoque em caso de produto não perecível e que certamente tenha venda.
Marostica ainda dá dica para as empresas que estão na dúvida sobre manter aberto o seu negócio. "Se a empresa estiver pagando para trabalhar, é melhor fechar e estancar prejuízos. Se mantiver aberta, é preciso reestruturar os custos e ir atrás de linha de crédito barata", sugeriu o planejador.