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Pedidos de recuperação judicial de empresas têm maior patamar em 3 anos. Dívidas passam de R$ 100 bi

Americanas, Oi e Grupo Petrópolis pediram proteção contra credores no primeiro semestre. Falências aumentaram 36%

Diversas empresas entraram com pedido de recuperação judicial como Americanas, Oi, Light e Grupo PetrópolisDiversas empresas entraram com pedido de recuperação judicial como Americanas, Oi, Light e Grupo Petrópolis - Foto: Reprodução

O número de empresas que recorrem a pedidos de recuperação judicial para renegociar suas dívidas com credores atingiu o maior patamar dos últimos três anos ao longo dos primeiros seis meses deste ano. De acordo com pesquisa feita pela Serasa Experian, o total de pedidos chegou a 593 entre janeiro e junho, uma alta de 52% em relação aos 390 requerimentos registrados no mesmo período de 2022.

Desde janeiro deste ano, diversas empresas entraram com pedido de recuperação judicial como Americanas, Oi, Light e Grupo Petrópolis. Juntas, somente essa quatro companhia somam dívidas superiores a R$ 100 bilhões. De acordo com Luiz Rabi, economista da Serasa Experian, o avanço é fruto da alta da inadimplência das empresas, que alcançou 6,48 milhões companhias somente em maio.

Houve avanço nos pedidos em diversos setores. Empresas que atuam no segmento de serviços tiveram a maior parcela dos requerimentos, com 261 no total, seguido de comércio (168), indústria (112) e setor primário (52). Quando se observa o porte das companhias, as micro e pequenas empresas lideraram o ranking semestral, com 63 renegociações, seguidas por médias empresas (26) e grandes companhias (3).

Impacto dos juros
Para especialistas, um dos motivos para o cenário é alto patamar de juros básicos da economia, a Selic, atualmente em 13,75% ao ano. Ontem, a Serasa informou também que o custo do crédito afeta os consumidores. A busca por recursos financeiros nos primeiros seis meses deste ano atingiu a maior queda desde 2008.

Rabi destaca ainda o aumento no número de pedidos de falências. Entre janeiro e junho, foram registrados 546 pedidos, alta de 36,2% na comparação com o mesmo período de 2022. Foi o maior patamar desde 2019, quando o total chegou a 678 requerimentos. A maioria dos requerimentos de falências veio também de micro e pequenas empresas (303), seguido de médias empresas (129) e grandes coompanhias (114). Os setores se dividiram entre serviços (220), indústria (172), comércio (150) e setor primário (4).

-Há uma combinação de inflação alta com juros elevados. O remédio amargo para combater a inflação com juros é o aumento da inadimplência. E o elo mais fraco dessa cadeia são as pequenas e médias empresas. O setor de serviços foi o que teve maior impacto por conta ainda dos reflexos da pandemia. E em serviços não se consegue buscar outros mercados como o externo e por isso depende da renda do consumidor e do nível de emprego -diz Rabi.

Inadimplência cresce
Segundo ele, haverá aumento nos número de pedidos de recuperação judicial nos próximos meses:

- O aumento de recuperação judicial é reflexo do aumento da inadimplência nas empresas, que começou a crescer no final de 2021 de forma ininterrupta por 18 meses. E esse cenário de proteção judicial deve continuar crescer até o fim do ano, pois reflete esse cenário, apesar de a inadimplência jurídica estar entrando numa curva de estabilização.

Henrique Biscolla, sócio diretor da A&M, também prevê aumentos nos pedidos de recuperação judicial. Para ele, o cenário de incremento de preços das commodities, por conta da guerra na Ucrânia, agravou a situação em um cenário ainda frágil e de recuperação por conta da pandemia nos últimos anos.

- Ainda há um terreno fértil para a reestruturação de dívidas. A relação entre dívida e geração de caixa ainda é desafiador. Essa onda ainda continua pelos próximos meses. A receita das empresas não conseguiu acompanhar o aumento de custos e inflação. E houve, assim, uma necessidade maior de recorrer à recuperação judicial. Esse cenário é reflexo de uma tentativa frustrada de negociação com os bancos.

Gustavo Kloh, professor da FGV Direito Rio, destaca o alto patamar elevado dos juros no Brasil do ponto de vista macroeconômico. Além disso, o alto elevado nível de endividamento do consumidor também aparece como motivo.

'Torneira do crédito' fechada
-Os juros altos vêm criando essa crise no varejo, que também é castigado pela inflação. Isso afeta as empresas, que compram com crédito. Além disso, os meios jurídicos da recuperação judicial estão ficando mais conhecidos. E está sendo mais fácil pedir recuperação judicial. Esse movimento veio para ficar, até porque em outros países esse recurso é muito popular - diz Kloh.

Rodrigo Gallegos, sócio da consultoria RGF & Associados, diz que o avanço dos pedidos de recuperação judicial no período já era esperado. Segundo ele, a crise da Americanas contribuiu para esse cenário, com bancos restringindo o crédito, além das incertezas de mudança de governo e os juros elevados.

- Isso tudo fez com que investidores e instituições financeiras fechassem a torneira do crédito. Isso afetou diretamente as empresas, já que os juros maiores começaram a afetar o caixa das empresas, que não conseguiram renegociar, afetando o seu fluxo de caixa. Assim, quem demorou para se reestruturar, acabou ficando sem fôlego financeiro.

Para o segundo semestre, ele também espera alta no volume de renegociações de dívidas na Justiça.

-As empresas que passaram o primeiro semestre inteiro tentando renegociar as dívidas não terão outra saída. E muitas companhias acabam não se preparando para o pior. Por isso, o ideal é iniciar rapidamente uma reestruturação para segurar o resultado caso as negociações falhem - afirmou Gallegos.

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