Petrobras deve aprovar nesta quarta plano que prevê investimentos de US$ 70 bi a US$ 80 bi em 5 anos
Equipe de Lula deve ampliar o montante no próximo ano, quando trocar cúpula da empresa, com inclusão de projetos de energia refino
A Petrobras apresenta nesta quarta-feira (30), após o fechamento da Bolsa, seu novo plano de negócios com a previsão de investimentos para 2023 e 2027.
De acordo com fontes, o plano vai prever aportes entre US$ 70 bilhões e US$ 80 bilhões nos próximos cinco anos, mais que os US$ 68 bilhões anunciados para o período entre 2022 e 2026.
Ainda assim, o plano deve ser revisado para cima no ano que vem, quando o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumir e trocar a cúpula da estatal.
Segundo pessoas informadas sobre o plano, a alta nos investimentos previstos foi influenciada principalmente pela alta dos preços do petróleo no mercado internacional, mas o valor final ainda será aprovado na manhã de hoje pelo Conselho de Administração da Petrobras.
A atual gestão da estatal sabe que a tendência é de que o documento seja revisado a partir de janeiro, mas decidiu manter uma estratégia “consistente com os últimos três planos”, nas palavras de uma fonte, referindo-se à estratégia de abertura de mercado, busca de eficiência e maior seletividade nos investimentos herdada do governo Michel Temer (MDB) e mantida no de Jair Bolsonaro (PL).
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Em entrevista ao Globo, o ex-presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) Maurício Tolmasquim, que coordena o grupo técnico de Minas e Energia da equipe de transição de Lula, confirmou que o plano do futuro governo é ampliar o plano da Petrobras para incluir investimentos em fontes renováveis de energia, como fazem outras grandes petroleiras no mundo, mas também no aumento da capacidade de refino de petróleo para aumentar a oferta nacional de combustíveis.
Reduzir a necessidade de importação para atender toda a demanda do país seria uma forma de facilitar o plano de Lula de mudar a política de preços da Petrobras, que atrela os dos combustíveis à cotação internacional do petróleo e ao câmbio.
Pedido negado
Tolmasquim confirmou que, em conversa com a diretoria da Petrobras na segunda-feira, incluindo o atual presidente, Caio Paes de Andrade, integrantes da equipe de transição sugeriram o adiamento da divulgação do plano de negócios, mas os executivos alegaram que isso não seria possível devido à obrigação legal de empresas de capital aberto de aprová-lo até a última reunião ordinária do conselho no ano.
— O ideal era que a publicação do plano fosse postergada para o ano que vem, mas existem questões estatutárias, e eles têm que divulgar o plano estratégico este ano. Mas eles mesmos, na reunião, apontaram que a nova administração poderá revisar e fazer um novo plano. E como as estratégias não são exatamente as mesmas, muito provavelmente a nova direção vai ter que elaborar e divulgar um novo plano estratégico. A gente tem que aguardar para ver o que vai vir — afirmou Tolmasquim.
Segundo a colunista do GLOBO Malu Gaspar, além do adiamento da divulgação para depois da posse de Lula, a equipe do petista pediu também a suspensão de todas as vendas de ativos e o repasse de todas as informações disponíveis sobre a fórmula de reajustes de preços dos combustíveis. A estatal informou só poder atender o terceiro pedido. Paes de Andrade e sua equipe se comprometeram a não assinar nada novo relacionado à venda de negócios, mas disseram que as transações em fase de conclusão, como as vendas de campos maduros de petróleo e da Refinaria Isaac Sabbá, no Amazonas, podem ser fechadas nos próximos dias.
A equipe de transição não teve acesso ao plano de investimentos que será divulgado hoje pela estatal. O documento manterá o foco no pré-sal, que já responde pela maior parte da produção de petróleo da companhia, mas terá agora investimentos na Margem Equatorial, no litoral entre as regiões Norte e Nordeste — criticada por ambientalistas —, e um projeto na bacia Sergipe-Alagoas.
A estatal já sabe que o documento será alterado no governo Lula. A revisão no ano seguinte, observou um analista, foi feita no início da gestão de Roberto Castello Branco, primeiro executivo indicado por Bolsonaro para comandar a Petrobras.
No grupo de transição, técnicos reforçam a necessidade de a Petrobras voltar a investir em fontes alternativas de energia como solar, eólica, biomassa e biocombustíveis.
Segundo uma fonte envolvida nas discussões, a ideia é que a estatal crie um programa que envolva a preparação e a capacitação profissional para as novas fontes de energia visando à economia de baixo carbono, tema que deve ser transversal no governo petista, e volte a fazer um “planejamento empresarial de longo prazo”. Na visão dos aliados de Lula, isso foi abandonado por Bolsonaro, que chegou a pedir estudos para privatizar a estatal.
Além de rejeitar a privatização, o grupo ligado a Lula deve rever o atual plano de venda de ativos, como refinarias. Ao contrário, o grupo defende o aumento da capacidade de produção de combustíveis pela estatal no país. O sentido seria distribuir menos dividendos aos acionistas e gerar valor ampliando os investimentos.
Dados compartilhados
Um integrante do comando atual da estatal observa que investimentos em energia renovável são mais arriscados e menos rentáveis que a produção de óleo e gás, o que dificultaria alterar a estratégia de investimentos no curto prazo.
O plano de negócios será um dos temas debatidos nas próximas semanas entre a atual diretoria e o futuro governo, já que está em curso a criação de um data room no Rio para o compartilhamento de informações.
A equipe de transição enviou ofício à Petrobras pedindo, por exemplo, a listagem dos processos de venda de ativos em diversas fases “e que implicariam em consequências de curto prazo, nos seis primeiros meses de gestão”.
Além de Tolmasquim, integram o grupo de Minas e Energia na transição o senador Jean Paul Prates (PT-RN), Magda Chambriard, ex-diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), o pesquisador Willian Nozaki e Deyvid Bacelar, coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP) e ex-conselheiro da estatal.