Petrobras faz parceria com Vale em combustível renovável, prevê ampliação em refino e plataformas
Magda Chambriard, presidente da estatal, destaca potencial da Bacia de Pelotas e projetos em fertilizantes
Ao destacar a necessidade de a Petrobras ser mais ágil e eficiente, Magda Chambriard, presidente da estatal, deu detalhes do novo plano de negócios da companhia, que será anunciado em novembro e contempla o período de 2025 a 2029.
A executiva citou a ampliação da capacidade de refino para reduzir a importação, a busca por mais plataformas e o avanço em projetos renováveis, como o hidrogênio verde. Citou ainda parceria com a Vale para estimular o consumo de combustíveis renováveis.
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Ela participou, junto com outros diretores da estatal, na manhã desta segunda-feira, de um café da manhã com jornalistas, em comemoração ao mês de aniversário da empresa, que neste ano celebra 71 anos de fundação.
— Ainda não fechamos o novo plano de negócios. Comparado ao ano anterior, não será o dobro nem a metade. O número não está fechado. Vamos buscar energias renováveis. Uma coisa que não podemos deixar de observar é que, quando falamos de transição energética, estamos falando de moléculas e elétrons. Vamos tentar desenvolver as coisas mais rapidamente. Queremos uma Petrobras mais ágil e mais eficiente. Todo petróleo conta.
Magda também ressaltou que o novo plano vai incluir o reaproveitamento das plataformas, pondo fim ao plano de descomissionamento das unidades.
— Não gostamos de descartar o que pode ter um reaproveitamento mais nobre em prol da indústria naval brasileira. O plano ainda não está fechado, mas teremos embarcações com conteúdo local e renovação no desenvolvimento de fornecedores, tanto no Brasil quanto no exterior. Tudo isso está sendo tratado no âmbito do plano.
Parceria com a Vale
Magda lembrou que a Petrobras vai anunciar uma parceria com a Vale para estimular o uso de diesel e bunker (combustível marítimo) com conteúdo renovável nas frotas das duas empresas.
— Estamos firmando uma parceria com a Vale em prol da descarbonização. Temos o nosso ‘chuchuzinho’ (diesel R5, com 5% de conteúdo renovável). Imagine a frota da Petrobras e da Vale com combustível 100% renovável e como isso repercute no Brasil. Imagine um bunker (combustível marítimo) com 24% de conteúdo renovável.
Ampliação de refinarias
Magda destacou que a companhia vai aumentar a capacidade de refino no Brasil. Segundo ela, o objetivo é “reduzir as importações”.
— Temos a finalização, entre outubro e novembro, da construção do primeiro trem da Rnest. Será uma capacidade adicional de diesel, com aumento de 25 mil barris por dia. Temos ainda o segundo trem (unidade) da Rnest, em Pernambuco.
Magda também mencionou a retomada do antigo Comperj, no Rio de Janeiro, que hoje se chama Complexo de Energias Boaventura, inaugurado recentemente pelo presidente Lula.
— Estamos projetando um polo que vai aumentar a produção de derivados em 50% no Rio de Janeiro.
Magda disse ainda que a Petrobras vai elevar de cinco para dez o número de refinarias que produzirão diesel renovável.
— Seremos parceiros e vamos comprar óleo vegetal do agronegócio. Hoje, cinco refinarias já produzem diesel renovável. E vamos chegar a dez unidades.
Conversas com Mubadala
Segundo William França da Silva, diretor de Processos Industriais e Produtos da estatal, o novo plano não prevê novas refinarias. O plano inclui ainda modernizações nas unidades atuais. A meta é aumentar a produção de refino em 260 mil barris por dia.
— Queremos reduzir a necessidade de importação. Não temos interesse na Reman (no Amazonas, vendida para a Atem em 2022), que está sendo usada como terminal. Mataripe (vendida para os árabes da Mubadala Capital em 2021) é outro negócio que está sendo avaliado. Se tudo correr bem, e for interessante para a companhia, podemos negociar com eles.
Margem Equatorial
De olho na ampliação das reservas de petróleo, Sylvia dos Anjos, diretora de Exploração e Produção, disse que a meta é buscar novas reservas.
— Estamos em busca de reservas. No poço da Margem Equatorial (na Bacia do Foz do Amazonas, que depende do aval do Ibama), já poderíamos ter uma avaliação da região. Descobrimos gás na Colômbia e também tivemos descobertas no Rio Grande do Norte. Estamos analisando todos os blocos para fomentar novas descobertas.
Sobre o aval do Ibama para perfuração na Foz do Amazonas, Sylvia se mostrou confiante. Clarice Coppetti, diretora de Assuntos Corporativos, afirmou, por sua vez, que espera um retorno ainda neste ano.
— Apresentamos uma proposta no dia 2 de agosto para uma nova base de fauna em Oiapoque, que será montada em janeiro de 2025, e está em análise no Ibama. Todos os pontos foram respondidos. Fechamos todos os itens levantados pelo próprio Ibama. Esperamos que, em 2024, tenhamos um retorno da equipe técnica.
Sylvia lembrou que, devido à demora para obter a licença, a empresa entrou em agosto com um pedido na Agência Nacional do Petróleo (ANP) para prorrogar o prazo exploratório.
— Pedimos a postergação porque ainda não conseguimos a licença. Esse bloco foi adquirido em 2013 e tivemos que fazer renovações do pedido. A ANP acatou a solicitação.
Potencial em Pelotas
Magda também mencionou os investimentos em Pelotas, na costa do Rio Grande do Sul, que tem correlação com a Namíbia, na África, onde há um potencial de 11 bilhões de barris de reservas.
— Alguns chamam a Namíbia de nova Guiana. Isso traz potencial para Pelotas. Se a Namíbia pode, Pelotas também pode.
São 29 blocos adquiridos na região, segundo Sylvia. Nesta segunda-feira, a Petrobras informou que celebrou os três contratos de concessão restantes do 4º Ciclo de Licitações da Oferta Permanente, adquiridos em parceria com a Shell e a CNOOC, no leilão realizado pela ANP em dezembro de 2023. O consórcio terá a Petrobras como operadora, com participação de 50%, tendo como parceiras a Shell e a CNOOC, com participações de 30% e 20%, respectivamente.
— Estamos na fase de avaliação sísmica e vamos acelerar o processo — afirmou a diretora.
Plataformas
Magda detalhou os planos para as plataformas. Ela citou que a FPSO Maria Quitéria, de 100 mil barris, que vai operar no campo de Jubarte, entrará em operação ainda este mês. A previsão anterior era que isso ocorresse no próximo ano.
— A FPSO Almirante Tamandaré, com capacidade de 225 mil barris por dia, destinada ao campo de Búzios, já está a caminho do Brasil. Esperamos que entre em operação no final deste ano ou início do próximo. A produção no Brasil está aumentando. Temos mais seis plataformas para o campo de Búzios e estamos trabalhando na P12, que aumentará a produção de gás em Búzios.
Magda disse estar incomodada com a produção em Campos. Por isso, a estatal iniciou um grupo de trabalho para reavaliar o descomissionamento das plataformas, visando aumentar a produção.
— Campos pode produzir nos próximos 50 anos a mesma quantidade que já produziu. Estamos voltados para o melhor aproveitamento da Bacia de Campos. Iniciamos estudos internos para reavaliar o descomissionamento das plataformas P35, P37, P47 e até da P19. Vamos ver se conseguimos aproveitar essas unidades para gerar maior valor para os acionistas. Isso é um estudo, não uma promessa.
Ela também mencionou o contrato para a construção das plataformas P84 e P85, destinadas a Sépia e Atapu, com capacidade de 225 mil barris por dia, o que, segundo ela, “inaugura a era das plataformas gigantes no Brasil”. Além disso, a companhia pretende iniciar a licitação para duas unidades em Sergipe-Alagoas em novembro e, hoje, abriu a licitação para a construção de uma unidade para os campos de Marlim Leste e Sul.
Dividendos
Fernando Melgarejo, diretor Financeiro e de Relacionamento com Investidores, não descartou a distribuição de dividendos extraordinários durante o novo plano de negócios da estatal.
— Vamos buscar um caixa mínimo. No último plano (2024 a 2028), era de US$ 8 bilhões, mas transitamos com um valor maior. Para o novo plano, esse número pode variar. O que for considerado excesso de caixa será distribuído como dividendo extraordinário.
Fertilizantes
Em relação a outras áreas de negócios, Magda afirmou que, em fertilizantes, haverá a retomada da Ansa, no Paraná. Segundo ela, a unidade terá capacidade de produção de 700 mil toneladas por ano, o que corresponde a 10% da demanda de fertilizantes nitrogenados no Brasil.