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Gasolina e Diesel

Petrobras: fim da paridade internacional pode afetar resultados

Para analistas, lucro dependerá de aumento nas vendas e queda no preço dos combustíveis não chegaria por completo aos postos

Presidente da Petrobras, Jean Paul PratesPresidente da Petrobras, Jean Paul Prates - Foto: Tomaz Silva / Agência Brasil

O fim da política de paridade de importação (PPI) pela Petrobras com o objetivo de reduzir os preços da gasolina e do diesel ao consumidor final pode não só afetar os resultados financeiros da estatal como não chegar por completo nos postos de combustíveis, dizem especialistas do setor.

O presidente da companhia, Jean Paul Prates, disse ontem que a empresa vai anunciar na próxima semana nova estratégia comercial, que vai levar em conta a produção brasileira, a cotação internacional e o perfil do cliente.

Segundo Marcus D’Elia, sócio da Leggio Consultoria, a lucratividade da companhia com a nova estratégia comercial vai depender do equilíbrio entre os preços menores que serão praticados pela Petrobras com o fim do PPI e o aumento nas vendas.

Porém, ele alerta que a Petrobras, mesmo reduzindo os preços nas refinarias, vai depender das distribuidoras para o repasse na bomba.

Impacto na concorrência

Segundo D’Elia, como cerca de 20% a 30% dos combustíveis são importados, essas distribuidoras vão fazer um mix entre os preços da Petrobras, que serão menores, e os dos importadores, que tendem a acompanhar em tempo real as cotações internacionais:

— Ao fazer esse mix, o preço médio não vai cair na mesma proporção. Ou seja, essa queda no preço que a Petrobras pretende fazer pode não chegar na bomba. Portanto, o preço ao consumidor será composto em média por 76% do preço Petrobras e 24% pelo preço dos importadores. Lembrando que, no Brasil, os preços são livres e não cabe ao governo definir o valor de venda do combustível na bomba.

O especialista Pedro Rodrigues, sócio da consultoria CBIE, acredita que, ao acabar com o PPI, os resultados financeiros da estatal podem ser afetados, já que a companhia vai perder o chamado “custo de oportunidade”, uma vez que diesel e gasolina têm preços cotados no mercado internacional:

— Fico sem entender, pois, se a Petrobras não vai seguir o PPI e não vai se desgarrar das cotações internacionais, como os preços serão “inexoravelmente mais baixos” (como disse Prates em entrevista ao GLOBO na edição de ontem)? Se ela começa a vender combustível mais baixo, deixa dinheiro na mesa, e isso afeta a rentabilidade.

Rodrigues lembra ainda que isso pode afetar a concorrência, pois há dúvidas sobre como ficará o volume de importação de combustíveis pelos importadores a depender dos preços que vierem a ser praticados pela Petrobras:

— O mercado nacional depende de agentes além da Petrobras. Não sei como os acionistas e o mercado vão se comportar.

‘Muito barulho’

O analista Pedro Galdi disse que o mercado financeiro vê o tema como uma grande especulação. E cita ainda outros assuntos, como os dividendos e os investimentos.

— Ele (Prates) falou de preços de combustíveis diferenciados por estado. Isso faz sentido? A estratégia de investimento será refeita, mas quais serão as mudanças? Qual será a política de dividendos? É muito barulho.

Em entrevista coletiva ontem, Prates afirmou que a estatal vai seguir o critério de estabilidade de preços frente à volatilidade internacional e ser atrativo para o cliente:

— Não haverá uma abdicação das vantagens da empresa, como ter refino e produção no Brasil. Não precisamos voltar a um tempo em que não tínhamos reajustes, como em 2006, que não teve nenhum, mas também não precisamos fazer igual a 2017, quando teve uma maratona de 118 reajustes de combustíveis. Vamos continuar seguindo a competitividade interna em cada mercado que participamos e a referência internacional.

Em entrevista exclusiva ao GLOBO um dia antes, Prates afirmou que o modelo da nova estratégia comercial vai seguir uma área de influência por região, de acordo com as refinarias, e também variar com o tipo de cliente. “Vai ter um preço inexoravelmente mais baixo que o PPI”, disse ele.

Uma das críticas do atual governo é que estatal reajusta seus combustíveis em uma política baseada nos preços importados, que são balizados pelos custos de frete, dólar e petróleo.

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