Combustível

Petrobras não descarta um novo aumento de combustível este ano. "Tempestade perfeita", diz Prates

Em evento para comemorar os 70 anos da estatal, presidente da empresa afirmou que nova política de preços minimiza os efeitos da volatilidade de preços no exterior

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates  - Foto: Mauro Pimentel/AFP

Jean Paul Prates, presidente da Petrobras, disse que a companhia pode fazer algum novo reajuste dos combustíveis ainda esse ano. Em evento para comemorar os 70 anos da estatal, no Cenpes, no Rio de Janeiro, ele afirmou que o mercado hoje enfrenta uma "tempestade perfeita", com o enxugamento do diesel russo que servia como um "colchão de amortecimento". Além disso, o preço do petróleo está acima dos US$ 90 e chegou recentemente a US$ 95.

"A nova política de preços da Petrobras minimiza os efeitos da volatilidade de preços no exterior. Isso não quer dizer que a empresa não acompanha a referência (do preço) em novos patamares. Já fizemos um ajuste e estamos agora analisando justamente a possibilidade ou não de outro reajuste antes do final do ano, mas a gente ainda não tem isso como concreto", explica presidente da Petrobras.

Segundo ele, a nova política de preços, que acabou com o PPPI (a paridade de importação, e que acompanhava as cotações do petróleo e do dólar no mercado internacional), trouxe uma nova estratégica comercial que leva os custos nacionais, entre outros fatores.

"O que temos de concreto é que a nossa política de preço dentro do túnel de volatilidade, que tem um intervalo entre o custo marginal e o custo alternativo do cliente, está funcionando, pois já tivemos várias oscilações não só do preço do Brent como do preço do diesel, com refinarias da Rússia que pararam por manutenção técnica", disse Prates.

Houve um enxugamento do diesel russo que estava chegando aqui e fazia um colchão de amortecimento. Agora não temos mais isso e sim um mercado de tempestade perfeita. E temos que administrar isso.

Prates, no entanto, não disse quando um possível reajuste seria feito, mas ressaltou que as discussões caminham para saber se de fato é necessário e, se for, quanto será. Nesta terça-feira, a estatal anunciou aumento de 5,3% no preço médio de venda do querosene de aviação (QAV) para as distribuidoras a partir deste mês de outubro.

O avanço representa um aumento de R$ 0,22 por litro. Apesar da alta, a estatal disse que desde janeiro o QAV acumula redução de 12,6%, o que corresponde a uma queda média de R$ 0,64/litro em relação ao preço de dezembro de 2022.

Foz do Amazonas
A perfuração na Bacia Potiguar, na Margem Equatorial, no litoral do Rio Grande do Norte, cuja exploração foi aprovada ontem pelo Ibama, deve começar entre o fim deste mês e novembro. Prates disse que a empresa vai continuar perseguindo as licenças em toda a região, como na Bacia da Foz do Amazonas.

Ao todo, a estatal pretende perfurar 16 poços na região que vai do Amapá ao Rio Grande do Norte, com investimentos previstos de US$ 3 bilhões, valor que será mantido no plano de negócios de 2024-2028 e que será anunciado no fim de novembro.

— Em relação ao Foz do Amazonas, com Amapá Águas Profundas, esperamos evoluir mais. E se ganhou um tempo de quatro a seis meses. O Ibama pode fazer mais exigências e todas que foram feitas já foram atendidas. As discussões vão se intensificar com vistas a ser o próximo destino. Tudo depende do Ibama. É ele que vai dar o ritmo e a fila do atendimento dessas licenças. São 16 poços em toda a campanha exploratória e foi pedido a mais de um ano e meio — afirmou Prates.

Do poço ao posto
Durante o evento de comemoração, o presidente da Petrobras disse que o futuro da companhia será do “poço ao poste” e “da brisa do mar a bateria”. Citou que o novo plano de negócios da estatal vai levar em conta o novo pilar estratégico da empresa, com matriz mais diversificada:

— Chegamos a 2023 com desafios tão grandes como em 1953. O mundo está em transformação e exige mais diversidade de fontes energéticas e redução de emissão. Estamos em um momento-chave da empresa e da indústria. Buscar a redução de emissões é uma oportunidade. Vamos entregar um novo planejamento indicando os novos pilares dessa estratégia. Redirecionamos nossa estratégia olhando a todas as regiões do país, com eólica offshore e projetos de baixo carbono.

Para ele, a marca BR é "extremamente valiosa".

"A gente vai trabalhar em cima disso. A Petrobras precisa voltar para perto do consumidor final. Ou esse ou o novo consumidor de energia, de biocombustível e de energia renovável. Estamos analisando isso. Vamos avançar em decisões e conceitos novos. Não é só do posto ao poço. É do vento do mar até o armazenamento de energia, passando por tudo que isso compreende, desde a mineração crítica a fabricação industrial e, claro, biorrefino, bioquímica com gás e energia eólica offshore.

Ele diz que "haverá surpresas" com a BR. Um dos passos é revisar a marca. Disse que pode ser feito algo ligado à "eletrificação", mas não detalhes.

"Não é ir lá e comprar a Vibra de volta. Vai passar com conversas com a Vibra. Primeiro estamos vendo os contratos e queremos ver como a nossa marca é tratada e o que rende para nós como os royalties. Temos um bom diálogo. Vamos fazer uma revisão completa da marca. Mas isso é para o ano que vem. O mesmo (pode ser feito) com refinarias que foram vendidas", detalhou.

Pietro Mendes, presidente do Conselho de Administração da Petrobras e Secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do ministério de Minas e Energia (MME), destacou que a companhia precisa ir para novas fronteiras exploratórias de forma a aumentar sua segurança energética com o aumento das reservas de petróleo.

"Temos que comemorar a licença no Rio Grande do Norte. Precisamos chegar a novas fronteiras, e a população brasileira precisa conhecer as suas riquezas na Margem Equatorial. Durante a transição energética, haverá muita demanda por petróleo e derivados. O Brasil não tem quer ser um dos primeiros países a reduzir sua produção de petróleo", disse ele, que citou as iniciativas para redução de emissão de gases causadores do efeito estufa.

Ao citar a segurança energética através do aumento das reservas de petróleo e gás, Mendes afirmou ainda que o Brasil precisa investir em refino de forma a alcançar a autossuficiência e reduzir a necessidade de importação de derivados, hoje de cerca de 30%.

"Precisamos buscar a segurança energética com o aumento das reservas e elevar a produção de derivados para buscar a autossuficiência. Não tem porque a empresa ficar exposta a choques de demanda de oferta e demanda, já que paramos de investir em refino. Uma nação para ter soberania tem que ter energia", disse.

Transição energética, diz Lula
Em mensagem gravada, o presidente Lula disse que a Petrobras vai voltar a ser uma empresa grande e relevante para o Brasil. Citou as tentativas recentes de privatização da estatal, a venda de ativos e ainda se referiu a iniciativas no passado como as tentativas de mudança no nome da companhia.

"Foram vendendo algumas coisas e, com a nossa volta, vamos fazer com que a Petrobras volte a ser importante para o Brasil. É mais que uma empresa de óleo e gás; é uma empresa de desenvolvimento energético, industrial e de pesquisa. A Petrobras tem que participar mais da transição energética e estar presente em toda essa inovação de energia não poluente e não fossil. O Brasil tem a oportunidade de ser um centro de atração de investimento mundial", disse Lula.

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