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Petrobras tem alta de ações mesmo após troca de comando

Para analistas, ações da empresa subiram devido à indicação do economista Adriano Pires para a presidência já que, no exterior, o preço do barril de petróleo caiu

Sede da Petrobras Sede da Petrobras  - Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

No primeiro pregão após a confirmação do economista Adriano Pires na presidência da Petrobras, o mercado reagiu positivamente. Apesar de os contratos futuros de petróleo terem tido queda, as ações da estatal fecharam o dia em alta.

Os papéis ordinários (PETR3, com direito a voto) subiram 1,26%, negociados a R$ 34,51, e os preferenciais (PETR4, sem direito a voto) valorizaram em 2,31%, cotados a R$ 32,33.

Enquanto isso, o contrato para junho de petróleo tipo Brent, referência global, caiu 1,62%, terminando a terça-feira com o barril a US$ 107,71. O petróleo WTI também fechou o contrato para maio com queda de 1,62%, recuando a US$ 104,24 por barril.

Na véspera, o presidente Jair Bolsonaro decidiu demitir o então presidente da estatal, Joaquim Silva e Luna, em meio à pressão por conta do aumento no preço dos combustíveis, apesar de afirmar que a troca foi uma "coisa de rotina". Em seguida, o Ministério de Minas e Energia anunciou que Adriano Pires, especialista do setor de óleo de gás, iria assumir o cargo.

Os ativos da empresa, que já apresentavam queda em linha com o movimento do petróleo no exterior, caíram quase 3% na B3. Mas a reação foi bem menos negativa se comparada com a queda livre dos papéis na empresa após a demissão do então presidente Roberto Castello Branco em fevereiro do ano passado.

"O mercado sempre está tentando precificar algo futuro. Quando Bolsonaro sinalizou a troca do presidente da Petrobras, muita gente se desesperou. Somando isso ao fato de o petróleo ter caído ontem, muitos venderam as suas ações. Hoje, quando os investidores entenderam quem é Adriano Pires, se identificaram com ele", explica Sidney Lima, analista do Top Gain.

E acrescenta:

"O mercado é feito de acionistas que querem lucro. Se eles entendem que a troca não irá afetar seus lucros, ficam satisfeitos", disse.

Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos, acredita que muitos investidores aproveitaram as quedas dos papéis para comprar ações da estatal hoje, o que impulsionou o movimento de alta.

Na visão de Pedro Galdi, analista de investimentos da Mirae Asset, o resultado positivo da Petrobras na bolsa hoje foi "fora da curva". Com a cotação do barril de petróleo caindo, o natural seria que as empresas ligadas a essa commodity apresentassem perdas.

"O mercado gostou do nome do futuro CEO da Petrobras porque é um cara técnico, não gosta de jeitinho. Ele deve manter a Política de Paridade Internacional e pensar em um subsídio pontualmente. Nesse cenário de apetite ao risco, as ações da estatal abriram em alta e mantiveram assim até o fim", observa.

O nome de Pires é avaliado como uma escolha técnica e que não implicará em mudanças na política de preços da estatal, que repassa flutuações nas cotações do dólar e do petróleo. Essa prática vinha sendo um dos principais alvos de crítica por parte de Bolsonaro.

Ele já se manifestou diversas vezes a favor da política de preços, mas endossou propostas de concessão de subsídios temporários para cobrir o “efeito guerra”.

O sócio e gestor da 3R Investimentos, Rodrigo Boselli, também diz que o mercado recebeu a troca no comando da estatal de forma mais tranquila por entender que existe um arcabouço legal em torno da Petrobras que impede intervenções na política de preços e pelo fato dos investidores já saberem o que o indicado para o cargo pensa sobre o tema.

"Você tem a lei das estatais, que é fundamental e o próprio estatuto social da empresa, que a protege de ser usada de forma política pelo controlador. Há um ano, existia essa dúvida, pois ninguém sabia como o Silva e Luna pensava. Como o Adriano Pires é uma pessoa conhecida do setor e, ao longo de anos, já deu muitas declarações de que corrobora com a política de preços, isso dá uma tranquilidade", disse.

Boselli, no entanto, destaca que as constantes trocas na presidência desgastam a imagem da empresa e sua relação com os investidores.

"Nós últimos dois anos, o foco da Petrobras, do ponto de vista do investidor, não tem sido o lado do negócio. Será que vai conseguir produzir mais petróleo? Será que vai conseguir gerar mais caixa? Onde será que vai investir? É sempre uma questão política, se vai mudar a política de preços ou não", destacou.

Ele ainda destaca que o poder do presidente da empresa é limitado, já que as políticas instituídas pela Petrobras partem de um planejamento estratégico que precisa passar pelo conselho da empresa.

Em relatório, analistas do Credit Suisse destacam que a troca de comando na empresa pode aumentar a percepção de risco de interferência. No entanto, eles não esperam “mudanças significativas na política de preços da Petrobras ou na estratégia geral focada em ativos de exploração no pré-sal e águas ultraprofundas”.

Os analistas Regis Cardoso e Marcelo Gumiero ressaltam que a indicação de Adriano Pires tornam baixas as chances de mudanças na estatal, já que ele é um nome respeitado pelo mercado.

O Credit Suisse tem recomendação de compra para a empresa com preço-alvo em US$ 17 para as ADRs, recibos de ação negociados no exterior.

A agência de classificação de risco S&P, por sua vez, disse em comunicado que a mudança no comando da Petrobras "inclui riscos de possível interferência governamental na política de preços de combustíveis da empresa".

Para a agência, isso pode prejudicar a rentabilidade e fluxo de caixa da estatal. Apesar de apostar na manutenção da atual política de preços, a S&P considera haver "preocupações sobre a eficácia de o conselho conseguir realizar supervisão suficiente das ações da administração e proteger os interesses de todos". 

A agência ainda criticou as substituições frequentes na alta administração da Petrobras: "Podem desviar o foco da empresa da execução de sua estratégia e das operações", ressaltou.

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