PIB do Brasil cai 0,1% segundo trimestre, diz IBGE
Previsão de crescimento anual é de 5%
A economia brasileira ficou praticamente estável no segundo trimestre de 2021, com variação negativa de 0,1% em relação ao trimestre anterior, o que representa uma desaceleração no ritmo de recuperação verificado no início do ano, segundo dados do PIB (Produto Interno Bruto) divulgados nesta quarta-feira (1º) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam crescimento de 0,2% na comparação com o trimestre anterior.
Em relação ao mesmo período do ano passado, o PIB cresceu 12,4%, resultado influenciado pela base de comparação, já que o período de abril a junho do ano passado foi o fundo do poço para a atividade econômica durante a pandemia. Nos últimos 12 meses, houve alta de 1,8%. Com esse resultado, a economia brasileira avançou 6,4% no primeiro semestre.
Segundo o IBGE, o PIB continua no patamar do período pré-pandemia e ainda está 3,2% abaixo do ponto mais alto da atividade econômica na série histórica, alcançado no primeiro trimestre de 2014.
O resultado do trimestre deixa um carrego estatístico que deve garantir um crescimento em torno de 5% para o PIB de 2021, resultado influenciado pela base de comparação ruim de 2020. Para 2022, no entanto, analistas já esperam um crescimento próximo de 2%, de volta ao ritmo do final do governo Michel Temer e início da gestão Jair Bolsonaro.
O trimestre foi marcado pela retomada de várias atividades que dependem de aglomerações e contato social, o que favoreceu o setor de serviços, em detrimento da indústria, que já havia retomado o patamar pré-crise no final de 2020.
Segundo o IBGE, o desempenho da economia no trimestre vem do resultado negativo da agropecuária (-2,8%) e da indústria (-0,2%). Por outro lado, os serviços avançaram 0,7% no período.
"Uma coisa acabou compensando a outra. A agropecuária ficou negativa porque a safra do café entrou no cálculo. Isso teve um peso importante no segundo trimestre. A safra do café está na bienalidade negativa, que resulta numa retração expressiva da produção", diz a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.
A indústria de transformação, segundo ela, foi influenciada pelos efeitos da falta de insumos nas cadeias produtivas, como é o caso da indústria automotiva, que lida com a falta de componentes eletrônicos
"É uma atividade que não está conseguindo atender a demanda. Já na atividade de energia elétrica houve aumento no custo de produção por conta da crise hídrica que fez aumentar o uso das termelétricas", afirma Rebeca.
Quase todos os componentes dos serviços cresceram. Apenas o segmento administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social ficou estável.
Segundo o IBGE, a estabilidade do PIB no segundo trimestre (queda de 0,054% no número não arredondado) também reflete o consumo das famílias, que não variou no período (0,0%). O consumo do governo teve alta de 0,7%. Os investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo) recuaram 3,6% no período.
"Apesar dos programas de auxílio do governo, do aumento do crédito a pessoas físicas e da melhora no mercado de trabalho, a massa salarial real vem caindo, afetada negativamente pelo aumento da inflação. Os juros também começaram a subir. Isso impacta o consumo das famílias", diz Rebeca.
A balança comercial brasileira teve uma alta de 9,4% nas exportações de bens e serviços, a maior variação desde o primeiro trimestre de 2010, com destaque para a safra de soja. As importações caíram 0,6% na comparação com o primeiro trimestre.
A expectativa é de resultados melhores neste segundo semestre, caso seja possível manter o ritmo de reabertura da economia. Inflação e juros elevados, crise energética e riscos políticos trazidos pelo governo, no entanto, podem prejudicar essa retomada e devem pesar também sobre a economia em 2022.
Na divulgação do dado do primeiro trimestre, o IBGE informou um crescimento de 1,2%, o que zerou as perdas registradas desde o início da pandemia do coronavírus, quando considerada a média de todos os setores da economia. Os segmentos que mais empregam, como os serviços, no entanto, ainda não haviam recuperado os níveis do início do ano passado.
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RECESSÃO
Em junho do ano passado, o Codace (Comitê de Datação de Ciclos Econômicos), órgão ligado ao Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) e formado por oito economistas de diversas instituições, definiu que o Brasil entrou em recessão no primeiro trimestre de 2020, encerrando um ciclo de fraco crescimento de três anos (2017-2019).
Não há uma definição oficial sobre o que caracteriza uma recessão. Embora alguns economistas utilizem a métrica de que esse é o período marcado por dois trimestres seguidos de queda na atividade, o Codace considera uma análise mais ampla de dados. Para o comitê, o declínio na atividade econômica de forma disseminada entre diferentes setores econômicos é denominado recessão.
CÁLCULO DO PIB
Produtos, serviços, aluguéis, serviços públicos, impostos e até contrabando. Esses são alguns dos componentes do PIB (Produto Interno Bruto), calculado pelo IBGE, de acordo com padrões internacionais, com objetivo de medir a produção de bens e serviços no país em determinado período.
Ele mostra quem produz, quem consome e a renda gerada a partir dessa produção. O crescimento do PIB (descontada a inflação) é usualmente chamado de crescimento econômico. O PIB trimestral é apresentado pela ótica da oferta (o que é produzido) e da demanda (como esses produtos são consumidos.
O PIB trimestral é divulgado cerca de 60 dias após o fim do período e apresenta as óticas da oferta e demanda. O resultado do 4º trimestre traz um dado preliminar do ano fechado.
O PIB anual definitivo é apresentado quase 24 meses após o fim do ano (o dado definitivo de 2020 será conhecido em novembro de 2022) e traz também a ótica da renda (soma das remunerações do trabalho e capital, que mostram como cada parte se apropriou da riqueza gerada).